50 anos depois de sua criação, orelhões estão quase extintos em Cotia

Por Beto Kodiak – Repórter

Já foi o tempo em que tínhamos que andar com um monte de fichas telefônicas para poder usar os orelhões espalhados por todo canto do Brasil.

Tinha gente que carregava mais fichas do que moedas. Quem trabalhava na rua então, toda hora precisava ligar para a empresa ou até para a casa. Nas viagens, não podia faltar a ficha de DDD, um pouco mais clarinha e mais cara.

E quando o orelhão era muito usado, enchia de fichas e a pessoa não conseguia mais efetuar ligações até que o funcionário da Telesp passasse para recolhê-las.

Passado um tempo, as fichas foram substituídas pelos cartões, principalmente por causa do vandalismo, pois era comum a depredação dos aparelhos para roubar as fichas que ficavam ali contidas.

Lançado em 1972 em todo o país, projetado pela arquiteta chinesa radicada no Brasil, Chu Ming Silveira, os orelhões foram inicialmente lançados em São Paulo e Rio.

Mas, com o passar do tempo e a chegada dos celulares, os orelhões passaram a se tornar obsoletos para muita gente. As próprias companhias telefônicas pararam de investir na instalação de novos aparelhos na última década.

Em Cotia isso é visível. Na periferia existem raros aparelhos. Na região central eles foram sendo retirados aos poucos e apenas algumas unidades ainda permanecem nas calçadas, sem manutenção e mudos.

Demos um giro pelo centro de Cotia para ver quantos orelhões ainda existem. Vale lembrar que o centro de Cotia ainda é o ‘coração financeiro’ da cidade, pois existem agências bancárias, escritórios, empresas, correios e diversos órgãos e instituições e, consequentemente, a circulação de muitas pessoas.

Encontramos poucos aparelhos, um na Praça Joaquim Nunes, funcionando e outro no IML. Há telefones públicos no Terminal Metropolitano, mas sem a tradicional “orelha”. Um cenário diferente de 2015, quando o Jornal Cotia Agora fez uma matéria semelhante. Só da delegacia até a Prefeitura, tínhamos mais de 20 aparelhos, mesmo com alguns sem funcionar. Nossa leitora Sueli flagrou um orelhão na Rua dos Pinheiros, em Caucaia (foto abaixo).

Nesse giro que fizemos nessa semana, nenhum dos aparelhos era usado por alguém no momento em que nossa reportagem esteve nos locais. Também procuramos algum lugar que venda cartão telefônico e não encontramos.

Podem entrar em extinção?

O número de telefones celulares não para de crescer no Brasil. Segundo dados, só em 2021 eram mais de 110 milhões em uso no Brasil. Enquanto isso, os orelhões caem no esquecimento. Segundo a Anatel, cada aparelho faz, em média, apenas duas ligações por dia.

Por falta de uso, a Anatel reduziu ainda mais o número de “orelhões” no país. Porém, o problema é justamente nos locais onde o sinal dos celulares é fraco ou simplesmente não pegam. Em Cotia há ‘pontos negros’, principalmente nas regiões mais afastadas, como os arredores de Caucaia, Morro Grande e Jardim Japão.

Para parte da população desses pontos, o orelhão é ainda um grande aliado para falar com alguém distante. O problema é que muitos desses aparelhos estão quebrados e sem manutenção, dificultando a vida desses moradores.

O estado de São Paulo conta atualmente com 35.509 mil orelhões. Em todo o Brasil, são pouco mais de 150.643 – número muito inferior ao de celulares. Isso porque, nas áreas urbanas, onde o sinal de telefonia móvel é bom, a população raramente se lembra do telefone público.

Informações da Anatel mostram que em Cotia existem (acreditem) ainda 243 telefones públicos espalhados por todo o município.

Mudanças na cor

Os orelhões foram lançados em duas cores: laranja (que era o convencional) e azul (para ligações DDD).

Em São Paulo, com a venda da Telesp para a espanhola Telefonica, passaram a receber a cor verde-limão. A Vivo comprou a Telefonica e aos poucos foi trocando as “orelhas” pela cor grená, azul, laranja e verde-limão.

Orelhões da Joaquim Nunes e IML