Luiz Carlos de Oliveira e a sátira na poesia
Abordarei hoje o tema: sátira na poesia.
Sátira é uma técnica literária ou artística que ridiculariza um determinado tema (indivíduo, organização, Estado) geralmente como forma de intervenção política ou outra, com o objetivo de provocar ou evitar uma mudança, ou seja, busca ser uma crítica construtiva.
Mesmo porque, segundo Gilberto Martins, crítico literário da Cultura Editorial / Palavra é arte – Salvador – BA, “… Ao longo da história, a ação do homem passou, passa e continuará a passar pela poesia, a mais livre de todas as liberdades. Ao longo do tempo, a poesia jamais se deixou abater diante do obscurantismo, do terror e do silêncio impostos.”
E a poesia nunca se calará, porque suas asas galgam o imprevisível… Alguém para o beija-flor?
Assim persuadido, escrevi a sátira “UTOPIA” que integra o meu livro de poesias “Um pouco de mim, de ti, de nós…”, para questionar a idoneidade das promessas políticas ante a descoberta de petróleo nas profundezas oceânicas dentro dos nossos limites, e fiz sem metáforas, porque senti que a finalidade do poema o exigia.
Quero dizer, deixei meu coração falar livremente, porque sei que da mesma forma pulsam outros milhões de corações…
Para tanto, expressei-me com versos metrificados em redondilha maior (vogal tônica na sétima sílaba) e rimas exclusivamente em AL.
Por quê? Porque, tratando-se de uma sátira, a repetição em al, rimando sempre com pré-sal, ao contrário de ser uma rima pobre, como pode entender alguns, empresta exatamente a jocosidade necessária à expressão de descrença, de impotência, de desesperança, que não conseguimos disfarçar…
E por que sem metáforas? Para maior interação entre o objeto do poema, que é o petróleo, e quem de fato teria direito ao usufruto de suas riquezas: o trabalhador.
Eis o poema:
UTOPIA
Nós encontramos petróleo
Lá na camada pré-sal!
Comemorem as criancinhas,
Também o povo em geral,
Porque sairemos do abismo
Com esse encontro abissal.
O trabalhador, sem dúvida,
Terá aumento salarial;
O preço do combustível,
Decréscimo gradual,
Sem atrelar-se à escorchante
Tabela internacional
E a fome será expulsa
Para o espaço sideral.
A elite será honesta
Com o povo nacional.
Bem assim os que comandam
Qualquer multinacional.
Até a empresa americana
Adirá ao contratual!
E assim como na Amazônia,
Da floresta colossal,
Nenhum gringo investirá
Por vantagem abismal.
E embora essa descoberta
Represente o capital,
Nosso país vai crescer
Sem diferença brutal
Entre os que se digladiam
Pela escala social…
Espero que, no amanhã, numa voz uníssona com a de milhões de brasileiros, nosso país encontre o trilho da justiça e do respeito pelo trabalhador, e que o nosso petróleo não seja apenas um sonho, mas uma realidade!
Abraços. Até a próxima.
*Luiz Carlos de Oliveira é advogado em Cotia e também poeta, autor do livro “Um pouco de mim, de ti, de nós…”, escreve mensalmente no Cotia Agora.