Literatura de Luiz Júnior: 1910 – O primeiro voo do Brasil

Há uma história – entre tantas que se perderam de heróis brasileiros – que vem sendo redescoberta e contada com o apoio de historiadores e jornalistas.

Nessa história, novamente e pelos mesmos motivos, o herói é um arrojado e destemido brasileiro que, sem medo e plenamente confiante na sua perícia, singrou os céus brasileiros para provar que nós poderíamos sim, ser um país de vanguarda.

No começo do século XX o mundo via deslumbrado o percurso de inventores e cientistas para provar que um aparelho mais pesado do que o ar podia voar. O mundo já vira o padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão provar na Europa que aparelhos poderiam levantar voo. Os Montgolfier, no início do século XIX, realizaram o primeiro voo tripulado da história em um balão.

Agora existiam prêmios. O criador do avião sairia rico, e ainda teria todos os holofotes apontados para si. Desde 1799 – com Cayley – tentávamos cruzar os ares com aparelhos semelhantes a pássaros. Se os irmãos Wright reivindicam indevidamente sua paternidade, será um brasileiro – Alberto Santos Dumont – que realizará tal façanha, ao levantar voo com seu 14-Bis em Paris, mostrando ao mundo (e devidamente documentado) que seria questão de tempo para que as modernas aeronaves pudessem levantar voo com confiabilidade e tecnologia.

Dumont já há muito mostrava que modernos métodos de dirigibilidade eram possíveis, através de seus dirigíveis.

Se o 14-Bis entraria para a história como o primeiro a levantar voo no mundo, caberá ao franco-espanhol Dimitri Sensaud de Lavaud levantar o primeiro voo na América Latina, ao colocar seu avião São Paulo nos céus em janeiro de 1910.

Dimitri, filho de ricos industriais radicados na cidade de Osasco (então bairro de São Paulo), usou de sua perícia com a engenharia e, contando com a capacidade técnica do mecânico Lourenço Pelegatti, montou e colocou no ar seu projeto, voando por mais de cem metros pelas ruas próximas ao seu chalé – hoje o Museu da Cidade de Osasco, na Avenida dos Autonomistas.

Seu feito foi realizado um dia antes do mexicano Braniff – tido antes como o primeiro. A importância de contar a história de Dimitri é para que ela não seja esquecida e colocada no mesmo caixote que engloba outros exemplos de nosso “complexo de vira-latas”, como a invenção do rádio por Landell de Moura, a invenção do walkman pelo brasileiro Pavel ou mesmo a do avião – Orville e Willbur Wright lançaram seu avião por meio de uma catapulta, coisa que outros já haviam registrado sucesso anteriormente.

A história de Dimitri é contada no livro “1910 – o primeiro voo do Brasil”, escrito pela historiadora Susana Alexandria.

Através de exaustiva pesquisa bibliográfica e com acesso a jornais da época, ela reconta a história deste brasileiro heroico, que, enfrentando seu pai e a burocracia da época, moveu seus recursos para colocar no ar aquele que foi o primeiro aparelho mais pesado que o ar e cruzar pela primeira vez os céus da América Latina.

Há um curta-metragem, feito por este colunista, que também conta um pedaço dessa história. Pode ser conferido no link https://www.youtube.com/watch?v=82uBXa_aVMg .

1910 – O primeiro voo do Brasil - Susana Alexandria - Editora Aleph - R$ 38,00
1910 – O primeiro voo do Brasil – Susana Alexandria – Editora Aleph – R$ 38,00

*Luiz Junior é astrólogo, produtor de cinema e escritor. É autor de O Templo da Magia e de O livro de Luaror, pela Editora Autografia. Dirigiu, roteirizou ou produziu os curtas “Osasco, 1910”, “A Mente”, “Desiderium, Desiderata”, “Pelos direitos dos meninos” e “Amor de Infância”. Tem poemas lançados na Europa e na América do Sul pela Chiado Editora. Produz diariamente o horóscopo deste jornal e as colunas de astrologia e literária.