Psicóloga Ana Paula Durães aborda a “depressão” em sua coluna quinzenal

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O termo depressão, na linguagem corrente, tem sido empregado para designar tanto um estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome e uma ou várias doenças.

Enquanto sintoma, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos, entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a situações estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas.

Enquanto síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite).

Finalmente, enquanto doença, a depressão tem sido classificada de várias formas: transtorno depressivo maior, melancolia, distemia, depressão integrante do transtorno bipolar tipos I e II, depressão como parte da ciclotimia, etc.

DIFERENÇA ENTRE TRISTEZA E DEPRESSÃO

Muitas pessoas afirmam que depressão é tristeza, pois bem depressão não é apenas uma tristeza, mas sim uma doença que precisa de tratamento. Cerca de 18% das pessoas vão apresentar depressão em algum período da vida. Quando o quadro se instala, se não for tratado convenientemente, costuma levar vários meses para desaparecer. Transmissão do impulso entre os neurônios, os neurotransmissores, vão modular a passagem do estímulo representado por sinais elétricos. Na depressão, há um comprometimento dos neurotransmissores responsáveis pelo funcionamento normal do cérebro.

Existem muitos questionamentos sobre, tristeza e depressão. Qual a diferença entre elas?

Tristeza é designada como um fenômeno normal que faz parte da vida psicológica de qualquer pessoa, já a depressão é denominada como um estado patológico. Existe diferença bem demarcada entre elas. A tristeza tem duração limitada, já a depressão costuma afetar a pessoa por mais de 15 dias. Podemos ficar tristes porque alguma coisa negativa aconteceu em nossas vidas, mas isso não nos impede de reagir com alegria se algum estimulo agradável aparecer. Além disso, a depressão causa alguns sintomas como desânimo falta de interesse por qualquer atividade. É um transtorno que pode ou não vir acompanhado do sentimento de tristeza.

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SINTOMATOLOGIA DA DEPRESSÃO

Sintomas mais característicos de um quadro depressivo, ou o mais evidente seja o humor depressivo, que se caracteriza por tristeza e melancolia, acompanhado por falta de ânimo e de disposição, incapacidade de sentir prazer em atividades habitualmente agradáveis, alterações do sono e do apetite, pensamentos negativos, desesperança, desamparo.

Em muitos casos os depressivos demoram um tempo para reconhecerem alguns desses sintomas, com isso os familiares podem ter um papel fundamental para ajudar a identificar o comportamento depressivo. O deprimido apresenta mudanças de atitudes, porque ele deixa de ser o que era, deixa de sentir alegria, apresenta queda de desempenho e passa a agir de forma diferente do habitual.

Infelizmente muitas pessoas relutam por tratamento, pois custam a identificar como anormal o que estão sentindo. É absolutamente normal atribuírem depressão a um mau momento da vida ou a relacionam com um obstáculo que poderá ser transposto sem dar-se conta que estão doentes e que existe tratamento capaz de melhorar sua qualidade de vida.

DOENÇA PREVALENTE NAS MULHERES

Mulheres passam por vários processos hormonais durante a vida: o início dos ciclos menstruais, a gravidez, o parto e, por último, a menopausa. Tudo isso implica alterações na produção dos hormônios sexuais femininos e torna a mulher mais vulnerável. Tanto é assim que no período da gravidez, do parto e da perimenopausa, a depressão ocorre com maior frequência. Após a menopausa, a relação da incidência entre homem e mulher tende a igualar-se, pois nessa fase cessam essas flutuações hormonais femininas.

DEPRESSÃO PÓS-PARTO

Existem duas posições no pós-parto. A primeira é um estado leve de melancolia que dura de cinco a sete dias e não traz grandes consequências nem para as mães nem para as crianças. A outra é a depressão pós-parto propriamente dita, uma manifestação mais grave, porque compromete a mulher e sua visão de mundo e favorece o risco de um infanticídio. É um caso tão sério que o código penal não o reconhece como crime, pois considera que a mulher perdeu a crítica e o ajuizamento da realidade.

DEPRESSÃO NA MENOPAUSA

A menopausa também é um período de risco de depressão para as mulheres. É um fenômeno relacionado com a perda da capacidade reprodutiva e com as mudanças hormonais do sexo feminino.

DEPRESSÃO NOS HOMENS

Nos homens, a depressão é mais frequente no final da adolescência e início da vida adulta. Pode-se dizer que o pico da incidência da doença ocorre dos 18 aos 30, 40 anos, justamente na fase mais produtiva do indivíduo.

DURAÇÃO DO TRATAMENTO

Sabemos que a doença tende a ser recorrente em mais ou menos metade dos pacientes. Quem já teve um quadro de depressão tem 50% de possibilidade de ter outro. Para quem já teve dois episódios, o risco aumenta para 70% e, para quem teve três, sobe para mais de 90%. Portanto, alguns pacientes precisarão tomar medicamentos durante anos e outros, pela vida toda com o intuito de prevenir a recorrência. Para esses pacientes, o acompanhamento psicológico e uma boa relação médico-paciente são fundamentais para a adesão e sucesso do tratamento.

Junto com tratamento psicológico e medicamentoso, atividades físicas também ajuda bastante, pode ser um componente importante para alcançar resultados satisfatórios no tratamento.

POSSIBILIDADES DE PREVENÇÃO

Não existe receita básica, mas todos podemos contar com ajuda para conseguir uma qualidade de vida satisfatória. Depois, é preciso desenvolver a capacidade de enfrentar e resolver problemas, dificuldades e conflitos. Tanto isso é possível que apenas 18% da população apresenta quadros depressivos ao longo da vida. Problemas todos temos. É necessário, dentro das possibilidades, aprender a lidar com eles e a não deixar que nos abalem demais.

Referência:

WANDERLEY, A. A. R. A distimia e a construção do indivíduo insuficiente: um estudo sobre a depressão na contemporaneidade. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000. ZARIFIAN, É. Um diagnóstico

*Ana Paula Durães Pereira (CRP 06/131987) é psicóloga e escreve quinzenalmente no Jornal Cotia Agora. Atendimento em psicologia cognitivo comportamental, de segunda a sábado. Consultório: Avenida Eid Mansur, 811 – piso superior – Parque São Jorge, Cotia. Telefones: (11) 9-8259-8254 (Tim), 2690-2477, 4703-4466