Coluna do Professor Marcos Martinez (Professor Marcão): Racismo é crime

O primeiro bilhete carregado de ódio e racista foi enviado por um anônimo (linguagem dos covardes) para uma caixa de sugestão do atendimento ao publico na Prefeitura Municipal de Itapecerica da Serra. Este bilhete foi destinado à funcionária Bruna Dias, estagiaria do RH. Uma jovem preta.
Diante da negação de alguns grupos da existência de racismo no Brasil, este bilhete escancara sua existência, da pior forma possível. O racismo muitas vezes, aparece velado e outras vezes, escancarados. Visto neste bilhete.

O desabafo na carta da jovem Bruna é uma denuncia necessária. A coragem da Bruna é uma coragem que tem que esparramar para todos os cantos dos pais. Procure a justiça. Não tenha medo. Grite!

Bruna não se sinta só na sua luta. Leitores leiam atenciosamente este relato desta Jovem. Agressões como está pode estar acontecendo neste instante com gente próxima que você ama. Nãos e cale! O Racismo deixa cicatrizes profundas na alma. A educação tem um papel de excelência no discurso do respeito à diversidade e as diferenças.

Este bilhete não é ficcional.

Vagabundos funcionários públicos

-Essa mulher de cabelo de Bombril da cor de cebola preta negra fedida, porca podre ridícula gorda
-Preto quando não caga na entrada caga na saída, preto não é gente
-Qual é a diferença de um carro quebrado e uma mulher preta grávida nenhum os dois esperando macacos, preto não é gente esses macacos trabalhando e atendendo nós brancos limpos cabelos lisos
-Seus bostas seus lixos vermes negros fedidos.

Desabafo de uma mulher negra no Brasil de 2022
Boa tarde a todos. Para quem não me conhece eu sou a Bruna Dias, estagiária de RH da Prefeitura Municipal de Itapecerica da Serra – SP e vim aqui hoje fazer um desabafo de um ato racista que aconteceu comigo recentemente.

Esta semana, quando abrimos a caixa de sugestões, reclamações e elogios do meu setor, encontrei uma carta racista deixada lá diretamente pra mim. Nesta carta fui atacada pela forma e cor do meu cabelo, pelo meu estilo de roupa, pelas minhas características físicas, sem ao menos se levado em conta que assim como todos que trabalham comigo, eu também sou um ser humano que tenho sentimentos, que sinto dores como qualquer outro.
O meu direito de ocupar o meu local de trabalho é tão digno como o de qualquer outra pessoa. Sempre me dediquei ao meu trabalho, tratando todos com o devido respeito, zelando pela cooperação. Quem me conhece sabe disso. Exponho aqui que, infelizmente, ser uma mulher negra, é motivo para muitos nos alvejarem. É uma luta diária acordar todos os dias sem saber se terá um amanhã, pois posso ser alvo de racismo na esquina de casa, no ônibus, no trabalho… E isso pode custar minha vida.

Para, além disto, e não menos importante, há a minha postura de ser humano, que sente e carrega este fardo da indiferença, do olhar inferior da sociedade contra mim por motivos que se quer estão sobre meu controle. Assim como muitas mulheres por aí, eu também sou mãe, filha, irmã, tenho família que conta comigo e me espera em casa todos os dias para partilhar como foi meu dia, para cuidarmos uns dos outros. Ninguém pensa nisso quando resolve chamar o outro de vagabundo, cabelo ruim, etc.

Minhas características físicas não me tornam menos competente no meu trabalho, caso alguém ainda tenha dúvidas. Tem um cabelo Black não me faz saber mais ou menos que o outro. A minha cor de pele, as minhas roupas, o meu estilo não define o meu caráter ou postura.
Esta situação foi entregue nas mãos das autoridades para que possam tomar as devidas providências. Todos temos deveres e direitos. Eu jamais permitirei, enquanto uma mulher honesta, honrada e de caráter, que essas situações fiquem impunes. Buscarei por justiça toda vez que algo similar acontecer e fique ciente, quem cometeu este crime, que por mais que eu tenha ficado muito triste com a situação, eu sigo invicta porque quem me guarda não dorme. Enfim, desculpem-me, amigos pelo desabafo, mas é isso.

*Marcos Martinez – Escritor – formado em História –, atuou na Secretaria da Educação de Cotia de 2000 a 2008. Atualmente presta trabalho na fundação Gentil na elaboração e implantação de projetos educacionais para o Ensino Fundamental. Escreveu os livros Memória &imagem e Hospital de Cotia: um símbolo. Escreve mensalmente no Jornal Cotia Agora.