Sabe o que é síndrome de Burnout? Cotianos contam seus dramas com esta doença

A síndrome de Burnout é um estado físico, emocional e mental de um esgotamento profissional extremo, é o resultado de um estresse crônico no local de trabalho. É como conta a psicóloga Fernanda Piva, colunista de psicologia no Jornal Cotia Agora e com consultório na Granja Viana.

Segundo ela, normalmente ocorre com pessoas que trabalham diariamente sobre pressão e excesso de responsabilidade constante, que normalmente tem uma carga horária puxada, problemas no ambiente de trabalho, excesso de cobranças, pressão com metas, é comum em profissionais da área da saúde, professores, policiais, jornalistas.

O trabalho gera um estresse tão grande que quando o indivíduo percebe , não consegue mais produzir, quanto maior o sofrimento, mais indiferente ao trabalho, o profissional se torna.

Hoje em dia, está se tornando um problema muito comum, inclusive em nosso mercado de trabalho.
Tanto que a síndrome de burnout recentemente foi oficializada pela OMS – Organização Mundial da Saúde como uma síndrome crônica e deve entrar em vigor a partir de janeiro de 2022 na nova classificação internacional de doenças (CID -11).

Os sintomas de início começam com a apresentação de uma hiperprodutividade, a pessoa começa a trabalhar em excesso e deixa de lado o lazer, começa a focar somente no trabalho. Depois surge uma impaciência e irritabilidade, o indivíduo começa a ser ríspido com os demais e surgem sintomas físicos como insônia, palpitações, falta de ar, ansiedade, angústia diária.

Logo ocorre exaustão e apatia, a energia cai, e ocorre o esgotamento físico e mental. O indivíduo sente muito cansaço, apresenta lentidão de raciocínio, apatia, tristeza, necessidade de isolamento, e pode apresentar alguma dependência para compensar essa exaustão.

Esses sinais podem indicar um excesso de trabalho nocivo que não está contribuindo para sua saúde emocional.
Existem fatores que roubam a energia e são capazes de levar a síndrome de burnout, entre eles:

-Falta de reconhecimento no trabalho,
-Falta de cooperação entre a equipe
-Pessoas perfeccionistas e competitivas
-Falta de propósito no trabalho

Para se proteger contra a síndrome de burnout, você pode seguir algumas dicas:
-Descansar, se envolvendo em algo estimulante, por exemplo , praticar alguma atividade física
-Ter um sono de qualidade
-Uma alimentação saudável
-Momentos de lazer com família e amigos que te fazem bem
-Técnicas de relaxamento

Se você estiver suspeitando que esteja sofrendo de síndrome de burnout ou conhecer alguém que esteja passando por isso, busque ajuda profissional.

Medo, depressão e afastamento do trabalho. Veja relatos de pessoas de Cotia sobre a síndrome

Como relatado acima pela Fernanda Piva, a síndrome de Burnout causa diversos transtornos às pessoas, que muitas vezes não sabem que estão passando pelo problema e, na hora que procuram auxílio, descobrem o que tem.

Conversamos com duas mulheres, moradoras de Cotia e que estão sob tratamento. Os relatos de ambas mostram que, além de atrapalhar a vida profissional, também reflete no pessoal e a família acaba sendo afetada.

É o caso de Deiviani Albuquerque, que trabalha em uma empresa de contabilidade. No caso dela, um cliente reparou que ela estava muito irritada nos últimos tempos e a aconselhou a procurar ajuda. Foi um baque para ela, que já estava com os sintomas, mas não tinha nem ideia sobre a síndrome. A doença lhe causou problemas no trabalho e ainda pôs fim a um casamento de mais de 10 anos. Ela está se tratando com uma terapeuta, um personal trainer e um nutricionista. Já sentiu mudanças, principalmente na questão psicológica e no corpo, já que perdeu 28 quilos na academia e sua auto estima se elevou. Ela conversou com o Jornal Cotia Agora, e abaixo relatamos um trecho de seu depoimento:

Tudo começou quando um cliente percebeu que eu não estava legal, principalmente pelos meus posts nos status do WhasApp, ele me chamou e perguntou se eu não estava bem, e eu disse que não estava mesmo, tinha vontade de pegar o carro e sair sem rumo. Daí ele indicou uma terapeuta e eu marquei com ela, na primeira sessão chorei das 8h30 às 11h, contando tudo o que eu sentia, tanto profissional quanto pessoal. Daí veio o diagnóstico de que eu tinha síndrome de Burnout. Antes disso eu já tinha ido ao pronto socorro duas vezes, com picos de pressão alta, que chegou a 22, o que já é um sintoma de que você está no extremo do cansaço.

Precisei de ajuda de alguém de fora para cair na real de que eu não estava bem. Isso já havia refletido na minha vida pessoal e fez acabar meu casamento, pois eu descontava minha raiva no meu marido e nos meus dois filhos. Eu chegava em casa, brigava, tomava um banho e já ia me deitar, não queria contato com ninguém, não sentava conversar com meus filhos.

Eu venho fazendo tratamento há dois meses para trazer o meu equilíbrio. Eles queriam me afastar do trabalho, mas eu me recusei e passei a fazer o tratamento toda semana com a terapeuta. Não precisei passar pelo psiquiatra, por causa das atividades que tenho feito, além da terapia, a academia e também a reeducação alimentar, onde já perdi 28 quilos e consigo manter este equilíbrio, tanto emocional quanto físico. Tenho o apoio da terapeuta Thays Giuliano, do personal Fernando César Cunha e do nutricionista Alan David Nicolau, sem eles eu não conseguiria sozinha.

Hoje não me preocupo mais como antes. Eu segurava muitos meus problemas para mim, hoje consigo compartilhar e isso tem me ajudado. Tenho consciência que não há um prazo para eu ter alta do tratamento. Sei que depende muito de mim também para sair desta situação, não adianta os profissionais me darem alta e eu não estar bem, ter que voltar e começar tudo do zero. Acho que mais uns quatro meses e eu estarei 100% bem. O meu momento vai chegar”.

Deiviani acompanhada do nutricionista Alan e do personal Fernando

Excesso de trabalho e incerteza do futuro

Trabalhar mais de 12 horas por dia é uma necessidade de muitos brasileiros, principalmente para complementar a renda familiar, mas e quando a ambição acaba atrapalhando e leva uma pessoa a ficar doente, é para se preocupar.

Este é o caso de Fabiana, uma jovem moradora de Cotia e que tinha dois empregos, meio período em uma agência de viagens e meio em um bar, todos em São Paulo. Eram mais de 12 horas de trabalhos diários e ainda ter de voltar para Cotia, pegar ônibus, trânsito, barulho, calor, estresse, até que “surtou”, como ela mesmo diz. Confira o relato:

Em 2018 eu comecei a trabalhar nessa agência no Itaim, só que o meu salário mal dava para pagar minhas contas e por sorte eu moro com meus pais e não precisava ajudar em casa. Mas, como era meio período, das 8h às 13h, o salário era baixo e eu precisava ganhar mais, queria ter dinheiro para comprar as coisas, queria ter um carro. Até que uma amiga falou de um bar que havia inaugurado há uns quarteirões ali mesmo no bairro e precisava de funcionários com experiência. Eu já tinha feito uns bicos em bares de Pinheiros e resolvi me candidatar a uma vaga. Consegui e meu horário de trabalho era das 15h às 22h. Sabia que ia ser puxado, mas no final do mês ia dar uma grana legal, até por que tem gorjetas, etc. Consegui ficar quatro meses assim. De segunda a sexta eu acordava às 6h, saia de Cotia às 6h30, entrava na agência às 8 e saia às 13h. Como só entrava às 15h no bar, essas duas horas eu comia e descansava em um shopping perto. Daí saia do bar às 22h e chegava em casa umas 23h30. Era tempo de tomar banho e dormir. No final de semana eu só trampava no bar, então ganhava umas horinhas, mas era muito cansativo, até que comecei a ficar irritada, descontava nas pessoas, era advertida pelos meus dois patrões, que foram muito pacientes comigo por um tempo, mas chegou uma hora que surtei no meio do expediente e saí andando pelas ruas. Não me lembro de quase nada, só de ter sido resgatada quase um quilômetro longe do bar e acordei em um pronto socorro. Estava no soro, grogue e sem saber o que tinha acontecido. Estava sem documentos, tinha deixado na minha bolsa no bar. Por sorte minha camiseta tinha o logo do bar e o pessoal ligou para lá. A esposa do dono veio me ver e amparar. No pronto socorro uma enfermeira me aconselhou a procurar ajuda psicológica. O médico disse que era sinal claro de estresse. Ganhei uns dias de folga nos empregos e procurei ajuda profissional e fui diagnosticada com a síndrome de Burnout. Nunca tinha ouvido falar disso. Passei a ter acompanhamento de um psiquiatra, meu pai me ajudou a pagar as consultas, mas chegou uma hora que a grana estava curta e consegui um tratamento pelo Sus. Já estou há quatro meses fazendo tratamento. Deixei o emprego na agência e hoje estou no bar, consegui um aumento de salário por causa da minha dedicação. Me mudei temporariamente pra São Paulo, no apartamento de uma colega de trabalho e tenho mais tempo para dormir, faço caminhadas pelas ruas do bairro e quero voltar a estudar. Acho que o momento mais difícil passou, mas é como um vício em drogas, sempre temos que ficar alertas para não voltarmos ao velho problema”.