Luiz Carlos Oliveira e a poesia do mês
*Mais um momento de poesia no Cotia Agora
Poesia e poema distinguem-se na medida em que este compreende a forma em que está escrito e aquela a emoção disseminada no texto.
Todo poeta é um artesão: cria, do quase nada, o tudo, que então se transfigura numa obra de arte.
Como disse aqui, numa outra oportunidade, só os versos metrificados e rimados nos proporcional ritmo, cadência, ressonância, conexões… e, com tais atributos, pode-se manusear os versos da maneira que se pretende, para nos lembrar os passos de uma VALSA, como tão bem o fez Casimiro de Abreu (apenas um trecho):
Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
C´oas face
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranquila,
Serena,
Sem pena
De mim!
Ou mesmo o coaxar de muitos anfíbios ao mesmo tempo, como versou Manuel Bandeira (também apenas um trecho):
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
– “Meu pai foi à guerra!”
– “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”.
Para tanto, o poeta, no primeiro poema, socorreu-se de versos com letra tônica na segunda sílaba acompanhando, assim, o rápido ir e vir da valsa, e no segundo, de versos em redondilha menor, ou seja, com letra tônica na quinta sílaba, por ser mais apropriado para o som emitido pelo sapo.
Quando, certa feita, estive numa estação de trem, detive-me a observar as locomotivas que chegavam trazendo quiçá novidades e esperanças e partindo repletas de saudade e dor… e o que me ocorreu ali, procurei retratar num poema com versos em redondilha menor, mais sincronizados com o ruído lamuriante dos vagões:
NESTA PARAGEM
Um dia te encontro
Bem nesta paragem
Onde te encontrei
Numa outra viagem.
Chegaste de trem
Faceira e bonita
Tendo nos cabelos
Um laço de fita,
Só equiparável
À rosa em botão
Que estava florindo
Aqui, na estação.
Teus olhos brilhavam,
Tua boca sorria
Quando alguém falou:
– “Bom te ver, Maria!”.
Após longo beijo
Seguiram felizes;
O tempo passou,
Não as cicatrizes
Daquele momento,
Pois nunca saíste
Do meu pensamento.
O sonho perdura
No tempo que passa,
Para realizar-se
Com muito mais graça…
A vida é bela
Porque traz mudança:
Sem esta não vinga
Qualquer esperança…
Um dia te encontro
Bem nesta paragem
Onde te encontrei
Numa outra viagem.
Felizmente, a máquina, por mais que evolua brindando o lucro pelo lucro, ela nunca terá emoção própria, nunca escreverá um poema.
Um brinde à emoção!
*Luiz Carlos de Oliveira é advogado em Cotia e também poeta, autor do livro “Um pouco de mim, de ti, de nós…”, escreve mensalmente no Cotia Agora.