Em sua estreia, Cláudio Magalhães relembra 30 anos de Rock in Rio

O FESTIVAL

Anos. E lá se foram 30 anos… Éramos ainda moleques e cabeludos, rebeldes e descompromissados. A ideia de tocar em nosso país bandas que jamais sonharíamos, pelo menos naquela época: Ozzy Osbourne, Queen, Iron Maiden, AC/DC, Yes, Go-Go´s, Rod Stewart, Nina Hagen, Scorpions entre tantas atrações que fizeram deste festival o maior de todos os tempos, salvo Woodstock, pela originalidade e proposta do evento.

Logo a imprensa brasileira começou a falar apenas do festival que movimentaria milhões e uma enxurrada de revistas começaram a lotar as bancas de jornais. A cada dia uma nova informação surgia, algumas alterações foram acontecendo, caso do Def Leppard que foi substituído pelo Whitesnake devido ao acidente do baterista Rick Allen. O empresário carioca Ricardo Medina teve o sonho de realizar este grande evento onde a atração principal tivesse foco em sua cidade natal e a Rede Globo resolveu abraçar esta “causa” e a nova cara do Brasil estava começando a ser moldada com a abertura política e o chamado Rock Brasil, que embalou os anos 80.

Algumas atrações foram questionadas exatamente por deixar gente forte de fora, no caso dos brasileiros, a banda RPM era uma das mais bem sucedidas da época, Raul seixas, também ficou de fora. Além da safra metálica paulistana que estava surgindo na época e que hoje estão nos palcos do Rock in Rio, caso do Korzus. Outro questionamento que na época foi feito, a ausência de músicos paulistanos, apenas Rita Lee foi chamada, em cima da hora para cobrir um vácuo no dia 16.

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Saímos de São Paulo rumo à “Cidade do Rock”, que na verdade logo se transformou num mar de lama devido às fortes chuvas de janeiro e o local não ter tido um trabalho adequado de terraplenagem.

De qualquer forma o acontecimento em si foi algo único, onde tínhamos o mundo inteiro ao nosso redor. Tudo foi novidade, além disso, respirávamos um ar de liberdade, pela ditadura que estava dando um adeus definitivo e era nítido na face de todos. O sol e a chuva que caia no Rio era um misto de ansiedade e alegria por um sonho. A imprensa mundial estava ali, as melhores bandas daquela época estavam ali e muitas coisas foram ocorrendo ao longo dos shows. A abertura da orquestra não empolgou, fez com que a impaciência aumentasse para podermos escutar os primeiros acordes e já era mais de duas horas da tarde quando a primeira atração pisou no palco: Ney Matogrosso foi o escolhido, quem sabe pelo seu passado no “Secos e Molhados”, mas para quem foi ver Iron Maiden, aguentar Pepeu Gomes e Baby Consuelo foi demais. A noite foi encerrada com a banda inglesa Queen.

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Seguiu-se outros dias com atrações mais leves e MPB, que foi a maior contestação do festival. Nomes como Gilberto Gil, Ivan Lins, Alceu Valença, Moraes Moreira e Elba Ramalho, estiveram na mira da imprensa especializada em rock por todo tempo. A parte internacional também teve gente que fugiu do rock tradicional, tipo Al Jarreau e James Taylor, mesmo com uma veia jazzística o guitarrista George Benson também foi questionado. Muitas atrações foram ao longo da escala se repetindo, o que não ocorre hoje em dia. A estrutura também foi algo mais simples do que a mega produção e palcos alternativos, afora as diversões eletrônicas e parque que hoje fazem deste festival a maior atração da terra em se tratando de músicas eletrônicas, pop, rock, heavy metal e MPB.

O LEGADO

Muito se falou e muitos outros shows foram realizados nestes 30 anos, a marca Rock in Rio tornou-se patente forte e exportou-se para Lisboa, Madrid e Las Vegas. A tradicional salada musical se manteve e nomes fortes passaram por lá: Sepultura, Billy Idol, Faith no More, Guns ´n` Roses, Metallica, A-Ha, Motorhead, System of a Down, Red Hot Chilli Peppers, Ghost DC, Elton John, Megadeth, Judas Priest, Inxs, Coldplay, Queens of the Stone Age, Maná, Engenheiros do Hawaii, Angra, Muse, Bruce Springsteen, Ira, Ultraje a Rigor, Katy Perry, Shakira, Beyonce, Rihanna, Ivete Sangalo entre tantas outras atrações. Há muitas críticas a respeito dos artistas brasileiros pela falta de estrutura nos palcos e pelo horário que as bandas tocaram. Rita Lee foi uma das artistas que soltaram o verbo.

2015

30 anos após a primeira edição, o Rio de Janeiro se prepara para a sétima edição e nomes como System of a Down, A-Ha, Katy Perry, Bruno Mars, Metallica, Taylor Swift, Linkin Park e No Doubt já estão confirmados. Uma das marcas do Rock in Rio mantém-se forte, seu slogan: “Eu Vou”, acompanhado do “Eu Fui” e “para um mundo melhor” soam atuais até os dias de hoje.

*Cláudio Alexandre Magalhães é escritor, poeta, músico e escreve sobre rock’n roll no Cotia Agora.