Coluna de Marcos Martinez (Professor Marcão); Um volume muito grande de material escolar: Pra quê?

Sabe, uma coisa que precisamos parar e pensar um pouquinho é sobre as datas comemorativas ou datas que anunciam o início ou o fim de alguma coisa (evento ou solenidade). Esses eventos podem provocar uma falsa ilusão de que tudo vai começar de novo. Ilusão! Ora, a vida não é fragmentada desse jeito, com o estalar de dedos, tudo é novinho (nem sempre). Maravilhoso! Não temos o poder de compartimentar nossa história de vida e dizer que tudo pode ser esquecido. Somos uma simbiose do passado, do presente e de sonhos de olho no futuro.

Natal, Ano-Novo, Dia das Mães e volta às aulas são eventos que estão associados ao consumo, exibicionismo, aparência e tantos outros adjetivos. Há muito tempo ausente de um sentimento religioso. Um sentimento de união. É cada um por si.

Como é difícil comemorar esses eventos como antigamente. Um abraço valia muito, mais do que um presente. Um livro de presente valia mais que um mundaréu de material escolar (muitas vezes nem serão usados). Uma conversa tête-à-tête valia muito mais que as redes sociais (nada contra as redes sociais). Tudo isso mostrei para dizer que estamos vivendo em um mundo de faz de conta. Em muitos casos atendemos e compramos o material escolar das listas escolar sem qualquer questionamento. Qual a qualidade de ensino que meus filhos estão tendo (seja escola pública ou particular)? Esta montanha de material exigido vai de fato contribuir para a formação do meu filho?

Talvez inconscientemente queiramos defender nossos filhos da crueldade de quem tem coisas (objetos). Defender de gente que sobressai pelo que tem não pelo que é. No Natal o melhor presente! (nem que demore um ano para pagar). Que espírito natalino o quê! Na volta às aulas uma mochila da moda com uma estampa com o bichinho do momento (mochilas caríssimas). Cadernos cafonas. Temos que preparar nossos filhos para competir. Evitar que eles sejam humilhados. Humilhados por não ter. Como sofremos só de imaginar que nosso pimpolho esteja passando constrangimento por não ter.

Tem lista de material que recebemos que é um abuso à inteligência de qualquer pai. Mesmo assim compramos. Recebi uma carta de uma mãe que foi fazer a rematrícula da filha e, ao receber a lista material, era pedido apenas o básico. Quase não acreditou. Ainda salientou a importância da escola na valorização da formação da sua filha. Tratou-a como gente. Coisa rara na pedagogia das escolas hoje, particular ou não. O melhor celular! O melhor caderno! A melhor roupa! A melhor mochila! E o conhecimento onde fica?

Nada contra a existência de lista de material.

*Marcos Martinez – Escritor – formado em História –, atuou na Secretaria da Educação de Cotia de 2000 a 2008. Atualmente presta trabalho na fundação Gentil na elaboração e implantação de projetos educacionais para o Ensino Fundamental. Escreveu os livros Memória &imagem e Hospital de Cotia: um símbolo.