Decisão do TCU “seca torneira” de dinheiro para TVs religiosas

Uma decisão tomada pelo TCU (Tribunal de Contas da União) em 2020, já afeta profunda e negativamente o cofre das emissoras de TV ligadas ou de propriedade de igrejas -justamente as apoiadoras do governo de Jair Bolsonaro.

Dois anos atrás o tribunal enquadrou o governo e a Secom (Secretaria Especial de Comunicação), responsável pela distribuição de verbas publicitárias federais e milionárias para veículos de comunicação do país.

Explico. Desde 2019, quando assumiu, o governo Bolsonaro passou a beneficiar com maiores verbas as emissoras de TV que o apoiavam -inclusive várias que dão “traço” de audiência. Já a Globo, cujo ibope é maior do que todas as demais TVs abertas somadas, e que desde sempre Bolsonaro considera sua “nêmesis”, passou a ser prejudicada.

Desequilíbrio

Em muitos meses o governo chegou a repassar mais verbas para a RedeTV (0,28 ponto de ibope nacional), do que para a Globo (11 pontos de ibope nacional). Pois o TCU determinou que o governo Bolsonaro não podia mais continuar a fazer isso, e que o principal critério de distribuição de verbas publicitárias federais precisa, necessariamente, ser baseado na audiência das emissoras, e não pela simpatia política de seus proprietários.

Na prática o TCU “enquadrou ” tanto Bolsonaro como a Secom, proibindo-os de continuar a bancar veículos simpatizantes do governo.

Pancada As emissoras que mais estão sentindo (negativamente) a medida do TCU são justamente as evangélicas e as católicas. Em 2020, por exemplo, a Secom distribuiu quase R$ 4 milhões para cerca de sete TVs religiosas. No ano passado, esse montante foi de apenas R$ 1 milhão. Pior: neste ano eleitoral é provável que essa torneira feche ainda mais. Já as três maiores TVs abertas em 2021 ficam com a seguinte divisão, segundo apuração da coluna -nota: esses valores incluiriam todos os investimentos diretos (pelo governo federal) e indiretos (por meio de estatais, outros órgãos etc.):

1º Globo – R$ 55 milhões – 2º Record – R$ 48 milhões – 3º SBT – R$ 42 milhões.

Campanhas no vácuo Além de tudo que foi exposto acima, havia uma outra consequência negativa para o próprio Planalto durante os anos de 2019 e 2020, quando distribuiu verbas federais ao seu bel-prazer. Ao investir milhões em emissoras que davam “traço” de ibope, as ações e campanhas do governo passaram a ter pouquíssimo ou nenhum impacto ou penetração junto à população. Afinal, não tinha ninguém diante daquelas TVs, assistindo.

Por Ricardo Feltrin – Uol