Coluna de Iris Neves: Protagonismo na Carreira

O conceito de protagonismo é o de que existe um personagem principal, que é responsável pelas ações mais importantes dentro de um ambiente, com controle sobre toda a trama da história.
O protagonista é o personagem principal de um filme, por exemplo. Agora, se você pensar na sua vida como um filme, o protagonista seria você. Pode parecer algo banal mas, na verdade, ser protagonista é carregar uma grande responsabilidade nas costas. Pense bem: se o protagonista é quem detém o controle sobre todas as ações da trama, logo, ele também deve carregar as consequências de tais ações, não é?

Muito se fala sobre “tomar as rédeas da própria vida”, “se colocar no banco do motorista”, “ser o dono de si mesmo” e por ai vai. A verdade é que essas frases são quase um pleonasmo, porque existe aí uma redundância bem grande. Se alguém lhe diz para “tomar as rédeas da própria vida”, eu lhe digo que você nunca perdeu as rédeas para que precise toma-la de volta. Se alguém lhe diz que você precisa “ser o dono de si mesmo”, eu lhe digo que ninguém mais é seu dono além de você mesmo. E se alguém lhe diz que você precisa “se colocar no banco de motorista”, eu digo que você nunca esteve em outro banco além do de motorista de sua própria vida. Isso porque esses são papéis que você sempre desempenhará, independente da sua vontade ou não. A partir do momento que você possui escolha sobre algo, essa escolha e as consequências geradas por ela passam a ser suas.

“O vaso caiu da minha mão”. Ora, até onde eu me lembro, um vaso não tem vida própria para se rebelar e querer se livrar do aprisionamento. Logo, a única maneira de um vaso cair da sua mão é se você deixar ele cair ou derrubá-lo. O correto seria “eu deixei o vaso cair da minha mão”. De sujeito passivo, que recebe a ação, você se torna o sujeito ativo, que faz a ação. Percebe como essa mudança gera um impacto na forma como você recebe a fala? Toda a ação exige um sujeito e, quando se trata da sua vida, o sujeito sempre será você mesmo.

Essa é uma tática utilizada constantemente por nós: terceirizar a decisão para o outro, que será responsável também por todas as consequências, tanto as boas quanto as ruins, provindas desta decisão. Quando a consequência é algo bom, exercemos a gratidão (que é um sentimento maravilhoso, mas isso eu deixo para outro artigo). Quando a consequência é algo ruim, a culpa é do outro, portanto, você entende que não tem nada a ver com isso. Comece a olhar com carinho para as frases que utiliza no seu dia a dia, observe quem você utiliza como o sujeito ativo das ações que norteiam sua vida. A resposta para essa reflexão diz muito sobre a forma como você lida com seus principais problemas.

Eu gosto muito da ideia de que quando modificamos a nossa fala, modificamos nossa maneira de pensar também. Leva tempo, mas o cérebro começa a fazer novas associações e vai modificando o modelo mental de acordo com o que ele recebe como informação. Por isso, é importante que você selecione o que você envia para ele. Quanto mais você adiciona ao seu vocabulário palavras e frases que assumam o seu papel como protagonista da situação, mais o seu cérebro te projeta como tal. É aquele ditado: Repita muitas vezes uma frase e ela se tornará realidade. Não digo que essa frase é verdadeira para tudo, mas neste caso, está super correta. Olhe para a sua fala e passe a fazer modificações fazendo com que você seja o sujeito ativo das ações que dizem respeito à sua vida.

Junto com esse processo todo de aceitação do nosso protagonismo vem a dificuldade de tomar decisões, paralelo ao sentimento de culpa quando algo dá errado (e vai dar errado em alguns momentos, afinal, todos cometemos erros). É preciso ter cuidado com o seu bem-estar emocional para que isso não gere frustração e faça com que você comece a associar o fato de assumir o seu protagonismo com algo ruim.

Uma boa solução é encarar os seus erros como parte do processo de aprendizado. Também é importante praticar o auto perdão, buscar autoconhecimento, e agir com coragem. Não existe ninguém neste mundo com a habilidade de acertar sempre, isso é impossível. Portanto, assuma a premissa de que você irá errar e que está tudo bem: o importante mesmo é aprender com esse erro. Sem contar que você também vai acertar muitas vezes, e a sensação de fazer algo bom para si mesmo é muito satisfatória, e é preciso saber reconhecer isso, que é o que alguns chamam de auto estima.

Olhando para carreira, assumir o protagonismo é entender que você é o dono da sua própria carreira. Levando em consideração o cenário atual, é preciso admitir que o ambiente externo tem grande influência e impacto quando se trata do mercado de trabalho, mas que a escolha de buscar e até mesmo fazer boas oportunidades está nas suas mãos. Na prática, isso significa que você dificilmente pode mudar o fato de sua empresa estar passando por reestruturações internas, mas você pode se manter atualizado e olhar para o mercado com mais frequência.
Dessa forma, se você for desligado devido ao cenário econômico do país (ambiente externo), terá mais facilidade em encontrar um novo trabalho pois se manteve atualizado, fez networking, e se aplicou para vagas (protagonismo).

Isso pode ser aplicado em outras ocasiões. Por exemplo, você pode participar dos treinamentos da empresa, fazer networking, aprimorar conhecimento, liderar projetos dentro da sua área, participar de projetos voluntários, compartilhar conhecimento, colaborar com os colegas, engajar o time, etc. Essas são algumas ações que partem de escolhas suas e que podem te ajudar a alavancar a carreira.

A mensagem que fica aqui é a de que o protagonismo é inerente ao ato de viver, de forma que não é possível abdicar desse direito. O que eu te aconselho a fazer é criar consciência disso e fazer o melhor com essa informação. Ter auto cuidado é muito importante para que esse processo não traga mal-estar e para que ele ocorra de forma sustentável, por isso, sempre pratique o auto perdão e busque formas de aprender com os erros.

*Iris Neves é pós graduanda no curso de Gestão Estratégica de Recursos Humanos na Universidade Presbiteriana Mackenzie e graduada em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Já atuou nas áreas de Desenvolvimento Organizacional, Engajamento e Cultura, Treinamento, Consultoria Interna de Recursos Humanos, e atualmente é Analista de Recursos Humanos.
Adepta à práticas de meditação e amante de corridas de rua, Iris escreve quinzenalmente para o jornal sobre temas ligados ao ambiente empresarial, principalmente voltado para práticas de Recursos Humanos dentro das organizações.
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