Professor Marcos Martinez (Marcão): Dia das Mães

Este ano será diferente dos outros, vou escrever sobre a visão que tenho da minha mãe. Escrever como eu a vejo. Porque você também não escreve sobre a visão que você tem da sua mãe? Escreva! Conto: A minha mãe não é uma mãe de barriga, mas de adoção. Esse gesto de adotar um filho é profundamente humano. Pense nisso. Aqui entre nós, ela é minha mãe de verdade! Deu-me um nome e sobrenome. Educou-me com seu jeito. Sempre pensando no meu bem. Imagine minha mãe com vinte e um anos, recebendo em seus braços com toda dedicação e carinho seu filho recém-nascido. Mulher vaidosa, bonita e inteligente. Adorava organizar as festas do meu aniversário. Cada festa era melhor que a outra. Doces e mais doces. As minhas roupas de criança eram impecáveis. As festas faziam com que me sentisse aceito e amado. As festas reuniam toda família.

No álbum de fotografias em preto e branco as imagens são vivas. Os falatórios, sorrisos e a mesa farta estão ali registrados. Às vezes sinto que aquelas fotos falam comigo. Sinto o cheiro das pessoas. O aroma da comida. Nas fotos em preto e branco os vestidos coloridos com estampas de flores de minha mãe eram lindos. Ressaltavam seus olhos azuis. Quando mexo no álbum de fotografias sinto-me protegido.

Minha mãe adorava passear. Eu adorava acompanhá-la. Sempre visitamos suas irmãs e seus irmãos. Sabe aquela cena de cinema que a mãe puxa o filho pelo braço quando ele está cansado, lembra? Minha mãe fazia igualzinho comigo. Mesmo as pernas não aguentando mais a caminhada, chegava ao destino. Sentia-me tão seguro com ela. Tantas outras histórias em que minha mãe estava presente podem ser contadas!

O tempo nessa época passava tão de devagarzinho! Ele passou lentamente e prazerosamente…

A primeira vez que vi minha mãe chorar foi quando abandonei a escola com dez anos. Todos os conselhos foram dados para que eu não abandonasse os estudos e não foram ouvidos. Preferi trabalhar a estudar. Tem coisa que a vida não permite voltar no tempo. Sabia no meu íntimo que o desejo da minha mãe era que eu voltasse a estudar. Foi um tempo emocional difícil. Anos depois, percebi e senti o porquê das lágrimas da minha mãe. Senti o quanto o estudo me fazia falta. Ela tinha razão. Com todo jeito, sempre me falava da importância de estudar. Sempre querendo meu bem. Lembranças: Tenho guardado nitidamente na minha memória minha mãe vestida de colegial indo para a escola. Sempre correndo atrás do que desejava.

Minha mãe é professora.

Adorava conversar com minha mãe. Às vezes ficávamos horas e horas conversando sobre as dificuldades e alegrias que passamos juntos e vencemos. Sempre fui um filho que exigiu muita atenção da minha mãe. Do jeito dela estava ali presente, como que dizendo “olha filho, estou aqui”. Às vezes eu não enxergava. Mas ela não desistia de mostrar que me amava.

Hoje minha mãe tem oitenta anos.

Falo com ela quase todos os dias. Aprendi a cozinhar com ela. Aprendi a cuidar de uma casa, ainda pequeno, como gente grande. Às vezes insistentemente, digo que a amo. Só para ouvir de volta que ela me ama também. Coisa de gente carente. (Risos.) Aqui contei só um pedacinho da minha história com minha mãe. Tem tantas coisas a serem contadas ainda…

*Marcos Martinez – Escritor – formado em História –, atuou na Secretaria da Educação de Cotia de 2000 a 2008. Atualmente presta trabalho na fundação Gentil na elaboração e implantação de projetos educacionais para o Ensino Fundamental. Escreveu os livros Memória &imagem e Hospital de Cotia: um símbolo. Escreve mensalmente no Jornal Cotia Agora.