Grande SP registra, pela 2ª vez, maior taxa de aumento de consumo de água

23% dos clientes usaram, em janeiro deste ano, mais água do que a média. Índice de aplicação de multa (14%) é o mais alto desde início da cobrança.

A Grande São Paulo manteve pelo segundo mês seguido a maior taxa de aumento no consumo de água desde o início do programa de bônus na conta. Em janeiro deste ano, 23% dos clientes da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) consumiram mais do que a média, antes do início da crise hídrica. O índice foi o mesmo em dezembro, quando o Sistema Cantareira conseguiu recuperar o volume morto.

Segundo balanço divulgado pela Sabesp na sexta-feira (12), 14% dos clientes tiveram que pagar multa no mês passado. Esse índice também foi registrado em dezembro e é a maior taxa de cobrança de multa desde o início da aplicação da sobretaxa, em fevereiro de 2015. O restante dos clientes (9%) não foi multado porque consome o volume mínimo de 10 mil litros por mês, explicou a Sabesp.

Especialistas ouvidos pelo G1 explicam que, mesmo com a saída do Cantareira do volume morto, a população deve continuar economizando porque a crise hídrica ainda não acabou em São Paulo e os reservatórios devem demorar para se recuperarem totalmente.

“Se tivermos os próximos três anos como o que estamos tendo agora, ficaríamos numa situação um pouco mais tranquila. Mas isso não significa que estejamos longe de uma nova crise. Se essa mudança no comportamento dos consumidores [redução no consumo] for permanente, a gente teria uma ‘folga’ no sistema”, afirmou o pesquisador da USP e Uninove, Pedro Cortês.

A própria Sabesp faz, no comunicado, um alerta sobre a importância de os clientes pouparem água, mesmo com o período de chuva e alta no nível das represas. Segundo a companhia de abastecimento, a estiagem de 2014 foi a maior registrada em mais de 80 anos na Região Sudeste.

Alta gradual
Em fevereiro do ano passado, 8% dos clientes receberam a conta com sobretaxa. Entre março e julho, o índice variou entre 10% e 11%, subiu para 12% em agosto e setembro, e aumentou novamente em outubro, quando chegou a 13%. O índice se manteve em novembro. Em dezembro, voltou a subir e chegou em 14%. Em janeiro de 2016, o índice se manteve.

Por outro lado, 77% dos clientes reduziram o consumo, mas 65% tiveram efetivamente desconto na conta no ano passado porque conseguiram economizar mais de 10% do que consumiam, em média, no período de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014, antes da crise.

No comunicado, a Sabesp faz um alerta sobre a importância da população continuar economizando água, mesmo com o período de chuva e alta no nível das represas. A preocupação da companhia é tentar recuperar, de maneira gradual, o nível dos reservatórios após a estiagem  de 2014 que, segundo a empresa, foi a maior registrada em mais de 80 anos na Região Sudeste.

Maior sistema, de novo
O Sistema Cantareira voltou a ser, em janeiro deste ano, o principal sistema produtor de água da Grande São Paulo, segundo nota divulgada na sexta-feira (12) pela Sabesp. Segundo a empresa, o sistema atende agora 5,7 milhões de pessoas na região. Já o Sistema Guarapiranga, que foi o maior produtor de março a dezembro de 2015, atende 5,2 milhões, ou 500 mil a menos.

O Guarapiranga se tornou o maior fornecedor de água em março do ano passado para “socorrer” o Cantareira, que na ocasião estava com 12,9% da capacidade. Antes da crise hídrica em São Paulo, o sistema abastecia 8,8 milhões de pessoas.

Bônus ficou mais difícil
A Sabesp decidiu prorrogar, pelo menos até dezembro de 2016, o programa de desconto na conta de água para os clientes da Grande São Paulo que conseguirem reduzir o consumo. As regras, no entanto, mudaram e ficou mais difícil para os consumidores obterem o bônus na fatura, segundo as normas aprovadas pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp).

O desconto foi uma das medidas adotadas para estimular a população a economizar água durante a crise hídrica. As mudanças valem para as contas com leitura de consumo a partir de 1º de fevereiro de 2016.  A Sabesp fará um novo cálculo do bônus, que consiste na adoção, para cada cliente de um novo Consumo Médio de Referência (CMR).

Até o fim de 2015, o CMR correspondia à média de consumo no período fevereiro 2013 a janeiro 2014. O novo CMR, para efeito de aplicação de bônus, será calculado pela multiplicação do antigo CMR por 0,78.

A companhia de abastecimento disse que constatou que houve redução no consumo de 22% no período de análise mais recente, de outubro de 2014 a setembro de 2015. Por isso, a empresa reajustou as médias de consumo nessa mesma proporção.

Os níveis de economia para obter o bônus, porém, permanecem os mesmos. Os imóveis que economizarem entre 10% e 15% o consumo de água têm desconto de 10% na conta. Os que diminuírem o gasto entre 15% ou 20% recebem bônus de 20%. Já as residências que economizam 20% ou mais recebem desconto de 30% na conta de água.

Já as regras para a aplicação da tarifa de contingência – que é a cobrança de multas de clientes que aumentarem o consumo – não será alterada, mas também continuará até o fim de 2-16. O cálculo continuará a ser feito em relação à média de consumo entre fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. As residências que consomem até 20% além da média pagam conta 40% mais cara. Já as que excederem os gastos em mais de 20% recebem multa de 100% no fim do mês.

Por Isabela Leite – G1