Justiça classifica como “caçada humana” de PMs que mataram motoboy dentro de casa em Embu

Apontados pela Justiça Militar como autores de uma “verdadeira caçada para abater um bicho extremamente nocivo ao ser humano”, quatro policiais militares foram presos na manhã desta quinta-feira (13) sob a suspeita de armarem um tiroteio para tentar justificar o assassinato do motoboy Daniel Mares Coelho, de 34 anos.

Os quatro PMs presos são integrantes da Força Tática (grupo especial) do 36º Batalhão (Embu das Artes). Daniel foi morto dentro de casa, no Jardim Dom José, periferia de Embu das Artes, às 6h30 do dia 13 de setembro. No momento da invasão da residência, Daniel dormia ao lado da mulher e do filho, de apenas quatro anos.

A investigação da Corregedoria da PM encontrou indícios de que a versão apresentada pelos PMs envolvidos na morte do motoboy é fantasiosa quando passou a interrogar duas testemunhas do crime. A suspeita é de que Daniel tenha sido assassinado porque buscava, por conta própria, informações sobre a morte do irmão, o também motoboy Marcelo Mares Coelho, de 37 anos, em 22 de outubro de 2012, também no Jardim Dom José.

Daniel havia recebido indicações de que PMs envolvidos em um esquema de milícia tinham matado Marcelo. O crime contra Marcelo ocorreu durante a onda de violência que afetou o Estado de São Paulo naquele ano, quando membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) atacaram as forças de segurança, assim como havia ocorrido em 2006.

Quando foram ouvidos pela Polícia Civil, menos de três horas depois da morte de Daniel, dois dos quatro PMs presos, Leandro Bernardo de Moura, 34 anos, e Eduardo de Sousa Araújo, 40, disseram ter recebido uma denúncia anônima com o endereço da casa do motoboy Daniel, onde um homem armado, foragido da Justiça, ameaçava vizinhos.

A porta da casa do motoboy, ainda segundo a versão inicial dos PMs, “estava entreaberta” e, assim que pararam perto dela, “um indivíduo passou a realizar disparos contra os policiais”. “Um dos tiros acertou o braço esquerdo do PM Eduardo”, narraram os PMs.

Essa versão foi colocada em dúvida pela Corregedoria da PM quando a família do motoboy detalhou como é a casa onde Daniel foi morto e a dinâmica da invasão do local pelos militares. A mulher, a irmão e o filho do motoboy estavam no imóvel quando os PMs agiram para matá-lo. Elas relataram que Daniel não estava armado com o revólver calibre 38 que os PMs disseram ter sido usado por ele e também que sua morte foi resultado de uma emboscada.

Na ordem de prisão dos PMs, a Justiça Militar classificou a ação dos quatro PMs como “verdadeira caçada para abater um bicho extremamente nocivo ao ser humano”. Durante a invasão de sua casa, Daniel tentou escapar dos PMs ao buscar refúgios no imóvel, mas foi perseguido até ser abatido mortalmente pelos militares da Força Tática do 36º Batalhão.

Além dos quatro PMs presos na manhã desta quinta-feira, um oficial do 36º Batalhão também é investigado sob suspeita de ter ajudado seus subordinados a alterarem a cena do crime contra Daniel para simular um tiroteio que pudesse justificar sua morte. A casa desse oficial foi alvo de uma operação da Corregedoria da PM nesta quinta, assim como as residências de sete PMs — quatro (Leandro Bernardo de Moura, Eduardo de Sousa Araújo e outros dois cujos nomes são mantidos em sigilo pelos investigadores do caso) deles ligados diretamente ao crime contra o motoboy e outros três que teriam dado cobertura para a execução. Os armários dos oito PMs na sede da Força Tática também foram revistados.

A reportagem solicitou ao secretário da Segurança Pública da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), Mágino Alves Barbosa Filho, e ao comandante-geral da PM, coronel Ricardo Gambaroni, esclarecimentos sobre as prisões dos PMs da Força Tática. Até a publicação desta reportagem, a CDN Comunicação, empresa contratada para fazer a assessoria de imprensa da pasta estadual, não havia se manifestado

Do R7