Licença para uso de volume morto do Cantareira será cancelada

Autorização foi dada à Sabesp em maio de 2014, por causa da crise hídrica. Resolução da ANA e DAEE sairá nos próximos dias, segundo apurou o G1.

A Ana – Agência Nacional de Águas e o Daee – Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo decidiram cancelar a autorização dada à Sabesp para uso de duas cotas do volume morto do Sistema Cantareira. O G1 apurou que a resolução será publicada no Diário Oficial da União nos próximos dias e dará com mais detalhes sobre a decisão dos órgãos reguladores.

Desde maio de 2014, a Sabesp estava autorizada pela ANA e pelo DAEE a explorar parte da reserva técnica do manancial, para garantir o abastecimento da população na Grande São Paulo. Na época, ainda havia água no volume útil. Em julho, porém, o sistema passou a operar somente com o volume morto. Apenas em dezembro de 2015, o Cantareira deixou de ser dependente da reserva técnica.

O reservatório, que atende 5,7 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo, opera atualmente com 58% da capacidade, sem considerar o volume morto. Isoladamente, a represa Jaguari-Jacareí está com 23,4% e a Atibainha, com 57,2%. Tanto a Atibainha quanto a Jaguari-Jacareí tiveram o volume morto explorado na crise hídrica.

Para voltar a explorar a reserva técnica do Cantareira, a empresa deverá fazer um novo pedido aos órgãos reguladores. A Sabesp foi procurada pelo G1 para comentar a decisão dos órgãos regulares, mas até esta publicação a companhia de abastecimento não havia se manifestado sobre o assunto.

‘Crise resolvida’
Nesta segunda-feira (7), o governador Geraldo Alckmin afirmou que a “questão da água está resolvida”, referindo-se ao término da crise hídrica no estado de São Paulo. “A questão da água está resolvida, porque nós já chegamos a quase 60% do Cantareira e 40% do Alto Tietê. Isso é água para quatro ou cinco anos de seca”, afirmou o governador.

“Essa questão [da falta d’água] não tem mais risco, mesmo que haja seca. E teremos a partir do ano que vem uma superestrutura em São Paulo. O estado e a região metropolitana estarão bem preparados para as mudanças climáticas”, garantiu.

O governador argumentou que o estado enfrentou a maior seca da histórica, em 2014, e se orgulhou de não ter sido decretado um rodízio oficial. Apesar disso, a população enfrentou torneiras secas em todas as regiões da cidade de São Paulo. Na ocasião, o governo paulista justificou a falta d’água como redução de pressão para evitar perdas.

“A maior seca tinha sido em 1953. Em 2014 choveu a metade de 1953 e não teve rodízio. Operamos com engenharia e interligamos sete sistemas e no ano que vem chega um sistema novo em São Paulo que é o São Lourenço, mais 6,4 metros cúbicos por segundo de água”, citou a Parceria Público-Privada (PPP) São Lourenço. Um metro cúbico corresponde a 1 mil litros de água.

O futuro sistema, que fica pronto em 2017, vai permitir a captação de 4,7 mil litros por segundo de água, volume que atende 1,5 milhão de moradores dos municípios de Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Jandira, Santana de Parnaíba e Vargem Grande Paulista. Desse total, cerca de 1,1 milhão de pessoas são abastecidos pelo Cantareira.

O governador também falou sobre outra medida para poupar ainda mais água do Sistema Cantareira. “Talvez ainda no ano que vem teremos a ligação do Paraíba com o Cantareira, que também é outro reforço super importante, água nova que nunca foi utilizada da bacia do Paraíba do Sul”, ressaltou Alckmin.

Cronologia do volume morto
– 15/05/2014: bombas flutuantes para retirada da primeira reserva técnica do Cantareira são inauguradas
– 16/05/2014: 182,5 bilhões de litros de água são disponibilizados para abastecimento da Grande São Paulo. Mesmo assim, a sequência de quedas no nível das represas continua.
– 11/07/2014: volume útil do Cantareira acaba e o abastecimento de parte da Região Metropolitana de São Paulo atendida pelo Cantareira é feito somente com a primeira cota.
– 24/10/2014: Sabesp consegue autorização para usar uma segunda cota do volume morto, com 105 bilhões de litros.
– 24/02/2015: segunda cota do volume morto é recuperada, mas a Sabesp ainda depende da primeira cota do volume morto para garantir o abastecimento de 5,4 milhões de pessoas atendidos pelo Cantareira na Grande São Paulo.
– 30/12/2015: sistema consegue recuperar as duas cotas do volume morto e volta a operar apenas com o volume útil.

Limite de vazão
A Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) mantiveram a vazão de retirada máxima de 23 m³/s do Sistema Cantareira para abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo para março. O limite de captação é o mesmo autorizado pelos órgãos reguladores em fevereiro. Para a bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), os órgãos liberaram a retirada máxima de 3,5 m³/s no mês.

Redução de pressão
Desde o fim de dezembro, a companhia diminuiu, em média, sete horas diárias o período de redução de pressão na rede na capital paulista e em cidades da Grande São Paulo. A empresa disse que a prática é usual desde a década de 1990 para reduzir perdas por vazamentos, mas com a crise hídrica no estado a ação de racionamento oficial foi intensificada.

Por Isabela Leite – G1 – Foto: Vagner Campos