Família argentina que roda o mundo de carro acaba ficando isolada em Cotia devido ao vírus

“O segredo dos carros de até 1940 é saber andar, não forçar. Chegar nos 60, 70 km/h, que é o ritmo deles. Se não tentar passar disso, com um modelo pré-guerra você vai a qualquer lugar”, explica Leonardo Forestieri, da 455 Garage. É exatamente assim que Herman Zapp tem conduzido seu Graham-Paige 1928 desde 25 de janeiro de 2000, quando ele e a companheira Candelaria começaram a rodar o mundo. “Você tem que ir sem pressa, curtindo a viagem”, diz ele. Assim rodaram 400 mil quilômetros e conheceram 116 países.

Um deles é o Brasil, onde estão há um ano. Entraram pela Guiana Francesa, desceram pelo litoral, desviaram até a Chapada Diamantina, ficaram alguns dias no Rio de Janeiro durante o Carnaval e seguiram até São Paulo. Deveriam permanecer aqui por uma semana antes de partir rumo à Argentina para a festa de aniversário de Candelaria, em maio. Mas já estão há um mês. O problema foi ter chegado pouco depois do coronavírus. “Em toda viagem sempre resolvemos na hora o que fazer, onde comer, como fazer dinheiro e tantas outras adaptações. Agora temos o desafio do coronavírus. É uma sensação rara, porque eu sou o dono da minha vida, não o vírus. Mas agora tudo mudou”, pondera Herman.

O casal e três filhos estão hospedados no Rusty Barn, uma espécie de comunidade para antigomobilistas localizada em Cotia. Em um mesmo lugar há mecânicos, restauradores, tapeceiro e um lugar para armazenar clássicos que rodam pouco. Ali a família se aboletou até a pandemia arrefecer e permitir que os Zapp sigam para casa.

Mas Herman diz estar em um paraíso. Não só porque Forestieri e o pessoal do Rusty Barn estão dando um trato no Graham, que recebeu funilaria e pintura no para-lama dianteiro, revisão da parte elétrica e reparo nas duas rodas de estepe. Mas pelas amizades construídas em pouco tempo. “Só realizamos o sonho de rodar o mundo por causa das pessoas maravilhosas que encontramos”, reflete Herman.

A próxima viagem tem data? “Quando chegamos à Argentina, seguramente vamos tirar um tempo para descansar e ficar com a família. Mas seguramente faremos outra viagem, que acho que será muito diferente. Mas nunca fomos de planejar. Neste momento estamos viajando, não pensando no futuro”, avalia Herman. “E como você sabe, agora com o coronavírus não dá pra fazer planos”, conclui.

Por Rodrigo Mora – Mora nos Clássicos – Uol