Brasileiro é candidato à presidência dos EUA

A imprensa norte-americana só fala de republicanos e democratas, mas saiba que a lista de candidatos à Presidência dos Estados Unidos que disputam como independentes tem mais nomes que a relação de deputados daquele país, que são 435.

Entre eles, há o filho de um imigrante brasileiro. Mas, em vez de falar de política externa ou economia, Rod Silva, 43, prefere divulgar números sobre colesterol, obesidade e diabetes. “Fazer a América se tornar saudável outra vez” é o seu mote.

Fundador de uma cadeia de restaurantes de comida saudável, Silva faz de sua inexperiência política um diferencial: “Sou um estranho em Washington e, por isso, não preciso fazer acordos em troca de favores políticos”, declara. “Sei o que é ter começado do nada, o que é ter de pagar as contas todo mês e ter de tomar as decisões certas”, relata o candidato único do “partido da nutrição”, que tem como vice na chapa o irmão e médico Rich Silva, consultor para assuntos de saúde da campanha.

Como o pai, que saiu de Santos (SP) para estudar engenharia nos Estados Unidos com apenas 18 anos, o empresário conta que viveu “o sonho americano” –termo repetido à exaustão. Diferente de Donald Trump, que diz ter começado seu negócio com um pontapé de US$ 1 milhão (R$ 4,09 milhões), Silva entrou para o mundo dos negócios com apenas U$ 6.000 (R$ 24.515). Apaixonado por fisiculturismo desde a adolescência, abriu uma loja de suplementos alimentares e smoothies ao lado de uma academia na região de Colônia, em Nova Jersey.

Os clientes se interessaram pela marmita saudável que o jovem musculoso levava ao trabalho, o que o incentivou a instalar uma grelha e vender comida. Assim nascia a Muscle Maker Grill, em 1995, marca que hoje conta com mais de 50 franquias em 13 Estados, e sobreviveu intacta à crise de 2008.

Não é só o nome do restaurante que lembra uma academia –com paredes vermelhas, mesas pretas e fotos de fisiculturistas penduradas na parede, a cadeia difere de outras redes de comida saudável norte-americanas que esbanjam imagens de frutas, saladas e orgânicos. A vantagem para os clientes, ali, é saborear o que todo mundo gosta –wraps, grelhados, sanduíches e bowls– mas em versões com pouco carboidrato ou sem glúten, e com o número de calorias à disposição. Os lanches até conquistaram um espaço cativo no Estádio Metlife, a casa dos times de futebol americano Jets e Giants.

Silva afirma que o açúcar é o principal vilão da saúde. Apesar disso, é possível comprar refrigerantes (não só diet) em unidades do Muscle Maker. Como empresário, o candidato acredita que regular demais não é o caminho. “Menos gasto em imposto significa mais dinheiro para a economia e para a educação. E que torna as pessoas melhores e mais saudáveis é consciência, não controle”, defende. É com a fórmula que encontrou para fazer sua rede crescer que ele espera tornar seu povo mais saudável: substituir os ingredientes, sem sacrificar o prazer de comer.

Confira abaixo a entrevista concedida ao UOL, por telefone, em Nova York. Apesar de dizer algumas coisas com boa pronúncia em português, ele preferiu falar em inglês.

UOL: O senhor se identifica mais como liberal ou conservador?
Rod Silva:
Eu nunca me incluí em nenhuma das duas caixas porque acredito que cada questão deva ser analisada isoladamente, e não à luz de um partido ou de outro.

UOL: Mas o senhor é a favor de uma economia regulada, por exemplo? E qual sua opinião sobre temas polêmicos, como controle sobre armas?
Silva:
 Acho que o excesso de regulação impede que as empresas cresçam e gerem mais empregos. Também é um obstáculo para que empresas pequenas se desenvolvam e vivam o sonho americano, como eu vivi. (…) Na minha opinião, quem não pode ter armas não deveria ter acesso a elas. Acho que a verificação de antecedentes dos compradores é algo positivo, se for feita de forma respeitosa.

UOL: Como foi que se interessou por nutrição e exercícios?
Silva:
Meu pai, que foi o meu grande herói, morreu após sofrer um ataque cardíaco fulminante no carro. Eu estava com ele e claro que isso me marcou bastante. O problema é que, aqui nos Estados Unidos, as pessoas se esqueceram de que, antes de tudo, é preciso cuidar de si mesmo. As pessoas estão preocupadas em trabalhar, mas é preciso ter cuidado, também, com o corpo, a mente e o espírito. Se você quer ajudar os outros, precisa primeiro cuidar de si próprio.

Da mesma forma, para ajudar o país, primeiro é preciso fazer com que as pessoas sejam mais saudáveis. Essa é a mensagem que eu quero passar.

UOL: O que pretende fazer para melhorar os hábitos da população, caso seja eleito?
Silva:
A principal questão é fazer com que as pessoas se conscientizem. Precisamos começar a prevenir as doenças, em vez de apenas tratá-las… Colesterol, obesidade e diabetes são as principais causas de morte no país e geram um custo enorme, que está acabando com os Estados Unidos. Se continuar assim, nosso sistema de saúde vai entrar em colapso. Mas eu não acredito que o controle seja o caminho para isso. Há várias formas de gerar consciência sem que seja preciso controlar o que as pessoas fazem.

UOL: Muitos especialistas têm apoiado o aumento de impostos para itens ricos em açúcar ou gordura, ou mesmo dos refrigerantes. O que acha da ideia?
Silva:
Acho que o açúcar é a pior coisa que você pode consumir. É o que todos os estudos têm apontado. O problema é que aumentar impostos é algo que gera custo para as pessoas, porque tudo fica mais caro. Acho que menos gasto em imposto significa mais dinheiro para a economia e para a educação. O que é preciso é educar. O que torna as pessoas melhores e mais saudáveis é a conscientização, não o controle.

UOL: O senhor foi favorável ao Obamacare? Aumentar o acesso dos norte-americanos à saúde não seria uma forma de incentivar a prevenção?
Silva:
É muito bom que todas as pessoas tenham acesso ao sistema de saúde. Mas, de novo, se não ajudarmos as pessoas a se tornarem mais saudáveis, nem o Obamacare nem qualquer outro sistema será capaz de sobreviver.

UOL: Como filho de imigrante, o que pensa sobre as recentes discussões sobre política migratória, e como vê os comentários de Donald Trump sobre os mexicanos e o asilo aos sírios?
Silva:
Meu pai veio para os Estados Unidos legalmente, passou por todo o processo, conseguiu o Greencard, trabalhou muito. Claro que é preciso cuidar das nossas fronteiras, é uma questão de segurança nacional. Mas se as pessoas vêm legalmente para cá, elas têm direito de viver o sonho americano, como meu pai viveu. Não importa qual a sua nacionalidade.

UOL: Caso não vença, quem apoiará? E quais seus planos, nesse caso? Pensa em tentar uma vaga no Congresso?
Silva:
Acredito que vou ganhar –eu tenho que ser positivo! Se isso não acontecer, vou pensar nas minhas opções. Quero continuar a fazer o meu melhor para ajudar as pessoas a serem mais saudáveis, tornar a América saudável outra vez.

UOL: Apesar de ter nascido nos Estados Unidos, há referências brasileiras no seu dia a dia?
Silva:
A comunidade é grande em Nova Jersey e minha família sempre teve muito contato com brasileiros. Meu irmão, que é médico, tem muitos pacientes de origem brasileira. Eu vejo que existe muita gente que cultiva hábitos saudáveis no país, vai à praia, à academia… eu aprecio muito esse estilo de vida. E meu esporte favorito é o futebol. Torço para o Red Bulls e treino o time de futebol do meu filho.

Por Tatiana Pronin – Colaboração para o UOL, em Nova York