Homem que queimou viatura da PM na Raposo Tavares é condenado a seis anos

Protesto contra o Instituto Royal, em São Roque, fechou rodovia em 2013. Juiz afirma que crime foi premeditado e que colocou mil pessoas em risco.

O homem acusado de atear fogo em três carros, entre eles uma viatura da Polícia Militar, durante um protesto em frente ao Instituto Royal, na Raposo Tavares, em São Roque , foi condenado nesta terça-feira (26) a seis anos e oito meses de prisão em regime fechado, além do pagamento de uma multa de R$ 56,7 mil ao Estado. O caso aconteceu em 19 de outubro de 2013, um dia depois que ativistas invadiram a sede da empresa e levaram os cães da raça beagle que eram usados em testes para a indústria farmacêutica. Ainda cabe recurso da decisão.

Gabriel Aparecido Pirone dos Santos, de 30 anos, foi apresentado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) em novembro do mesmo ano, depois de ter sido preso em Salto (SP) por tráfico de drogas.

Segundo a polícia, o homem confessou ter ateado fogo na viatura da PM e em dois veículos de imprensa. “Foi em um momento de explosão, no calor da manifestação. Nesse dia saiu tudo errado, fui até lá para participar do protesto e quando vi já estava totalmente envolvido”, afirmou aos jornalistas após ser preso.

Na decisão, o juiz Flavio Roberto de Carvalho considera que o acusado já havia premeditado o crime, ao levar um isqueiro para o protesto prevendo “arruaça e destruição de bem público”.

O magistrado afirmou que o ato trouxe prejuízo à população e colocou em risco mais de mil pessoas que estavam no local. Ainda segundo a decisão, Santos chegou a negar, em sua defesa, que teria ateado fogo na viatura. “Não há erro de identificação ou dúvida na atitude do acusado, já que as imagens destacam sua conduta criminosa, ou seja, nada há nos autos a amparar a negativa rasa do réu”, escreve.

Investigações
Na época, a polícia afirmou que Santos não fazia parte do grupo Black Block, que acabou entrando em confronto com a Polícia Militar durante o protesto em frente ao Instituto Royal, no dia 19 de outubro.

O homem afirmou que estaria nas manifestações para expor a luta a favor da liberação da maconha e que não teria ido até o local para fazer baderna.

Fotos que fazem parte do inquérito mostram Santos ao lado dos carros antes de serem incendiados, o que, segundo a polícia, não deixa dúvidas sobre a intenção de queimar os veículos.

“Ele usou a própria blusa para colocar fogo nos carros. E fez tudo isso sozinho, ele é o único autor dos incêndios. Esse inquérito está encerrado”, explicou, na época, o então delegado titular da DIG, José Urban Filho.

O inquérito sobre o incêndio dos carros foi encerrado. Já os inquéritos de furto e dano, denunciados pelo Instituto Royal, além de maus-tratos, apontado pelo ativistas, correm em segredo de Justiça.

Relembre o caso
Em setembro de 2013, após denúncias de maus-tratos em animais usados em pesquisas e testes de produtos farmacêuticos – incluindo cães da raça beagle, camundongos e coelhos -, ativistas passaram a protestar em frente ao Instituto Royal.

Os manifestantes acusaram o instituto de usar métodos cruéis na realização de experimentos. Já no dia 12 de outubro, ativistas se acorrentaram no portão da unidade e prometeram ficar no local até terem uma lista de reivindicações atendidas. Na época, representantes do laboratório conversaram com os manifestantes, mas, segundo uma das organizadoras do protesto, não houve acordo.

Em seguida, uma reunião foi marcada entre ativistas, funcionários da Prefeitura de São Roque e representantes do laboratório no dia 17 de outubro, mas foi cancelada porque o Instituto Royal informou que, por uma questão de segurança, não mandaria um representante. Diante da situação, os ativistas registraram um boletim de ocorrência de denúncia de maus-tratos.

O movimento ganhou adesões após boatos se espalharem nas redes sociais de que o Instituto Royal estava preparando a retirada e o sacrifício dos animais da unidade. A informação foi divulgada pelos ativistas que estavam de plantão em frente ao laboratório e viram três vans e um caminhão de pequeno porte entrarem no laboratório.

Na madrugada do dia 18 de outubro, cerca de 100 ativistas quebraram o portão e invadiram o instituto. Com carros particulares, os ativistas retiraram do local 178 beagles e sete coelhos, além de destruir boa parte das pesquisas do laboratório que estavam armazenadas em arquivos do escritório.

Na época, o Instituto Royal afirmou que realizava todos os testes com animais dentro das normas e exigências da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária e que a retirada dos animais do prédio prejudicava o trabalho que vinha sendo realizado. Segundo o laboratório, que classificou a invasão como ato de terrorismo, a ação dos ativistas vai contra o incentivo a pesquisas no país.

Por fim, um protesto contra o uso de animais em pesquisas, realizado no dia 19 de outubro, na Raposo Tavares, terminou em confronto quando black blocs se misturaram a ativistas. Três carros, sendo dois da imprensa e um da Polícia Militar, foram queimados, e seis pessoas foram detidas. A tropa de choque da capital teve que ser acionada para combater o tumulto e reabrir a rodovia ao tráfego.

Na madrugada do dia 13 de novembro, depois que o Royal havia encerrado oficialmente suas atividades, outro grupo voltou a invadir o local e, desta vez, levou os ratos de pesquisa que haviam sido deixados lá. Durante a invasão, seguranças foram agredidos e amarrados pelo grupo.

Por Jomar Bellini – G1