Coluna da psicóloga Adriana Biem:“Relacionamento é difícil mesmo”, é mesmo?

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Ouço essa frase inúmeras vezes, vindo de todos os lugares, todas as pessoas, talvez como uma forma de se conformar diante de situações difíceis ou diante do seu próprio desejo de manter uma relação.

Mas será que é assim? Será que deveria ser assim? Não estou aqui vendendo algo que não existe, vendendo um mar de rosas, algo parecido com o “felizes para sempre” das princesas da Disney, mas tampouco acho válido esse senso comum, essa ideia coletiva de que é difícil mesmo portanto, acostume-se.

A reflexão dessa frase é profunda e muito individual. Impossível bater o martelo e dizer é isso ou aquilo, mas a reflexão deve ser jogada para análise de cada um.

Eu, dentro da minha concepção e verdade, acredito que a parte ruim dos relacionamentos, deve ser a exceção, não a regra, como se prega por aí. Da onde tiramos que, por exemplo, é difícil porque existem brigas? Brigar é ruim? Difícil? Difícil pra mim é aquela briga boba que a gente tem (e todo mundo tem) pela toalha molhada em cima da cama, ou porque um quer o ar condicionado ligado enquanto o outro morre de frio e poderia dormir de edredom até nas noites mais quentes de verão.

Óbvio que elas acontecem, acontecem porque pessoas têm manias, hábitos e acima de tudo, são pessoas, são diferentes, são únicas. É preciso sim respeitar algumas manias quando resolvemos dividir a nossa vida com alguém, porém esse não deve ser o motivo de grandes brigas, simplesmente porque não levam a lugar nenhum e só contribuem para deteriorar o relacionamento dia a dia.

É preciso saber se por trás dessas “brigas bobas”, não existem aspectos mais sérios e relevantes que não são discutidos e deixam ocultos grandes mágoas e tristezas, mas aqui a vilã é a falta de comunicação, e não a briga em si.

Agora, aquela briga maior, por um motivo importante, pode até parecer difícil, mas a vejo como um “difícil pra ficar fácil”. Explico, ela deve servir como uma forma de aprendizado do outro, como algo que vai fazer o relacionamento crescer e se fortalecer, auxiliar a encontrarmos em nós mesmos o que estamos fazendo para contribuir para que esse relacionamento esteja difícil.

Isso só acontece quando há abertura e sensibilidade suficiente para se mergulhar nas profundezas de outro ser humano. Se assim for, brigar deve ser aquele momento difícil, no qual você conhece a outra pessoa da forma mais íntima e quer fazer isso, que fazer porque quer investir naquela relação. Quer assim, porque assim é o difícil para ficar fácil.

Podemos ser felizes nos nossos relacionamentos, a partir do momento que a gente consiga entender o que é de fato a felicidade, e ela não é o que estamos acostumados a ver em filmes românticos.

Conviver com alguém no dia a dia é uma arte, mas difícil mesmo é nos conhecermos tão bem, a ponto de não deixarmos nossas dificuldades se tornarem dificuldades das nossas relações. Criamos expectativas surreais a respeito de relacionamentos, e quando elas não são cumpridas (raramente são), chegamos à conclusão de que relacionamentos são difíceis. Quando difícil mesmo é não criá-las, difícil mesmo é ficar com o real e não com a fantasia, difícil é não idealizar, difícil mesmo é nos deixarmos ser bagunçados pelo outro, questionar ideias antigas, aprender coisas novas, ceder, mudar de opinião e tudo o mais que é inerente à palavra relacionamento.

Tente ver o seu relacionamento sob uma nova ótica, porque muitas vezes quando acreditamos que algo é difícil, acabamos desistindo de tentar novas possibilidades e nos convencendo de que estávamos certos a respeito dessa dificuldade. Nem todo relacionamento vai durar “para sempre”, mas também não precisam acabar na primeira dificuldade. Faça sua parte!

*Adriana Biem é psicóloga e escreve quinzenalmente no Jornal Cotia Agora – Telefone: 9-9495-2141 – adrianabiempsicologa.com.brEmail: [email protected]