Psicóloga Maristela Guadagnin: Infância e Telas! Como criar crianças na era digital

Não há dúvidas de que a tecnologia mudou as nossas vidas e está aí para ajudar e facilitar nosso cotidiano. No entanto, nosso desafio maior é fazer este avanço trabalhar a nosso favor. Sou da opinião de que não temos que excluir celulares, tablets, streaming e sim encontrar maneiras saudáveis e equilibradas de integrá-los em nossas casas para que não venha a se tornar um problema.

Diariamente atendo pais angustiados com o tempo que seus filhos passam em frente de uma tela (tablet, celular, televisão e vídeo game). Muitos não sabem o que fazer para solucionar o problema e tem dúvidas dos prejuízos que o tempo de tela traz para o desenvolvimento infantil. Como profissional e mãe percebo que em muitos ambientes a brincadeira passou de uma experiência física e criativa para se sentar em frente a televisão por horas. E me pergunto, onde fica a imaginação das crianças visto que as telas entregam conhecimento de modo que as crianças não precisam procurá-lo por conta própria? Descobrir “algo” é uma parte importante do aprendizado além de ensinar às crianças a ter paciência e determinação para chegar ao fim.

É comum ver crianças que possuem dificuldades em seus marcos do desenvolvimento por causa da dependência dos aparelhos digitais, por ficarem muito tempo sentada as habilidades motoras são prejudicadas, apresentam dificuldade de atenção e como não precisam interagir, muitas apresentam atraso na fala e prejuízos na socialização.

A infância caracteriza-se por modificações biológicas e psicossociais, que permitem aquisições importantes nos domínios motor, afetivo-social e cognitivo do desenvolvimento. Desta forma, o ambiente exerce grande influência por inter-relacionar de maneira constante e dinâmica com os fatores intrínsecos à criança. Portanto é extremamente importante oportunizar a criança, vínculos afetivos saudáveis, espaço adequado para a liberdade de movimento, brincadeiras livres e disponibilidade de brinquedos e/ou materiais de aprendizagem, entre outros fatores.

A Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um novo manual em 2020 com as seguintes orientações: A primeira recomendação é que crianças de até dois anos não devem ser expostas a telas nem de maneira passiva. Já crianças com idades entre dois e cinco anos podem por até uma hora por dia e as crianças entre 5 e 10 anos podem até duas horas por dia, lembrando que sempre com supervisão. A SBP também frisa a importância de não utilizar aparelhos eletrônicas durante as refeições e de desligar os aparelhos pelo menos duas horas antes de dormir. Estudos já comprovaram que a luz de led emitida pelos dispositivos eletrônicos reduz a melatonina (hormônio do sono) e prejudica a qualidade do sono o que pode trazer implicações para o crescimento e desenvolvimento infantil.

Para falar no tempo de tela das crianças, é preciso pensar no tempo em que os adultos utilizam. Geralmente após um longo dia de trabalho, em uma tentativa de descanso chegamos em casa e ficamos hipnotizados pela televisão e pelo celular e muitas vezes nem olhamos para o lado. Uma dúvida por vezes incomoda surge: —Como podemos cobrar algo das crianças se nós mesmos não limitamos nosso tempo nos eletrônicos? Como diz um antigo provérbio: “As palavras ensinam, mas o exemplo arrasta”. Convido você caro leitor ir até a configuração do seu celular nesse momento e verificar o seu tempo diário de uso. O que descobriu?

Para ajudar você a controlar o tempo de uso de tecnologias que representam fatores de risco ao desenvolvimento infantil, listei algumas ações práticas:
• Seja exemplo: pouco adianta limitar o período de tela por idade se os adultos estiverem o tempo todo com o celular;
• Proponha alternativas: substitua o uso de recursos digitais por brincadeiras ou a prática de atividades físicas;
• Esteja atento: monitore os sites e redes sociais que eles visitam e verifique os riscos;
• Tempo de qualidade: Passe tempo com a criança sem interferência de eletrônicos, sente no chão, brinque, ria, cozinhe junto, viva a beleza do mundo real;
• Estabeleça critérios: Nada de eletrônicos durantes as refeições ou antes de dormir e quem sabe criar um dia sem tecnologia!

*Maristela Cristina Bedinotti Guadagnin (CRP. 06/107985) é Psicóloga e Psicopedagoga e escreve no Jornal Cotia Agora. Pós graduada em Psicodiagnóstico e Avaliação Psicológica. Atua na área clínica desde 2012, realiza atendimentos presenciais e online, oficinas das emoções, orientação parental, palestras e workshops. É coautora dos livros “Relações: Conversando sobre a arte de relacionar-se” pela editora APMC e do livro: “Falando abertamente sobre a adolescência” pela DaPauta Editora.
Telefone: (11) 9-7082-1559 – Instagram: @psicomaristelaguadagnin