Justiça cassa Ney Santos, prefeito de Embu das Artes, por uso indevido de dinheiro em campanha

Por Jussara Soares – O Globo

A Justiça Eleitoral cassou o mandato do prefeito Ney Santos (PRB), de Embu das Artes, por suspeita de uso de dinheiro do tráfico de drogas e por doações ilícitas de “laranjas” na campanha eleitoral de 2016.

A decisão da juíza Tatyana Teixeira Jorge, disponibilizada nesta quarta-feira (11) no site TRE – Tribunal Regional
Eleitoral de São Paulo, atinge também o vice-prefeito Peter Calderoni e determina a inelegibilidade de ambos por oito anos.
Como a sentença não tem caráter suspensivo, os dois poderão recorrer no cargo.A cassação é o mais recente capítulo  dos problemas de Ney Santos com a Justiça. O político, suspeito de integrar a organização criminosa PCC – Primeiro Comando da Capital, já responde criminalmente por adulteração de combustível, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e formação de quadrilha.

Após ser eleito em 2016, a Justiça pediu a prisão preventiva de Santos em dezembro daquele ano. O político ficou foragido por dois meses e foi diplomado no cargo por meio de uma procuração. Só tomou posse em fevereiro de 2017 graças um habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF – Supremo Tribunal Federal, alegando falta de fundamentos para a detenção.

No início de março deste ano, o caso voltou à pauta na Primeira Turma do STF. Às vésperas da votação, Ney Santos pediu licença não remunerada para tratar de “assuntos pessoais” e saiu de circulação da cidade. O prefeito só reapareceu após a votação entre os ministros terminar empatada, o que manteve o habeas corpus.

Enriquecimento na cadeia

Antes de se lançar político, Ney Santos, era conhecido como Ney Gordo. Aos 19 anos, em 1999, foi preso por receptação e formação de quadrilha. Em 2003, foi flagrado em assalto a mão armada a um carro-forte. Condenado em primeira instância, ficou preso até 2005.

Foi ainda durante o período em que esteve encarcerado que o patrimônio de Santos começou a aumentar significativamente. Em 2008, o prefeito enviou uma declaração à Receita Federal referente ao exercício de 2004/2005, relatando um patrimônio de R$ 233 mil e um salário mensal de R$ 3.541. Em 2003, não houve prestação de contas.

Quando se lançou pela primeira vez como candidato a deputado federal, em 2010, o patrimônio que Ney Santos declarou ter era de R$ 1,3 milhão, incluindo a participação em dez postos de combustíveis, imóveis e R$ 790 mil em espécie. A investigação apontou que o político tinha um patrimônio muito maior do que o relatado: cerca de R$ 50 milhões, incluindo duas casas no condomínio Alphaville e um veículo Porsche Cayenne. Em um dos carros de sua campanha, foram apreendidos 34 kg de maconha. Ney Santos foi preso, mas conseguiu o direito de responder o inquérito em liberdade.

Em 2012, Ney Santos conseguiu uma vaga de vereador pelo PSC e se tornou presidente da Câmara. Mais uma vez, foi acusado de comprar votos. Em fevereiro de 2016, seu mandato chegou a ser cassado, mas uma liminar o manteve no cargo. No mesmo ano, foi eleito prefeito de Embu das Artes com 80% dos votos, beneficiado pela impugnação do principal adversário, Geraldo Cruz (PT).
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do prefeito Ney Santos, que não atendeu a solicitação.