Governo Doria não divulga todos os dados usados para autorizar flexibilizações da quarentena; ONG vê falta de transparência

O governo de São Paulo não informa a totalidade dos dados utilizados para autorizar municípios a flexibilizar quarentena. Desde o anúncio do plano de reabertura, um conjunto de indicadores de saúde foi estabelecido como novo critério que baseia as liberações. Entretanto, parte desses índices não são disponibilizados de forma transparente ou sistemática pela secretaria estadual de Saúde.

Embora o governo divulgue diariamente nos seus boletins epidemiológicos o número de novos casos e novas mortes pela doença no estado e nas cidades, não são informadas as novas internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que têm maior peso na avaliação.

Em relação às taxas de UTI, há a divulgação diária das porcentagens de ocupação no estado e na Grande São Paulo, mas não para cada município. Os dados de leitos de coronavírus para cada 100 mil habitantes, também com maior peso, não estão acessíveis.

Na avaliação da organização OKBR, também conhecida como Rede pelo Conhecimento Livre (Open Knowledge Brazil), há ainda outro problema, principalmente com relação à taxa de ocupação das UTIs: os parâmetros não são claros e representam apenas um estrato do cenário do sistema público.

“O que ficou mais grave com a falta de transparência é que passamos a usar um indicador não transparente para determinar a abertura. Não basta só divulgar a taxa, mas precisa divulgar a metodologia de cálculo”, afirma Fernanda Campagnucci, diretora do instituto no Brasil e uma das coordenadoras dos estudos feitos sobre a transparência dos estados na divulgação das medidas para conter a pandemia no país.

Fernanda avalia que, como o governo paulista informa apenas a taxa de UTI para casos de coronavírus, sem considerar a disponibilidade e ocupação para outras doenças, o indicador distorce a realidade do sistema.

“Se você olha para a taxa de ocupação de leitos só de Covid, você deixa de olhar para a rede como um todo. E um dos grandes riscos, e o motivo do isolamento, é que o sistema perde capacidade de atender não só para coronavírus, mas para outras doenças também”.

Ela ainda defende a importância de que o estados divulguem o tamanho da fila no serviço público, com dados por unidade de saúde, e revelem a situação da rede como um todo.

“Estamos olhando para uma pequena parte da fotografia e não estamos vendo o quadro real. Isso é o que mais preocupa”.

De acordo com o último levantamento feito pela organização, o estado de São Paulo é o sexto pior no critério de transparência. “A gente tem alertado bastante. Por ser o epicentro da crise, [SP] deveria estar dando mais exemplo de transparência, mas não é o que tem acontecido.”

Por Marina Pinhoni e Lívia Machado, G1 SP