Maio Amarelo: como hospitais são afetados por acidentes no trânsito?

A campanha Maio Amarelo é realizada anualmente visando conscientizar sobre a responsabilidade no trânsito, servindo para prevenção dos acidentes.

Em 2019 ocorreram cerca de 30 mil óbitos em decorrência de acidentes de trânsito no Brasil. Trata-se de um problema de saúde pública devido à extensão e comprometimento de recursos públicos de saúde. Com o Maio Amarelo, pretende-se mobilizar o Poder Público e a Sociedade Civil para ações integradas que viabilizem reduzir essas ocorrências e, consequentemente, a perda de vidas.

Acidentes de trânsito no Brasil

No Brasil, segundo dados do Mobilidade Ativa, 48% dos acidentes envolvem automóveis, 37% são com motociclistas, 5,9% com ônibus, 2% com ciclistas, 1,9% com caminhões e outros. A mortalidade é maior em acidentes de trânsito envolvendo motociclistas em primeiro lugar, seguido de pedestres, automóveis e ciclistas.

Estima-se de 33% das vítimas fatais venham a óbito ainda no local do acidente e 71% deles ocorrem nas 24 horas posteriores ao acidente. Levantamento do CFM – Conselho Federal de Medicina estima que ocorrem cinco óbitos em decorrência de acidentes de trânsito a cada 60 minutos.

Entre 2009 e 2019, os acidentes também resultaram em 1,6 milhão de feridos, o que custou R$ 3 bilhões ao SUS – Sistema Único de Saúde durante o período. De acordo com estudo de 2020 realizado pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação, 53,7% dos acidentes ocorrem por negligência.
Os principais motivos incluem: falta de atenção, desobedecer à sinalização de trânsito, alta velocidade, embriaguez e defeito mecânico.

Como os acidentes de trânsito impactam o sistema de saúde?

De acordo com a campanha Maio Amarelo, entre os principais problemas relacionados ao elevado número de acidentes de trânsito no Brasil está o comprometimento do atendimento nos serviços de saúde. Apenas em 2017, os acidentes de trânsito foram responsáveis por quase 50 mil diárias hospitalares, sendo o período médio de internação de 6 dias, a um custo médio de R$ 1.632.

No fim das contas, o elevado número de acidentes de trânsito no País acaba consumindo recursos do sistema de saúde e resultando em:

-superlotação e falta de leitos hospitalares;
-comprometimento logístico da cadeia de suprimentos de materiais hospitalares;
-altos custos para os cofres públicos.

Um exemplo é o do Hospital Geral de Nova Iguaçu que em 2020 atendeu 2.273 acidentados, sendo que 60% deles eram motociclistas ou carona e 27% precisaram de internação. No Espírito Santo, por exemplo, a Secretaria Estadual de Saúde estima que metade das internações hospitalares no estado são decorrentes de acidentes de trânsito.

Como reduzir os acidentes de trânsito?

Entre os principais objetivos da campanha Maio Amarelo está a redução nas ocorrências do trânsito, seja dentro das cidades como nas rodovias. O movimento ressalta a importância de um trabalho articulado para que este objetivo seja alcançado, sendo que diferentes partes devem ser mobilizadas para que o trânsito se torne seguro para todos os envolvidos, especialmente os mais vulneráveis, como pedestres, ciclistas e motociclistas.

Por parte dos órgãos governamentais, como SNT – Sistema Nacional de Trânsito, uma das principais medidas é o desenvolvimento de ações educativas, uma vez que a principal causa é a imprudência dos motoristas.

Outro exemplo é de governos estaduais. Em São Paulo, por exemplo, a Secretaria de Governo organiza o programa “Respeito à Vida – São Paulo Dirigindo com Responsabilidade” focado em medidas educativas e de infraestrutura, como lombofaixas, sinalização, faixas de pedestre e de ciclistas.

Os hospitais também podem desenvolver práticas relacionadas à melhora do trânsito, como com medidas educativas à população local, mas também:

-treinamento das equipes para recepção de vítimas de acidentes de trânsito e as fraturas mais comuns, que variam em complexidade indo de fraturas graves dos ossos até traumatismo crânio-encefálico;
-logística apropriada dos insumos de saúde, especialmente materiais hospitalares, mas também de leitos para melhor redirecionamento dos recursos, uma vez de que os acidentes de trânsito consomem parte importante desses insumos;
-uso de tecnologias que permitam agilidade na recepção e encaminhamento do paciente, como sistema integrado de gestão, prontuário eletrônico e outros;
-investimento em equipamentos básicos, como raios-x e tomografia, que são dois exames importantes na avaliação e diagnóstico de pacientes vítimas de acidentes de trânsito;
-otimização da logística dos protocolos de atendimento, como com adesão da telerradiologia para dar suporte adicional à equipe interna de radiologia, ampliando a capacidade de atendimento e a variedade de exames disponibilizados.

Portanto, existem diversas práticas que podem ser desenvolvidas nos hospitais quando a gestão avalia que o atendimento às vítimas de acidentes de trânsito está consumindo muitos recursos hospitalares. O objetivo dessas melhorias é tornar a instituição mais apta a esse tipo de atendimento emergencial e de alta complexidade. Entretanto, apesar das práticas gerenciais e administrativas em instituições de saúde, apenas a conscientização da população poderá reduzir a incidência de acidentes em primeiro lugar. Este é um passo fundamental para diminuição nas ocorrências de trânsito e também no número de vítimas, o que, por si só, já reduz a sobrecarga do sistema de saúde com essas demandas.