Vida nova: ex-usuário de drogas passa em concurso público em Cotia

“Não desejo o que passei para meu pior inimigo. Viver nas drogas é a pior coisa da vida”, disse Gilberto Pereira da Silva, 43, morador do Centro Pop de Embu das Artes e ex-usuário que agora inicia uma nova etapa na vida: iniciar como concursado na Prefeitura de Cotia como auxiliar de Serviços Gerais. “É uma alegria sem tamanho”, contou à reportagem.

Gilberto veio da Bahia para São Paulo em 1991, com uma certidão de nascimento, uma carteira de trabalho e vontade de vencer, bagagem de milhares de migrantes que, assim como ele, carregam o sonho de vencer na vida. Veio o trabalho e, com ele, o dinheiro que possibilitava ao jovem frequentar festas e baladas. Em 1997, conheceu o mundo das drogas e  acabou entrando no vício. Ao todo, foram 15 anos de uso diário de maconha, cocaína e crack. Perdeu o emprego, a casa, os amigos, a esposa e o convívio com as filhas.

No auge da loucura, passou a morar embaixo de um dos pontilhões da Raposo Tavares. Conviveu com outros dependentes, passou frio, fome e preconceito. Até que resolveu mudar de vida: “Nunca mais esqueci como me senti. Estava cansado de não ser ninguém, de usar aquilo. Pensei comigo ‘chega disso’. Saí, comprei algumas pedras e fumei pela última vez”, contou.

Procurou auxílio em igrejas, em postos policiais, em clínicas. Uma senhora, conhecida há anos, sugeriu que buscasse auxílio na Unidade Básica de Saúde do Parque São Jorge, na altura do Km 18 da Raposo Tavares. Gilberto conta que a assistente social que o atendeu ficou mais de três horas ao telefone, procurando auxílio em algum lugar que pudesse recebê-lo: “Tinha pressa”, contou.

Foi assim que ele chegou ao Creas – Centro de Referência Especializado de Assistência Social de Embu das Artes. De lá, foi encaminhado para tratamento no Caps 2. “Passei em consulta com um médico e ele me disse que se ficasse 90 dias sem usar nada, estaria muito perto da cura. Foram os piores dias da minha vida”.

Para conhecer o Centro Pop, para pessoas em situação de rua, foi um pulo. Lá foi acolhido e começou a estudar pelo Mova – Movimento de Alfabetização de Adultos, coordenado pela Secretaria de Educação e que tem por objetivo assegurar a todos os jovens e adultos o direito à escolaridade, combatendo o preconceito em relação ao analfabeto, incluindo-o no campo dos direitos. Além disso, tem como perspectiva motivar os educandos para a continuidade dos estudos, no ensino supletivo ou regular. Após um ano de Mova, iniciou estudos na E.E. MOSC em 2013 no 6º ano e se forma no 9º ano em dezembro.

“Estou feliz demais e agradecido com toda a oportunidade que a Prefeitura de Embu das Artes me deu, ao Alessandro, a Raquel e a professora Luciana do Centro Pop. Hoje sou um cidadão renovado e incluso novamente na sociedade. Voltei a ser o Gilberto. Mas não quero parar por aí. Vou continuar a estudar e fazer uma faculdade no futuro de educação física ou de serviço social. Estou orgulhoso de ter passado no concurso, mas quero mais, vou prestar um novo concurso se Deus quiser, além de, futuramente, dar palestras sobre o que vivi”, afirmou.

Foto: Everaldo Silva – Por Secom Embu das Artes