Cães morrem de fome em canil de Ibiúna

Pelo menos quatro cães foram encontrados mortos na tarde de quarta-feira (8), em um canil particular localizado no bairro Rio de Una, em Ibiúna.

Outros seis animais ainda vivos encontrados no mesmo local estavam bastante debilitados, sem comida ou água há pelo menos dois meses, sendo que só sobreviveram porque se alimentaram das carcaças dos que morreram. Os sobreviventes foram resgatados pela equipe de Zoonoses da prefeitura, que contou com apoio da Guarda Civil e Polícia Militar. A proprietária do estabelecimento, P. R. C., de 50 anos, foi levada para à Delegacia de Ibiúna, mas prestou depoimento e foi liberada. Ela alegou que não sabia da situação, pois a responsabilidade do canil seria de um funcionário identificado como Reinaldo, que deveria cuidar dos bichos. As cenas fortes e chocantes flagradas por fotos e vídeos dos animais mortos chocaram a população pelas redes sociais.

De acordo com os policiais que atenderam a ocorrência, vizinhos do sítio sentiram o cheiro forte de bicho morto e, como não viam movimentação de pessoas há um bom tempo, resolveram entrar no canil para ver o que estava ocorrendo. “Foi uma das cenas mais tristes que já vi na minha vida. Havia carcaças de animais pra todo lado e os que ainda estavam vivos, se encontravam bastante debilitados e ficaram desesperados com a nossa chegada. Quando demos água e ração para os mesmos, eles faltaram comer até a panela. Imediatamente acionamos a Zoonoses, Guarda Municipal e entidades de defesa dos animais”, contou o morador que foi o primeiro a entrar na propriedade.

A partir de então, foi montada uma operação para resgatar os animais e identificar os responsáveis pelo canil. A veterinária da Zoonoses, Gislaine Martins, disse que em toda sua carreira nunca viu uma cena tão chocante quanto a encontrada no local. “Eles estavam sem qualquer alimentação há pelo menos dois meses. Os que sobreviveram estão totalmente debilitados e estressados, com um choque psicológico muito grande pela situação que passaram, sendo que só sobreviveram porque se alimentaram da carcaça dos que morreram. O local estava muito sujo, com um cheiro insuportável, sendo que alguns dos que faleceram estavam até com a coleira e a chapinha de identificação”, lamentou a veterinária.

Proprietária alega inocência

A proprietária do canil negou que comercializasse os animais e disse que ficou surpresa com a situação que encontrou o local. “Há uns 5 anos, aluguei aquele terreno, construí as baias, tudo correto para dar total assistência aos animais. Entretanto, tive que mudar para uma chácara no Cupim e contratei um funcionário para cuidar dos cães. Ele cuidava direitinho e jamais imaginaria que aconteceria uma situação assim. Só que minha filha ficou doente e fiquei dois meses sem poder ir até lá ver os bichos de perto. Entretanto, todos os dias eu perguntava para o funcionário e ele dizia que estava tratando bem dos cães e que estava tudo certo. Estou chocada com tudo o que aconteceu. Foi uma traição muito grande. Vou lutar para ter os animais de volta”, declarou a dona do canil. Ela acrescentou que o funcionário fugiu assim que ficou sabendo do ocorrido.

Representantes da ONG OPA! e outras entidades de defesa dos animais também compareceram ao local e ficaram indignados com as cenas que presenciaram. “Por isso que somos contra canis, pois acontece muito dessas coisas. Vamos cobrar e esperar que a polícia e o Ministério Público tomem providências e os responsáveis sejam punidos. Uma atrocidade dessas não pode ficar impune. Por isso, pedimos o apoio de todos”, pediu Lecir Eveline, presidente da OPA!.

Todos os animais resgatados, sendo dois Akitas, dois Husky Siberiano e dois vira-latas foram levados para o Centro de Zoonoses, onde passarão por tratamento e depois serão colocados para a adoção.

A proprietária do canil vai responder em liberdade por Maus Tratos a Animais e se condenada pode pegar de três meses a 1 ano de prisão, além de multa, sendo que a pena pode ser aumentada em até um terço se houver morte do animal.

Por Tiago Albertim – Jornal do Povo