Menos arroz e feijão, mais lanches e pizzas

Quem nunca deixou de comer arroz, feijão, salada e alguma carne e trocou por um lanche, pizza ou comidas rápidas – ou ainda, pediu esses mesmos alimentos para serem entregues em casa – levante a mão. Pois esse comportamento está ficando mais comum e já aparece até em pesquisas: uma delas, a POF – Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, divulgada em julho, indica essa tendência.

Entre os períodos 2008/2009 e 2017/2018, datas em que a pesquisa foi realizada, a redução é bem nítida. No caso do arroz, por exemplo, 82,7% das pessoas o consumiam na década passada. No último levantamento, 72,9%. O feijão segue a mesma linha, de 72,1%, o consumo caiu para 59,7%. As frutas eram consumidas por 45,4% antes, e agora, 37,4%. Por outro lado, sanduíches e pizzas ganharam terreno, com um aumento no consumo de 10,5% para 17%.

“Essa mudança do padrão alimentar se deve a inúmeros fatores. Um deles é vida corrida, as pessoas ficam muito pouco dentro de casa e, no tempo que ficam, pouco se dedicam a cozinhar. Isso pode remeter ao consumo maior de alimentos pré-prontos, ou fazer pedidos de lanches com a facilidade que temos hoje”, analisa Priscila Moreira, do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS (CRN-3).

Mas não é só isso. Moreira conta que a influência da informação divulgada em redes sociais sobre a alimentação tem se intensificado. “Vejo no consultório pessoas que não comem mais arroz e feijão e, ao perguntar o porquê, elas dizem que viram na internet que é melhor não comer. Essas falsas verdades atrapalham o consumo de alimentos saudáveis”.

E há outro fator que leva a uma alimentação menos saudável: o preço. “É o lado de quem não tem boas condições financeiras. Não é que não queiram comer, mas em alguns dias do mês, falta dinheiro para o arroz e feijão, e comidas processadas são mais baratas. ‘Até o dia 15, 17 do mês tem arroz e feijão e mais alguma coisa, depois disso, vamos nos virando como pode'”.

Essa alimentação não balanceada causa efeitos a longo prazo, ainda mais se for frequente: diabetes, hipertensão, AVC, infarto, obesidade costumam encabeçar a lista, além de alguns tipos de câncer, especialmente os do sistema digestivo, como boca, esôfago, estômago e intestino. “São sempre os mesmos alimentos, por isso enfatizamos tanto tentar não consumir com frequência alimentos hiperindustrializados. São aqueles cuja lista de ingredientes é quilométrica. Se a lista for muito extensa, cuidado, porque nem receita de bolo feito em casa precisa de tantos ingredientes”, avisa. É aí que a combinação arroz-feijão é especial. “Em termos de nutrientes, essa combinação se encaixa, se completa. O arroz é uma fonte de carboidratos e tem a presença de algumas proteínas, e o feijão é fonte de proteínas e que tem um pouco de carboidrato. Eles se completam”. E, para manter a saúde em dia, vale a boa e velha dica: procurar inserir, aos poucos, frutas, verduras, legumes, cereais integrais ou não, leite e derivados, e carnes magras no cardápio. “Se a pessoa não gosta de arroz integral, paciência, mas o que conseguir ingerir vai só ajudar”, completa.

Pandemia e alimentação

O coronavírus mudou completamente a vida do mundo. Muitas pessoas passaram a trabalhar de casa, e essa nova forma de trabalho pode se tornar rotina. Embora ainda não existam estudos que comprovem, o home office mostrou duas realidades distintas. “Observei, em alguns pacientes, uma melhora do padrão alimentar, de pessoas que passaram a fazer todas as refeições e de ter mais tempo para prepara-las. Mas em outros casos, há também quem precisa pensar no que a família vai comer, cuidar da casa, do almoço, da louça e do trabalho”, conta a nutricionista Priscila Moreira. E, além disso, há a ansiedade. “Tenho ouvido muitas pessoas ansiosas e, por conta da situação, descontam no alimento essa ansiedade. O alimento traz um conforto para essa ansiedade”.

Por Vanessa Zampronho – Gazeta de SP