Professor Marcão e os “Amigos das Antigas”

Quem já não reencontrou um amigo das antigas e se arrependeu profundamente? E disse: melhor seria não o ter reencontrado.

Talvez inocentemente e carregado de saudades das antigas amizades, esse reencontro fosse apenas para manter aquela imagem positiva que se tinha daquele amigo. Aquela amizade que um dia marcou, por um instante, sua vida. As coisas não funcionam assim! Imaginem se todos nós continuássemos como há trinta anos? Alguns amigos das antigas parecem ter parado no tempo, mesmo o tempo andando aceleradamente.

Há reencontros que valem a pena.

Outro dia reencontrei um amigo das antigas em um Centro Comercial, desses modernos. Quando me viu, veio ao meu encontro. “Poxa cara, que saudade de você. Você não envelhece?”. Deu-me aquele abraço! Começamos a conversar sobre os momentos que vivemos na década de oitenta e, aos poucos, fui percebendo que meu amigo, bicho grilo, não tinha mudado em nada. Radicalmente defendia seus gostos musicais e tudo o que acontecera, fora da sua preferência, não passava de lixo cultural. No campo da política defendeu o socialismo como se ainda existisse plenamente, ou como se estivéssemos vivendo no período da guerra fria. Sua argumentação forte queria me cooptar para a luta armada, contra o capitalismo.

Saí dessa conversa me achando um parasita social.

O que me impressionou, independentemente dos seus pontos de vista, é que ele não acrescentou nenhuma informação do que ocorreu no mundo em todos esses anos. Do jeito que ele defendia suas ideias parecia que não adiantava nenhuma argumentação contrária ou informação. Para ele, sua verdade era absoluta. Calei-me e o ouvi com uma vontade louca que aquele reencontro acabasse.

Longe de qualquer pessimismo, há amizades que valem pela vida toda.

E aquela amizade do amigo que ainda continua mala. Bem mala mesmo! Poxa cara, você está gordo? Poxa você envelheceu? Poxa seu cabelo está branco? Após esse reencontro do amigo mala, saímos à procura de um psicanalista (risos). Mas, mala mesmo é aquela ou aquela que quer salientar enfaticamente seus defeitos. Amigos da onça. E aquele amigo do: eu já sabia! Você conta uma história que tenha marcado sua vida negativamente para um amigo e espera ouvir algo que acalente. Engano seu… Você ouve “eu sabia que não ia dar certo”. Age como se fosse vidente. Ou diz “não te falei!”. Esse tipo de comentário é foda!

Quem não tem um pouquinho de chatice?

Temos também os amigos que nunca foram amigos. Temos também os amigos que são tão amigos que passam a fazer parte da família. Ora, para encerrar esta conversa imagina se não existissem amigos das antigas, inconvenientes, na nossa vida, seria uma chatice total.

*Marcos Roberto Bueno Martinez (Professor Marcão) é historiador de Cotia, professor de história e poeta. Escreve mensalmente no Cotia Agora. Conheça mais do trabalho de Marcão:www.cotiamemoriaeeducacao.blogspot.com