SP registra queda de 74% de mortes por Aids em 24 anos

O estado de São Paulo registrou queda de 74% nos mortes por Aids, 24 anos após registrar o pico de vítimas da doença. Em 1995 foram 7.739 mortes, recorde histórico, contra 2.049 em 2019, de acordo com um estudo da Fundação Seade divulgado nesta terça-feira (27).

Com estes números é possível concluir que em mais de duas décadas, a taxa de mortalidade despencou de 22,9 para 4,6 óbitos por 100 mil habitantes no período.

A análise foi realizada pela Fundação Seade a partir das estatísticas do registro civil. Além da descoberta dos antirretrovirais na metade da década de 1990, os pesquisadores atribuem o controle da epidemia em São Paulo ao esforço conjunto e contínuo do governo federal, do estado, dos municípios e de organizações não-governamentais (ONGs), com foco na prevenção, na testagem e no tratamento.

“Essa queda é resultado de um esforço enorme por uma política pública, que se tornou muito bem estruturada no nosso estado. Enquanto o governo federal garantiu os antirretrovirais pelo SUS, o estado ofereceu mais de 200 serviços para um tratamento integral; os municípios trabalharam no diagnóstico precoce com testes rápidos nas UBSs, e a sociedade cobrou esse engajamento e ofereceu suporte para as questões de discriminação”, explicou a dra. Maria Clara Gianna, coordenadora-adjunta do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo e dedicada ao assunto há 33 anos.

O levantamento da Fundação Seade também acompanhou a composição dos óbitos por Aids segundo a idade, que revelou expressiva queda da mortalidade da população com até 44 anos, e aumento entre aqueles com mais de 45 anos.

Apesar do engajamento dos governos e da sociedade, e da evolução da ciência a ponto de permitir que uma pessoa que vive com o vírus HIV tenha filhos e tome um ou dois comprimidos por dia, o estigma sobre o diagnóstico positivo permanece como 40 anos atrás.

Um levantamento feito pelas autoridades de saúde dos EUA e divulgado no mês passado também mostrou que novas infecções anuais pelo vírus HIV caíram 73% no país entre 1981 e 2019.

Estima-se que 1,2 milhão de pessoas vivam com HIV nos Estados Unidos, e cerca de 13% delas não sabem que têm o vírus. De acordo com o relatório, a incidência anual de HIV aumentou de 20.000 infecções em 1981 para um pico de 130.400 em 1984 e 1985. Os contágios se estabilizaram entre 1991 e 2007, com entre 50.000 e 58.000 infecções por ano, e diminuíram para 34.800 em 2019.

O que mudou e o que ainda falta
A dra. Maria Clara Gianna explicou ao G1 que hoje os medicamentos têm melhor qualidade, os efeitos colaterais são menores, e em quantidades que caíram de até 20 por dia para 2 por dia. No entanto há possibilidade de melhorar ainda mais a redução de 74% das mortes por Aids.

“É possível reduzir muito a quantidade de mortes pela Aids por meio de novas estratégias de prevenção, como por exemplos mais testagem, a profilaxia pré-exposição (PrEP) [comprimido que impede que o vírus causador da Aids infecte o organismo], o controle da transmissão vertical do HIV [como o pré-natal para todas as gestantes a fim de proteger as crianças], e, sobretudo, mais informação pelo fim do estigma e do preconceito que acompanham o diagnóstico”, disse ela.

Segundo Maria Clara, o medo muitas vezes impede que as pessoas façam o teste e abracem o tratamento. A percepção é compartilhada pelas pessoas que vivem com o HIV.

Do G1