Marcus Nakagawa: Eu escolho uma profissão para sempre? Cinco respostas para refletir…

Era uma vez um médico que investiu mais de dez anos para se especializar em gastroenterologia. Estudou nas melhores escolas, melhores faculdades, melhores especializações e realizou um trabalho no exterior que acabou juntando com os seus estudos. Abriu um consultório com um amigo e iniciou sua carreira nesta especialidade. Sua família era toda de médicos e ele não podia quebrar a tradição, uma vez que já tinha herdado até pacientes.

Um belo dia este médico teve uma ideia de montar um negócio na área de alimentos, pois via que o grande problema de seus pacientes era a má alimentação.

Ficou pensando, pesquisou e viu que tinha várias formas de se trabalhar com este tema. Resolveu contar seus planos para a esposa que, por sua vez, tinha abdicado de sua vida profissional de dentista para cuidar dos quatro filhos. Ela quase surtou! Comentou que estavam num momento crítico de pagar a faculdade dos dois últimos e, quem sabe, depois ele poderia se aventurar numa nova jornada.

Quantas histórias como esta você já não escutou ou contaram para você? Quantos amigos que possuem uma vida estável, acostumados com um estilo de vida e que não querem alterar este modo de viver por uma aventura que salta aos olhos e ao espírito?

Pois é, vejo isso todos os dias com meus alunos de graduação, pós-graduação, empreendedores iniciantes e amigos próximos. Querendo mudar o estilo de vida, o emprego, a sua profissão. A impressão que tenho é que as pessoas cansam de fazer a mesma atividade, porém, em tempos de crises econômicas e políticas, morrem de medo de mudanças. E, assim, vão morrendo aos poucos por dentro…

Coloquei neste artigo cinco perguntas que mais escuto e cinco respostas para aumentar a reflexão e ampliar a percepção. Não gosto muito de “x passos para isso, três dicas para aquilo”, principalmente, quando as respostas podem variar de acordo com cada caso. Porém, aqui, é uma forma didática de sempre questionar o tema principal de planejamento de carreira e vida: que estilo de vida quero viver?

1. Quando estamos no começo da carreira a pergunta sempre é a mesma: será que aquele estágio ou aquela área que iniciarei meu trabalho me marcará para sempre? Será que é bom começar por lá?

E a resposta que sempre dou é: vai lá ver. Experimente, fique um tempo, construa relações. Veja como cada uma destas pessoas vive, qual o estilo de vida delas, qual a rotina, como elas fizeram para chegar lá. Com isso você acumula conhecimentos e padrões de comportamentos para ver se é isso que você buscará num futuro. Se não gostar do trabalho, fique mais um pouco, pois não é na primeira frustração ou não que você receber que tem que desistir. Depois de um período nesta área e, se mesmo assim você não gostar, agradeça e saia da empresa. Nunca é uma perda de tempo, pois é conhecimento acumulado e você já saberá em qual área não vai trabalhar mais e qual estilo de vida não terá. Por exemplo, numa empresa de eventos de casamento, festas familiares e afins, você terá que estar disponível quase todo o fim de semana.

2. Já estou cansado de ser assistente, quero gerenciar uma equipe, ter pessoas para comandar, aumentar as minhas competências de liderança. Como faço para o meus superiores entenderem isso? Será que eu mudo de profissão?

Você não precisa mudar de emprego ou profissão. Uma das estratégias para treinar este tipo de competência é buscar algo fora da empresa. Algo voluntário ou mesmo remunerado, porém esporádico. Que tal ser líder de um grupo de escoteiros? Ou montar um time de estudos e ações na sua ordem religiosa? Pois é, a liderança não necessariamente se aprende na escola ou na empresa. Muitas vezes em trabalhos voluntários, gestão de um grupo de amigos em uma viagem ou até dentro da sua família. Caso realmente haja uma necessidade, é o momento para refletir se você arriscará ou mudará seu estilo de vida por um novo emprego, uma nova área ou um negócio novo.

3. Estou cansado de fazer a mesma coisa. Já estruturei a minha área, o meu departamento, a minha loja, o meu negócio e agora quero alçar novos desafios. Qual caminho trilhar? Um novo emprego? Um novo negócio?

Esta fase é bem complicada mesmo, as conquistas começam a perder o sentido e muitas vezes a mesmice do dia a dia começa a atrapalhar. Tenho alguns amigos que estão nesta fase e buscaram outros desafios fora da profissão. Pois é, isso que gostaria de reforçar, muitas vezes as suas necessidades não necessariamente estão dentro do seu esforço de ganhar dinheiro, mas sim, nos momentos de lazer e tempo de qualidade. Muitos deles estão dedicando um tempo maior a um hobby que realmente os satisfaça e, às vezes, podem gerar até um recurso financeiro maior. Por exemplo, um colega que tem uma empresa e agora começou a dar coaching para executivos iniciantes, começou com alguns cafés informais e agora virou profissional, com hora marcada e tudo. Ou uma amiga que era executiva numa empresa famosa de tecnologia e começou a fazer doces de alta qualidade nos fins de semana e agora é o seu negócio. Não precisa largar tudo, tente conciliar a sua atual situação com umas “pitadas” desta sua “vontade reprimida”.

4. Quero largar o meu emprego e abrir um negócio, como faço? Será que este é o momento?

Puxa, realmente esta é a dúvida que mais tenho escutado atualmente. Será que é o momento? Você tem a expertise para este negócio? Já fez uma pesquisa de concorrentes? E de clientes? Para esta pergunta dá para escrever um livro, aliás, existem vários sobre o tema empreendedorismo. Sugiro realmente ler algum material a respeito, conhecer pessoas que são personagens do seu “sonho”, como fornecedores, clientes e outros que já passaram por isso. Se realmente estiver no mercado certo e no momento certo, é preciso avaliar o quanto você está a fim de mudar o seu estilo de vida. Escolher um negócio que funcione para o modo de viver que você quer. Por exemplo, se você escolher abrir um bar ou um restaurante com jantar, fique sabendo que passará várias noites e madrugadas fora de casa. Se for uma loja em um shopping você terá vários fins de semana e feriados, inclusive Natal, Ano Novo e outros sem estar com a família. Sim, para isso existem várias soluções, mas no começo geralmente é assim. Veja como quer viver para escolher o seu negócio.

5. Cansei de trabalhar tantas horas, de pagar contas, de ter tantos bens. Quero mais tempo com a família, com os amigos e fazendo o que realmente gosto. Como faço para dar uma reviravolta na minha vida?

Esta é bem complicada, geralmente são pessoas com mais idade ou que sofreram algum trauma, todos nós conhecemos pessoas assim, que abdicaram de ganhar tanto e trabalhar tanto também. Pessoas que diminuíram o seu padrão de vida, mudaram seus filhos de escola, ou ainda foram embora para uma cidade menor viver com mais qualidade de vida. Meu amigo de infância largou uma grande multinacional e voltou para a nossa cidade no interior para criar os seus três filhos. Tempo é uma moeda que vai se acabando aos poucos e quem perceber isso mais cedo terá esta moeda cada vez mais forte. Avalie o seu estilo de vida, veja e escreva tudo o que não quer fazer e tudo o que quer fazer. Com isso, planeje e veja qual profissão e trabalho combinam com esta sua lista. E vá atrás! Combine com seus parceiros de vida (família, pais, filhos, esposas, maridos etc.) e seja feliz.

Diferente do doutor do começo da história que ficou travado e não sabia para onde caminhar, você precisa planejar e entender que estilo de vida quer ter e, com isso, buscar esta felicidade que tanto se fala. Lembrando que esta sensação feliz é momentânea e que sempre estará lá na frente para você buscar novamente. Comece hoje a pensar, mudar e escolher uma profissão para agora! E um estilo de vida para sempre.

*Marcus Nakagawa é sócio-diretor da iSetor; professor da ESPM; idealizador e presidente do conselho deliberativo da Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade); e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. www.marcusnakagawa.com