PF investiga o financiamento do aeroporto de São Roque
A Polícia Federal (PF) deflagrou na terça-feira (16) a 6ª fase da Operação Acrônimo, que investiga suposto esquema de tráfico de influência para empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Foram cumpridos mandados de busca e apreensão e condução coercitiva em São Paulo e em Minas Gerais. Em São Paulo, o foco da operação foi a obra de construção do São Paulo Catarina Aeroporto Executivo, em São Roque, que foi financiada com recursos do órgão e tem como responsável pelo empreendimento a JHSF.
A empresa, que possui escritório em São Paulo, informou, por meio de nota, que a mesma foi alvo de busca pelos policiais federais na manhã de ontem, mas não disse se foram levados documentos ou outros objetos.De acordo com as investigações da Operação Acrônimo, em depoimento de delação premiada, o empresário Benedito Oliveira Neto, conhecido como Bené e ex-chefe de gabinete da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), disse que o grupo JHSF teria pago ao ex-ministro Fernando Pimentel, e atual governador de Minas Gerais, cerca de R$ 5 milhões em propina em troca do lobby feito junto ao BNDES para que conseguisse financiar o projeto da construção do aeroporto.
A assessoria de imprensa da JHSF informou, por meio de nota, que “não está envolvida em qualquer ilícito e sempre obedeceu a legislação vigente”. A empresa alega ainda que, “por meio de seus advogados, prontificou-se a colaborar com as investigações de todas as formas possíveis”. E que, “apesar disso, deu-se hoje (ontem) uma busca e, uma vez mais, a empresa reafirma sua disposição de colaborar com as investigações, até porque é a maior interessada no esclarecimento dos fatos, a fim de demonstrar a sua lisura”, conclui a nota.
A assessoria de imprensa da Polícia Federal em São Paulo confirmou a operação, mas informou que não iria se pronunciar a respeito porque o processo se encontra em segredo de justiça e que os mandados foram autorizados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Em março de 2015, segundo notícia divulgada pela Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade (Investe SP), a JHSF assinou contrato de empréstimo com o BNDES no valor de R$ 75 milhões, sendo que no total o projeto poderia receber até R$ 390 milhões.
O BNDES informou, por meio de nota, que o Conselho de Administração do órgão, do qual o governador Fernando Pimentel ocupou a presidência, no período de janeiro de 2011 a fevereiro de 2014, não participa de decisões sobre as operações do banco, e que os financiamentos do BNDES seguem todos os critérios impessoais de análise comuns ao banco, com a participação de dezenas de técnicos concursados e órgãos colegiados, além da exigência de garantias sólidas.
Em obras
Com previsão de entrega em junho último, o São Paulo Catarina Aeroporto Executivo, porém, continua em obras. E desde o anúncio de sua construção (janeiro de 2014), o empreendimento encontrou forte resistência de moradores do condomínio Morada do Sol, que fica ao lado, segundo os quais o projeto deverá provocar impacto ambiental. A previsão é de que o aeroporto seja inaugurado até dezembro, mas a assessoria de imprensa da JHSF disse que a empresa não falaria sobre data de inauguração.
O assunto foi discutido em ações judiciais, mas a JHSF alegou que todas as licenças já foram requeridas e seguem o trâmite normal de obtenção. O processo de internacionalização do aeroporto também está em estágio avançado, informou a empresa ao Cruzeiro do Sul em janeiro deste ano. A construtora também negou que entraves ambientais possam comprometer a operação do aeroporto. O comunicado encaminhado ao jornal naquela ocasião informou que todas as determinações dos órgãos competentes foram cumpridas desde o início das obras e todo o trabalho é monitorado. A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente foi questionada sobre o cumprimento legal das licenças ambientais, mas não respondeu à reportagem.
Por Ana Cláudia Martins – Jornal Cruzeiro do Sul