Crise no Brasil afeta empresa de Cotia, que reduz pela metade quadro de funcionários e aposta em franquias

Fábrica da Ornare em Cotia reduz quadro e empresa aposta em franquias

O empresário gaúcho Diego Barboza atua no setor moveleiro há 12 anos – os últimos nove em Cuiabá, a capital do Mato Grosso. Em uma das maiores cidades do Centro-Oeste brasileiro, ele enxergou uma demanda reprimida. Os clientes de alto padrão de lá, em sua maioria fazendeiros e grandes empresários do agronegócio, alegavam não terem muitas opções de produtos no varejo local. “Os clientes viajavam para São Paulo para comprar mobílias para suas casas”, diz Barboza. Ao se dar conta da oportunidade, ele prospectou negócios e enxergou na paulistana Ornare, uma das principais fabricantes de móveis premium sob medida no País, uma opção para empreender. Em março, abriu uma franquia da marca.

Não se arrepende. “Pelo atual ritmo das vendas, vamos recuperar o investimento em doze meses, a metade do tempo que esperávamos inicialmente”, diz. Parte do sucesso da loja é atribuída à flexibilidade nas negociações. A loja aceita como garantia de pagamento até sacas de grãos, como soja e milho. O produtor faz a compra dos móveis  e, quando negocia sua mercadoria, a loja recebe sua parte. “Aqui em Cuiabá, grãos são como moedas”, afirma.

Apesar de pouco usual, essa espécie de resgate do escambo reflete o empenho da Ornare, fundada pelo casal Murilo e Esther Schattan, em turbinar seu negócio em tempos de crise. Com três décadas de existência, a empresa resistiu a mergulhar no modelo de expansão por franquias. Por que demorou tanto? “Queríamos fazer uma boa escolha dos franqueados, que realmente entendessem o mercado em que atuam”, afirma Schattan.

As franquias mostraram ser mais uma necessidade do que somente opção para a Ornare. Nos últimos 12 meses, com o agravamento dos problemas econômicos no País, Schattan cortou na carne e reduziu os custos em 35%. Dos 700 funcionários que trabalhavam nas fábricas de Cotia, no ano passado, resta metade. A própria unidade industrial teve uma remodelação.

A área total da fábrica foi ampliada para que outra, também em Cotia, pudesse ser fechada. As lojas, porém, se multiplicaram. Com apoio de franqueados, em apenas um ano, a rede passou de modestas cinco lojas (quatro no Brasil e uma nos Estados Unidos) para 17, incluindo uma no México. Embora não revele o faturamento, as medidas devem representar um crescimento de 7% nas receitas totais da Ornare. “Queremos compensar a queda das vendas no País com unidades lá fora”, diz o empresário. Inicialmente, ele pretende priorizar a abertura de lojas na América Latina e ampliar a participação nos Estados Unidos. “O maior desafio da Ornare não é a internacionalização”, diz o consultor Marcus Rizzo, da Rizzo Franchise. “A empresa terá de mostrar aos franqueados que não quer apenas vender franquias, mas ajudar a fazer dinheiro em um cenário difícil.”

Da IstoÉ Dinheiro