Peugeot quer virar o jogo no Brasil com o SUV 2008

Era uma vez um carro chamado 206. Com seu estilo inconfundível, ele acabou com a mesmice que pairava sobre os hatches compactos. Virou objeto de desejo no mundo e chegou ao Brasil no final dos anos 90, passando a ser fabricado aqui logo em seguida, em 2001.

Era uma vez um carro chamado 207. Mas o ‘número’ não batia com o que o público esperava. Em vez de um modelo novo, idêntico ao europeu, um tapa no visual do 206, contrariando justamente o diferencial da Peugeot, de ter veículos com padrão mundial.

As duas histórias acima explicam em parte porque a Peugeot, de marca consagrada e desejada no Brasil, virou uma figurante no mercado atualmente. Há dez anos, ela possuía pouco mais de 3% de participação no mercado e agora mal supera 1%. Na prática, a Peugeot não acompanhou o imenso crescimento da clientela de veículos novos no país. Enquanto as vendas em geral aumentaram 120% nesse período, a Peugeot vende hoje menos carros do que naquela época.

Franqueza

“Erramos”, reconhece o atual diretor geral da Peugeot no Brasil, o chileno Miguel Figari, que assumiu o cargo no meio de 2014. “Em vez de chamarmos a evolução do 206 nacional de 206 Plus decidimos batizá-lo de 207. Isso, é claro, desagradou nossos clientes”, diz.

A franqueza e o reconhecimento que a marca precisa resgatar seus valores também são repetidos pelo presidente mundial da marca, Maxime Picat, que esteve no Brasil na época do Salão do Automóvel: “O cliente gosta de saber para onde a marca vai. Não adianta ser premium e depois mudar de rumo. Vamos trabalhar nos serviços, nos concessionários, não só no produto, mas em todos os eixos do negócio para reconquistar as pessoas”, explica.

A PSA, grupo ao qual pertence à Peugeot, passou por uma mudança crucial nos últimos tempos. Em crise, a holding, que também controla a Citroën, pretendia fechar fábricas e estava sem recursos para investir. A saída foi costurar uma associação com o governo francês e a montadora chinesa Dongfeng, que passaram a serem sócios da operação, juntamente com a família Peugeot.

“A Peugeot quer ser a melhor marca generalista no mundo e isso inclui o Brasil”, adianta Maxime, para explicar qual será a direção que a fabricante tomará daqui em diante.

2008 a caminho

A nova fase já está sendo implantada no Brasil desde a chegada do hatch 208, uma espécie de ‘mea culpa’ da Peugeot que trouxe o avançado modelo pouco meses depois de lançá-lo na Europa – ao contrário do fatídico 207 genérico. Mas o momento da virada ocorrerá mesmo com o 2008.

O SUV é um trunfo que recoloca a Peugeot no jogo mundial e no Brasil. Previsto para ser lançado entre o final de maio e começo de junho, o 2008 será produzido em Porto Real, no Rio de Janeiro, e deverá custar menos que os novos HR-V e Renegade, prestes a chegar ao mercado quase ao mesmo tempo que ele. Mais urbano que off-road, o modelo deve agradar famílias que buscam jipinhos com um visual mais sofisticado que bruto.

iG participou há alguma semanas de uma etapa de desenvolvimento do 2008, ainda com leves disfarces e sem as versões e conteúdo definidas. A impressão geral do carro foi muito boa.

Ao contrário de alguns SUVs, o 2008 é mais baixo e próximo de um carro de passeio. O visual externo, assim como o painel, são bem semelhantes aos do hatch 208, mas o SUV tem o teto mais elevado atrás, o que aumenta a sensação de espaço interno.

A Peugeot terá duas motorizações e transmissões para o modelo, o 1.6 16V de 122 cv já usado em vários outros modelos, e também o motor turbo THP 1.6 que agora é flex e dispõe de 173 cv. O modelo estreará com câmbio manual (5 marchas no aspirado e 6 no turbo) e também contará transmissão automática, mas apenas num segundo momento.

Entre os itens que chamam atenção no 2008 estão o teto solar panorâmico e a boa central multimídia, que corrigiu o único problema que possuía, a interface confusa, agora bem mais fácil de usar. O ar-condicionado de duas zonas e a precisa direção elétrica também fazem parte do pacote desde a versão mais simples.

A versão mais sofisticada Grife trará ainda o sistema Grip Control, uma alternativa para dar algum controle para o 2008 em pisos escorregadios já que a marca não venderá uma versão 4×4.

Sucesso europeu

A escolha de um SUV em vez de um sedã, como fizeram a Hyundai e a chinesa Chery, demonstra que a Peugeot quer recuperar o tempo perdido. O segmento de SUVs é o que mais cresce atualmente e o 2008, lançado na Europa no ano passado, já é hoje um dos mais vendidos no continente. Foram mais de 125 mil unidades em dez meses de mercado.

Os preços no Brasil, mantidos em sigilo, devem ficar entre R$ 65 mil e R$ 75 mil nas versões manuais, o que o coloca em linha direta com o EcoSport e o Duster.

A Peugeot, no entanto, tem o pé no chão em relação às vendas. A expectativa é que o 2008 venda algo como mil unidades por mês. Para uma montadora que emplacou 2,8 mil carros em janeiro, isso significa um aumento de vultosos 35%, mas os executivos da marca minimizam essa preocupação: “volume não é o mais importante. Vamos buscar a rentabilidade numa gama de produtos que o cliente está disposto a pagar por ele”, garante Figari.

Ele sabe que o grande desafio da empresa não está apenas no portfólio. A marca tem uma imagem arranhada em pós-venda, com falta de peças e atendimento ruim. Maxime resume a situação: “prioridade para nós é ter um bom posicionamento da marca, com qualidade em todos os níveis. O volume (de vendas) é consequência”.

Do iG