‘Contos & Causos de Cotia’: Loira do banheiro e assombrações davam medo nos moradores

Por Beto Kodiak

Faz tempo que o Contos & Causos não aparecia aqui no Jornal Cotia Agora. Muita gente me encontra na rua e cobra a volta desta seção e do ‘Cotia Retrô’ e resolvi a partir de agora intercalar ambos aos finais de semana.

Para quem não conhece esta seção, sempre contamos um história ou estória ocorrida na cidade, sempre com o relato e ajuda de alguém mais antigo de Cotia ou então que ouvi nestes meus 52 anos de vida, sendo 50 morando por aqui.

Nesta semana vou escrever sobre assombrações na cidade, lembrando causos, alguns que não me recordo quem contou, mas que deixaram muita gente arrepiada. Até meu primo, o escritor Cláudio Alexandre Magalhães, conta uma por aqui. Confiram:

Loira do banheiro
Quem com mais de 40 anos não ouviu e passou por situações de medo com a famosa Loira do Banheiro? Diziam que ela aparecia, vestida de branco, com o rosto ferido e algodão no nariz. Nos anos 70, estudando na escola Idomineu Antunes Caldeira, de vez em quando surgia o papo de que a loira estava no banheiro, mas sempre deixávamos de lado, sabendo que era mentira, até que um dia a coisa ficou séria. Lembro que  estava no banheiro a hora que alguém gritou…uma voz de mulher..logo disseram que a loira estava ali, em uma cabine do banheiro ao meu lado. O medo foi tanto que eu não sabia se fazia o número 1 ou o número 2. Decidi travar e sair correndo. O grito foi estrondoso. Do lado de fora, as meninas também apavoradas, dizendo que o grito também foi ouvido no banheiro delas. Funcionários da escola tinham receio de entrar no banheiro e até a diretora na época, Dona Harue, ficou com a pulga atrás da orelha. Aquela brincadeira da loira do banheiro foi diferente…..daquela vez, todo mundo ficou com medo…não só as crianças, de 7 a 11 anos, mas também os adultos. Fomos obrigados a voltar pra sala de aula. Professores demoraram para entrar…havia um temor no ar…não havia a tradicional bagunça de intervalo. Passados 20 minutos, os professores foram para a aula e depois, uma das serventes, Dona Mariquinha, passou em cada sala para dizer que não havia nada. Não houve bronca por parte de ninguém como aconteceu em outras vezes. Aquele dia, a Loira do Banheiro não foi vista…mas o grito de pânico ensurdecedor, fez com que a partir daquele momento, ninguém mais arriscasse brincar ou citar o nome daquele “fantasma”…..
* Ilustração: Eugênio Tonon

O Fantasma da Árvore
Esse não me lembro se foi meu avô Nhonhô ou meu pai, o Véio Dito que contou. Mas, há pelo menos uns 60 anos ou mais, quem tentava passar por um ponto da Estrada do Morro Grande a cavalo, não conseguia. Os bichos se assustavam e acabavam empacando, com medo. As pessoas também ficavam amedrontadas, não sabiam o que era, mas suspeitavam que era algo sobrenatural.
Um dia, um dos cavaleiros ficou indignado e decidiu seguir adiante sem o cavalo, quando ao chegar perto de uma árvore que beirava a estrada, mesmo no escuro, viu um homem sentado em um galho. O susto do cavaleiro foi grande e ele olhou para os lados e para trás, mas quando voltou os olhos para a árvore, o homem misterioso não estava mais lá, mas à sua frente, quando uma luz apareceu e mostrou a imagem de uma pessoa sinistra olhando com raiva. Foi então que o cavaleiro fechou os olhos e começou a rezar, ficou duro, sem conseguir se mexer, mas rezando…passado cerca de um minuto, abriu os olhos e aquele fantasma havia desaparecido. O cavaleiro olhou pra todo canto e nada do homem. Então, ele voltou para seu cavalo e seguiu viagem. Chegando em casa, contou para a família e vizinhos o que havia acontecido. Ninguém acreditou e ainda zombaram dele. Mas, a partir daquele dia, ninguém mais teve medo de passar por perto da árvore e os cavalos não mais se assustaram…………

A vela acesa
Essa quem contou foi a dona Geralda, mãe da minha amiga Tanira. A família veio de Minas Gerais pra Cotia nos anos 70 e dona Geralda morou em vários bairros da cidade. Na região dos Grilos, ela conta que morava em uma pequena casa perto de um sítio, onde havia um lago. Durante uma semana, à noite, ela olhava pela janela e via uma vela acesa ao lado do lago, distante uns 200 metros. Ficou curiosa, já que não morava mais ninguém na propriedade, mas achou que era alguém que acendia para algum parente morto ou era algum ritual religioso. Curiosa, lá pelo sétimo dia, resolveu encarar a escuridão e ir até lá com o marido, só que ao chegar, não mais encontrava a vela acesa. A cena se repetiu por três dias seguidos, ela via a vela acesa e ao descer para o lago….cadê a vela? No dia seguinte, nenhum resquício ou o toco da vela. Aquilo seguiu por exatos 13 dias. Em uma manhã, seu marido acordou para ir trabalhar na roça e viu na porta da casa, 13 tocos de vela. Mistério…não se viu ninguém….e por coincidência…conta dona Geralda…aquele dia era 13.

A “brincadeira” do copo
Era muito comum nos anos 70 e 80 o que chamavam da brincadeira do copo…onde se colocava letras dentro de um copo com água e ali se evocava “espíritos”….o copo andava, frases se formavam, enfim…muito papo furado e nada comprovado…..até que…….
Um certo dia, nos anos 80, estavam seis jovens (não vou citar os nomes) fazendo a tal da brincadeira e o copo andou…o tal espírito escreveu com as letrinhas o nome dele e de que antes morava na América Central….até que as pessoas passaram a rir e zombar da situação. Naquele momento a luz da casa, no bairro do Portão, se apagou e um grande estrondo ocorreu na porta de entrada. O dono abriu a porta e não havia nada, nem ninguém ali e a luz só tinha acabado naquele local. Um silêncio tomou conta dos jovens…..e o arrependimento de ter feito aquilo. Passados uns cinco minutos, a luz voltou. Na época não havia disjuntor…os fusíveis estavam intactos e nenhum vizinho havia ficado sem energia, apenas o mistério rondou aquela casa.

Visões de acidente 50 anos depois (Por Cláudio Magalhães)
Nos anos 30 na Avenida Professor Joaquim Barreto, altura de onde é o posto de gasolina Outeiros de Passargada, ainda era o único acesso que ligava o centro de Cotia ao bairro Bigarelli, que hoje atende-se pelo nome de Atalaia, houve um acidente com uma charrete, vitimando uma mulher que passava uns dias na chácara do Sr. Emílio Guerra, ex-prefeito de Cotia nos anos 40 e 60. Ela veio a falecer dois dias depois devido aos ferimentos. Contava-se que os cavalos se assustaram e a charrete tombou para o lado do barranco. Ela tinha por volta de 30 anos e morava em São Paulo, veio passar um final de semana com familiares a convite do Sr. Emilio Guerra. Meus avós contaram duas ou três vezes esta história que, como muitas, se perderam com o tempo…

Wagner havia mudado de São Bernardo do Campo para Cotia junto à sua família no começo doa anos 80 e foi morar no bairro do Atalaia, próximo ao Postinho de Saúde. O conheci em 1984, por intermédio de seu irmão, Marcos, que trabalhava na antiga empresa Syntecrom. Como os amigos da época foram se aproximando, Wagner acabou se tornando uma pessoa sempre presente em nossas vidas.
Seus dons impressionavam, era artista plástico e estava organizando uma vernissage no Palácio da Cultura, no centro de São Paulo. Wagner sempre mostrava as obras que iria expor, com exceção de uma que além de não estar pronta, seria uma surpresa.
Wagner, assim como seus irmãos, era espírita e de todos era o mais sensitivo, percebia isso claramente ao olhar para seus olhos e a forma que seu rosto mudava quando se deparava com algo sobrenatural.
Por volta de 1983, Wagner voltava sozinho de um baile no Arakan Club e estava caminhando pela subida que dá acesso ao bairro Atalaia quando teve uma visão:
As luzes de mercúrio haviam se apagado; olhou para trás e percebeu que todas as luzes do centro também. Por um momento pensou em se tratar apenas de um apagão, mas percebeu que tudo havia desaparecido: os postes, os paralelepípedos, as poucas casas. Ao seu redor era tudo mato e uma pequena estrada de terra cortava aquele lugar… Era isso que seus olhos conseguiam ver no meio da escuridão.
Ficou parado por alguns minutos, tentando entender o que estava acontecendo quando um frio na espinha o congelou, deixando-o sem qualquer movimento. E assim, viu algumas pessoas descendo com lamparinas na mão iluminando a estrada em sentido ao centro de Cotia. Em seguida três charretes, uma delas puxava um caixão e passou por ele, e ele viu sentado junto ao cocheiro, uma mulher, com diversos ferimentos, de cabeça baixa. Sentiu suas costas doer devido à tensão, mas ao mesmo tempo sentiu um alivio de todo aquele peso desabar, caiu no chão e percebeu que as luzes haviam voltado, o centro da cidade voltou à sua visão, assim como algumas casas, os paralelepípedos e a sua consciência.
Ficou impressionado com o que viu e saiu correndo em direção à sua casa, mesmo ainda tonto e com dores no corpo, conseguiu voltar para casa e durante dias aquelas imagens não saiam de sua cabeça. Então foi em busca de respostas e descobriu que naquele lugar onde viu o cortejo, foi exatamente onde aconteceu o acidente há décadas e que de alguma forma, ainda havia algo ali que ficara perdido na história, que ninguém sabia exatamente o que era, por isso, durante 15 dias ele ficou andando de madrugada na região do acidente, sem nunca ter tido sucesso. Muitas coisas passaram pela sua cabeça, que os cavalos teriam se assustado com algo, fazendo tombar a charrete. De qualquer forma, ele se esqueceu do ocorrido, até que na exposição que ocorreu, se não estou enganado, em maio de 1985, lembro-me do ano devido ao evento do primeiro Rock in Rio. Estávamos todos na vernissage e no centro dela, uma obra coberta por um tecido, que foi mostrado próximo ao fim do evento, e era uma pintura a óleo de um cortejo (tentei contatar o Wagner para saber se ele tinha ainda a obra, ou se tinha fotos, mas não consegui falar com ele).
O segundo contato com esta mulher ocorreu na vernissage. Conversando com ele, no dia, me contou que viu a mulher duas vezes olhando para o quadro, ainda coberto pelo tecido.
Esta história ocorreu primeiramente nos anos 30, ouvi meus avós contando e depois alguns moradores antigos da cidade também relataram ter ouvido falar. Mais recentemente, nos anos 80, o Wagner tentou levantar a história, mas sem muito sucesso, apenas o que viu naquele dia. O que é intrigante, é que ele, assim como muito moradores não sabiam de nada, principalmente o local do acidente. Quem sabe esta mulher deixou algo para trás ou tentou deixar alguma mensagem? Não saberemos nunca, pelo único fato de não termos controle dos mistérios que assolam nossas vidas.

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Tem mais contos e causos sobrenaturais? Tem histórias e estórias antigas de Cotia? Manda pra nós. Na próxima vou escrever sobre uma figura importante da história do Brasil que veio se esconder em Cotia. Aliás, tem duas histórias de personagens que fugiram para cá no passado, mas isso eu vou contar depois! Abraço

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