Coluna Sexo e Relacionamento, por Simone Casemiro: O rosto por trás do abuso

Tive certa dificuldade em começar esse texto, pois é um tema bem delicado, mas não tem outra forma: Abuso! Há um rosto por trás de cada mulher que sofre ou já sofreu com isso.

Uma em cada três mulheres sofrem ou já sofreram algum tipo de violência, seja ela física, emocional, sexual, moral e até violência patrimonial.

É um numero bem assustador e confesso que eu achava que isso era algo muito longe da minha realidade. Eu sempre ouvia falar em abuso contra a mulher e há alguns anos eu achava que isso se limitava a abusos físicos, quantas vezes me peguei criticando mulheres que sofriam maus tratos de seus companheiros, dizia que se elas quisessem, realmente, poderiam mudar aquela situação. Engano meu, na verdade é possível mudar sim, porém exige muita coragem, forca e fé.

Quando se fala em relacionamento abusivo, logo pensamos em forca física, cárcere privado, marcas pelo corpo, etc. Infelizmente isso não é tudo, eu vivi durante anos uma relação abusiva, onde sofria danos emocionais constantes, ele diminuía minha autoestima, ignorava minhas crenças e decisões. Ele me impedia de sair, de conviver com amigas e até familiares, fazia chantagem psicológica para que eu me mantivesse em casa e isolada do mundo, controlava meu modo de me vestir, de falar, até mesmo as músicas que eu ouvia eram determinadas por ele, como ele era responsável pela renda familiar, pois eu deixei o emprego para me dedicar a criação da nossa filha, apenas ele decidia como e quando o R$ poderia ser utilizado.

Eu estudei muito e não poderia ter o cargo que merecia, pois isso exigiria tempo e dedicação e eu não poderia ficar fora de casa e em qualquer empresa eu estaria cercada por homens e o ciúme dele não permitia.

Após 16 anos eu tomei a decisão de sair desse ciclo, foi muito difícil, principalmente porque eu havia me afastado de todos os amigos e familiares, além de ter uma filha adolescente para educar, hoje entendo a dificuldade que as mulheres tem para se livrar de algo assim.

Eu tive coragem, eu arregacei as mangas e dei um basta, foram anos difíceis, mas não me arrependo, hoje sou uma mulher livre de preconceitos, livre de regras e normas, independente, segura, aprendi a me amar, me valorizar e principalmente me respeitar, respeitar meus limites e priorizo a minha felicidade, antes de tudo e de todos!

Estou longe de ter a vida financeira estável que tinha quando era casada, nosso padrão de vida mudou bastante, batalho todos os dias para que minha filha cresça em um lar de amor, respeito, estabilidade emocional e financeiro.
Em resumo, se eu consegui, vocês também conseguem, é possível mudar, é possível dar a volta por cima, é possível se reencontrar e se reconstruir.
A jornada é longa, mas valiosa!

E temos um canal de atendimento que nos ajuda a enfrentar tudo isso: Central de atendimento a mulher.
Ligue 180. Não se cale, denuncie!

*Simone Casemiro é Administradora de empresas e escritora e tem a coluna sexo e relacionamentos no Jornal Cotia Agora.