Vacina contra coronavírus será testada em SP; saiba quem pode ser voluntário

A vacina contra o coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford, será testada em dois mil brasileiros durante três semanas, em testes conduzidos em São Paulo e Rio. O Brasil é o primeiro país fora do Reino Unido que vai começar a testar a eficácia da imunização contra o vírus.

Em São Paulo, os testes em mil voluntários serão conduzidos pelo Centro de Referência para Imunológicos Especiais da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo, com financiamento da Fundação Lemann.

Os participantes deverão serão submetidos a testes para confirmar que não foram infectados pelo coronavírus para poder seguir com o experimento.

Poderão se inscrever como voluntários profissionais da saúde que atuam na linha de frente de combate ao coronavírus, além de adultos entre 18 e 55 anos que também trabalhem em ambientes de alto risco para exposição ao vírus.

A Unifesp especificou por meio de um comunicado, que motoristas de ambulâncias, seguranças que trabalhem em hospitais e agentes de limpeza de hospitais também poderão se inscrever. Entretanto, a entidade esclareceu que ainda não foi iniciado o processo de recrutamento.

Um ano de acompanhamento

O pesquisador explicou que após as primeiras três semanas, os voluntários serão acompanhados por sua equipe durante um ano. Neste período irão por cinco vezes ao centro de investigação onde passarão por consultas, terão o sangue coletado e serão examinados para possíveis efeitos colaterais.
A vacina usa apenas parte da proteína que reveste o material genético do vírus, e não o vírus em si, e por isso não há o risco da duplicação do corona no paciente.

Vacina e placebo

Para ser um estudo válido há uma série de protocolos e regras que devem ser seguidos por todos os centros de investigação. Entre eles está o uso de placebo em parte dos voluntários, o que significa que nem todos receberão, num primeiro momento, essa dose da vacina contra o vírus.

Dos dois mil participantes do estudo no Brasil, a metade deve receber uma dose única da vacina ChAdOx1, desenvolvida pelos pesquisadores de Oxford. Enquanto que a outra metade dos envolvidos nos testes serão vacinados com um placebo.

Aprovado pela Anvisa

Para ser conduzido no Brasil, o procedimento foi aprovado pela Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, com o apoio do Ministério da Saúde. Os voluntários serão pessoas na linha de frente do combate ao coronavírus, com uma chance maior de exposição ao vírus. Eles também não podem ter sido infectados em outra ocasião. Os resultados serão importantes para conhecer a segurança da vacina.

Testes já começaram no Reino Unido

Com a previsão otimista de ficar pronta ainda em 2020, a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford ofereceu proteção em um estudo pequeno com seis macacos, resultado que levou ao início de testes em humanos no final de abril.

Em humanos, os testes têm apenas 50% de chance de sucesso. Adrian Hill, diretor do Jenner Institute de Oxford, que se associou à farmacêutica AstraZeneca para desenvolver a vacina, disse que os resultados da fase atual, envolvendo milhares de voluntários, podem não garantir que a imunização seja eficaz e pede cautela.

A vacina já está sendo aplicada em 10 mil voluntários no Reino Unido. A dificuldade para provar a possível eficácia está no fato de os cientistas dependerem da continuidade da circulação do vírus entre a população para que os voluntários sejam expostos ao coronavírus.

A busca pela vacina

Para chegar a uma vacina efetiva, os pesquisadores precisam percorrer diversas etapas para testar segurança e resposta imune. Primeiro há uma fase exploratória, com pesquisa e identificação de moléculas promissoras (antígenos). O segundo momento é de fase pré-clínica, em que ocorre a validação da vacina em organismos vivos, usando animais (ratos, por exemplo). Só então é chegada à fase clínica, em humanos, em três fases de testes:

-Fase 1: avaliação preliminar com poucos voluntários adultos monitorados de perto;
-Fase 2: testes em centenas de participantes que indicam informações sobre doses e horários que serão usados na fase 3. Pacientes são escolhidos de forma randomizada (aleatória) e são bem controlados;
-Fase 3: ensaio em larga escala (com milhares de indivíduos) que precisa fornecer uma avaliação definitiva da eficácia/segurança e prever eventos adversos; só então há um registro sanitário.

Depois disso, as agências reguladoras precisam aprovar o produto, liberar a produção e distribuição. Das dez vacinas em testes em fase clínica, algumas aparecem em estágio mais avançado, como a desenvolvida por Oxford, em fase 3.

A vacina do Reino Unido é produzida a partir de um vírus (ChAdOx1), que é uma versão enfraquecida de um adenovírus que causa resfriado em chimpanzés. A esse imunizante foi adicionado material genético usado para produzir a proteína Spike do corona (que ele usa para invadir as células), induzindo a criação de anticorpos.

A empresa AstraZeneca fechou com EUA e Reino Unido para cuidar da produção em escala mundial. O CEO da farmacêutica disse à rede britânica BBC, no domingo (31), que a população pode ter acesso a 100 milhões de doses da vacina já em setembro.

Por Fabio Manzano, G1