Câncer de mama é tema da coluna do Dr. Thiago Camargo

Outubro é rosa, mas poderia ser cinza, amarelo, verde, azul… diante da importância da reflexão sobre o assunto. A campanha iniciada em Nova York na década de 90 ganhou o mundo como alerta às mulheres sobre o câncer de mama.

No Brasil, o projeto é mais recente e tem despertado a atenção delas para a região do corpo mais atingida pela doença. Entre os homens, o câncer de pele (não melanoma) e de próstata são os mais frequentes.

A primeira iniciativa vista no Brasil em relação ao Outubro Rosa, foi a iluminação em rosa do monumento Mausoléu do Soldado Constitucionalista (mais conhecido como o Obelisco do Ibirapuera), situado em São Paulo, no dia 02 de outubro de 2002 quando o monumento ficou iluminado de rosa durante a comemoração dos 70 anos do Encerramento da Revolução.

É importante que as mulheres, independentemente da idade, conheçam seu corpo para saber o que é e o que não é normal em suas mamas. Ao identificarem alterações suspeitas, devem procurar imediatamente um serviço de saúde para avaliação profissional.

Não há uma causa única para o câncer de mama. Diversos fatores estão relacionados ao câncer de mama. Ser mulher e envelhecer são os principais fatores que aumentam o risco.

Fatores ambientais
• Obesidade, principalmente após a menopausa;
• Sedentarismo (não fazer exercícios);
• Sobrepeso;
• Consumo de bebida alcoólica;
• Exposição frequente a radiações ionizantes (Raios-X).
Fatores hormonais
• Primeira menstruação (menarca) antes de 12 anos;
• Não ter tido filhos;
• Primeira gravidez após os 30 anos;
• Não ter amamentado;
• Parar de menstruar (menopausa) após os 55 anos;
• Ter feito reposição hormonal pós-menopausa, principalmente por mais de cinco anos.
Fatores genéticos
• História familiar de câncer de mama e ovário, principalmente em parentes de primeiro grau antes dos 50 anos;
• Alteração genética;
• A mulher que possui um desses fatores genéticos tem risco elevado para câncer de mama.

A presença de um ou mais desses fatores de risco não significa que a mulher terá necessariamente a doença.

Amamentação, prática de atividade física e alimentação saudável com a manutenção do peso corporal são fatores de proteção e estão associados a um menor risco de desenvolver a doença.

Durante muito tempo, as campanhas de conscientização para o câncer de mama divulgaram a ideia de que o autoexame das mamas, baseado na palpação, era a melhor forma para detectá-lo precocemente. Mas o tempo passou, a medicina evoluiu e as recomendações mudaram.

O autoexame continua sendo importante – mas de forma secundária. Ele é essencial para que a mulher conheça seu corpo, em especial sua mama, e possa perceber qualquer alteração. O autoexame pode ser feito visualmente e por meio da palpação, uma vez por mês, após o final da menstruação. Para as mulheres que não menstruam mais, o ideal é definir uma data e fazê-lo uma vez ao mês, sempre no mesmo dia. Entretanto, ele não substitui a importância do exame clínico feito por um profissional da saúde por meio da palpação e, menos ainda, a mamografia.

É fundamental que, além do autoexame, todas as mulheres acima dos 40 anos façam seus exames de rotina, entre eles a mamografia. Só ela pode detectar precocemente um nódulo pequeno e aumentar muito as chances de cura.

Fundamental e insubstituível, a mamografia pode detectar nódulos de mama em seu estágio inicial, quando não são percebidos na palpação do autoexame feito pela mulher ou pelo profissional de saúde. Por serem pequenos, esses nódulos têm menor probabilidade de disseminação e mais chances de cura.

Por essa razão, as mulheres acima de 40 anos devem realizar a mamografia regularmente, em intervalos anuais. E, com a efetivação da Lei Federal nº 11.664/2008, em vigor a partir de 29 de abril de 2009, toda mulher brasileira tem direito a realizar pelo SUS sua mamografia anual a partir dessa idade.

No entanto, de forma controversa ao Conselho Federal de Medicina e à maioria das ONGs diretamente ligadas à prevenção e orientação durante o tratamento do câncer de mama, o Ministério da Sáude, através de Portaria nº 1.253/2013, estabeleceu que os municípios realizem um procedimento condenável: a meia mamografia, denominada mamografia unilateral. Caso os municípios queiram, terão a opção de arcar sozinhos com o custeio de mamografias para mulheres com até 49 anos – podendo remunerar somente a mamografia unilateral, método que não é eficiente na prevenção do câncer de mama.

O INCA (Instituto Nacional do Câncer) – órgão federal situado no Rio de Janeiro – RJ – traz as seguintes recomendações para detecção precoce do câncer de mama:

Mulheres de 40 a 49 anos
Realizar o exame clínico das mamas anualmente.

Mulheres de 50 a 69 anos
Realizar exame clínico das mamas anualmente e mamografia a cada dois anos.

Informa ainda que antes dos 50 anos, as mamas são mais firmes e têm menos gordura (mamas densas), o que torna a mamografia limitada para identificar alterações. Por este motivo, quando o exame é realizado antes da faixa etária recomendada, pode trazer alguns riscos como:

*Resultados incorretos: suspeita de câncer de mama, que requer outros exames, sem que se confirme a doença (esse alarme falso gera ansiedade e estresse) ou resultado normal, quando existe o câncer (esse erro gera falsa segurança à mulher).

*Ser diagnosticada e tratada, com cirurgia (retirada parcial ou total da mama,) quimioterapia e radioterapia, de um câncer que não ameaçaria a vida: isso ocorre em virtude do crescimento lento de certos tipos de câncer de mama, ou no caso de pacientes acima de 70 anos.

*Exposição aos Raios X: raramente causa câncer, mas há um discreto aumento do risco quanto mais frequente é a exposição.

Em caso de resultado alterado no exame clínico das mamas, a mamografia é indicada e, neste caso, ela é considerada “mamografia diagnóstica”.

Como todo exame médico, a mamografia está sujeita a deficiências. Acredita-se que cerca de 10% dos casos comprovados de câncer de mama não sejam detectados na mamografia, principalmente em mulheres jovens, que têm a mama densa. A ultrassonografia pode auxiliar no diagnóstico quando associada à mamografia, podendo ser muito útil para detectar lesões duvidosas.

A médica radiologista Linei Urban, coordenadora nacional da Comissão Nacional de Mamografia (CNM), explica que a mamografia é o único método de rastreamento que demonstrou ser capaz de promover uma redução absoluta da mortalidade nos casos de câncer de mama (em torno de 50%). Esclarece, ainda, que apesar de a incidência ser menor nas mulheres com menos de 49 anos, os tumores têm crescimento rápido. Informa ainda que pesquisas internacionais concluíram que quase 20% das mortes por câncer de mama e 34% dos anos de expectativa de vida perdidos por câncer de mama ocorreram em mulheres abaixo de 50 anos.

Diante deste quadro preocupante, especialmente para as mulheres, as quatro entidades médicas (Conselho Federal de Medicina (CFM), Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)) estão contestando judicialmente a edição da Portaria 1243/13 e estabelecendo um canal de diálogo com o Ministério da Saúde para equacionar o problema com o objetivo de reduzir seu impacto no aumento dos indicadores de mortalidade. Por outro lado, elas recomendam aos médicos em atendimento que continuem a fazer o máximo pela prevenção, usando a mamografia como forma de rastreamento para mulheres com mais de 40 anos e não aceitando a imposição da chamada mamografia unilateral.

Veja o que é verdade ou não quando o assunto é mamografia:

A radiação liberada pelo exame é perigosa e pode causar câncer.

Mito. A radiação usada na mamografia é muito baixa e não causa problemas. Para se ter uma ideia, ela não passa de 1,5 milirem, enquanto a dosagem máxima permitida, sem oferecer riscos à saúde, é de 3 milirem.

Mulheres com silicone nos seios não podem fazer mamografia.

Mito. Elas podem fazer o exame, mas é bom avisar o profissional sobre a cirurgia para que ele faça manobras específicas na hora da compressão da mama. E não é preciso se preocupar: ter silicone não faz com que o exame doa mais que o normal. Também não há risco de o implante se romper durante o procedimento.

Não é indicado usar desodorantes e cremes na região das mamas e da axila no dia do exame.

Verdade. Alguns produtos, principalmente desodorantes antitranspirantes, têm partículas que “brilham” durante o exame, o que confunde a visualização das imagens e pode encobrir lesões.

Mulheres grávidas não podem fazer mamografia.

Mito. Mulheres em qualquer período da gestação podem fazer o exame, mas devem alertar o médico para que sejam feitas técnicas de preservação do feto. Mesmo em casos de atraso menstrual – com possibilidade de gravidez – o médico precisa ser avisado.

*Dr. Thiago Camargo (CRM 107445) é ginecologista e especialista em saúde da mulher e escreve  no Cotia Agora.