‘Intimidade’ é o tema da coluna da psicóloga Adriana Biem

Tenho percebido algo que está se repetindo muito nas sessões no consultório, que é a falta de intimidade entre as pessoas. Intimidade que digo é aquela construída, partilhada, aquela que nos dedicamos a ter com uma pessoa e que só é obtida pelo real interesse pela vida do outro.

Aquele momento de entrega, de escuta, de estar ali para mergulhar em um mundo totalmente desconhecido para nós, que é o mundo do outro, desse alguém que não teve a mesma criação, a mesma educação, as mesmas vivências e que pode ser tão, tão estranho para nós.

Sinto que as pessoas não têm mais essa disponibilidade; na verdade não tem mais esse interesse, o que é muito contraditório na era das redes sociais em que a vida do outro se torna tão exposta e comentada, ainda que de uma forma superficial. Talvez seja mesmo essa superficialidade que faça com que sempre tenhamos a impressão de que o outro já é tão “conhecido” para nós, isso nos faz achar que já sabemos tudo daquela pessoa e assim ele não se torna mais tão interessante.

Ao mesmo tempo em que nossa vida é mais e mais exposta nessas redes, cada vez mais as pessoas sabem menos da gente, cada vez mais confiamos menos no outro, e confiar no outro é indispensável para se tornar íntimo, bem como se entregar. A intimidade não acontece somente porque moramos na mesma casa e porque dormimos na mesma cama, intimidade é muito mais do que isso, intimidade é completamente diferente de convivência. Repetindo o começo do texto: A intimidade é construída. E construída por duas (ou mais) pessoas que estão dispostas a isso.

Percebo que muitas vezes as pessoas se relacionam somente com uma parte do outro. Aquela parte que escolheram, que agrada, que não os tira da zona de conforto. E isso obviamente os impede de ter uma relação verdadeira, de confiança, de entrega, ou seja, os impede de viver a intimidade.

Penso que talvez uma das questões que impedem a intimidade é exatamente a falta de conhecimento de si, a falta de autoconhecimento. Quando não sabemos quem somos, o que queremos e o que não queremos, o outro se torna extremamente assustador, pois sentimos que ele pode “roubar” a nossa individualidade, pode fazer com que nos percamos de nós mesmos. Então um dos caminhos para se permitir ter intimidade com alguém, é o autoconhecimento, pois a partir do momento que sabemos quem somos, podemos permitir que o outro entre em nossas vidas sem termos medo de perder alguma coisa, pois intimidade não deve significar perda e sim compartilhamento.

Portanto, comece tornando-se íntimo de si mesmo!!

*Adriana Biem é psicóloga – Atende em dois locais: Granja Viana (Rua Frei Caneca, 30 – sala 03 e Alphaville – Calçada das Hortênsias, 138 – Telefone: 9-9495-2141 – adrianabiempsicologa.com.br – Email: [email protected]