Psicóloga Adriana Biem: O que você faria se sentisse menos culpa?

Parece que vivemos de uma forma que a culpa está sempre nos rondando. Estamos ali, parados, sem praticamente pensar em nada, naqueles poucos momentos de relaxamento real em nossas vidas e de repente, sem avisar, ela chega e chega chegando, toma conta de tudo e sempre dá a impressão que veio para ficar, sem pressa de ir embora.

E por que será que sentimos tanta culpa? Por que será que de uma forma ou de outra estamos sempre pensando no que fizemos de errado ou no que deixamos de fazer ao invés de somente ficarmos felizes por nossas realizações e conquistas? Por que pensamos sempre mais no que não fizemos do que no que fizemos?

Ficamos estagnados na falta ao invés de ficarmos satisfeitos com os ganhos, e essa eterna insatisfação gera mais e mais sentimentos de culpa.

Culpa de comer demais, culpa de gastar naquela roupa que tanto queríamos, culpa de acordarmos tarde, culpa de faltarmos na academia, e a pior de todas, que é a culpa por nada, a culpa que não sabemos nem de onde vem, mas está ali, pronta para invadir nossos pensamentos.

Quando vivemos sentindo culpa, temos que pensar se estamos exigindo demais de nós mesmos, se a cobrança para fazermos tudo certo não está pesada demais. Quando exigimos de nós a perfeição, não admitimos erros.

O mundo atual acaba por vezes contribuindo para isso, por nos mostrar vidas que parecem tão perfeitas através das redes sociais e exposição demasiada do dia a dia de todo mundo. Parece que todos dão conta de tudo, trabalham todos os dias e ainda tem tempo de ir ao cinema assistir àquela estreia esperada, jantar fora no restaurante de moda, correr pelo menos 10 quilômetros diários, viajar para os lugares mais desejados e ainda cuidar dos filhos, tendo que proporcionar à eles sempre passeios sempre bem divertidos. Às vezes estão na balada bebendo lindos drinks e no dia seguinte ao invés de ter ressaca e olheiras, estão com seu personal trainer e foco na dieta.

O mundo realmente anda exigindo demais de nós e quando acreditamos na perfeição da vida alheia, exigimos o mesmo de nós e ficamos arrasados ao perceber que não damos conta de tantas coisas.

A culpa ainda pode ser uma forma de centralizarmos e controlarmos as coisas, acreditando que as coisas que acontecem são de nossa inteira responsabilidade, dessa forma, acabamos por nos considerar mais significantes, o que para muitos é muito satisfatório, nos sentimos meio onipotentes, achando que sem nós as coisas seriam bem piores. É uma forma de nos sentirmos importantes.

Quando temos excesso de culpa, o perigo é deixar de sermos nós mesmos, para nos tornarmos críticos de quem podemos ser, ficamos com a sensação de dívida eterna e impagável com o outro e com o mundo.

Por mais que a culpa incomode, não devemos negar que a sentimos. Aceitar a culpa, tentar entender os porquês de nossas cobranças é extremamente importante para nos conhecermos melhor e sabermos quais pontos de nossa existência ainda não estão muito bem resolvidos, onde podemos melhorar e crescer e também entender onde a culpa está sendo impeditiva de realizarmos o que desejamos.

E você, o que faria se sentisse menos culpa?

*Adriana Cardoso BiemPsicóloga Clínica, especialista em Gestalt-Terapia, escreve quinzenalmente no Jornal Cotia Agora. Formada pela Universidade São Marcos, especialista pelo Instituto Sedes Sapientiae. Atende em Alphaville (Barueri/SP) e Granja Viana (Cotia/SP) –CRP 06/80681  – Contatos: [email protected] –  www.facebook.com/adrianabiempsicologa – @adrianabiempsi (Instagram)