Coopernova Cotia faz garimpo no lixo eletrônico, que oculta ouro e prata

O Brasil produz anualmente entre mil e 2.000 toneladas de lixo eletrônico. Sucata formada pelo descarte de CPUs, monitores, teclados, celulares, televisores, laptops, o chamado e-lixo cresce exponencialmente, já que a indústria substitui em ritmo frenético os modelos vigentes por outros, mais avançados.

Trata-se de problema ambiental grave, já que esse lixo contém quantidades não desprezíveis de substâncias tóxicas, como chumbo, mercúrio, cádmio, arsênico, cobalto e tantas outras, que podem provocar males neurológicos, perda do olfato, audição e visão, até o enfraquecimento ósseo. Jogar esse tipo de lixo nos aterros é contaminação certa dos lençóis freáticos e, por essa via, dos seres humanos e animais.

Presidente da Coopernova, cooperativa que reúne 32 catadores de material reciclável em Cotia, a baiana Marli dos Santos, 52, é uma pioneira na solução do problema. O que começou como uma simples cooperativa de reciclagem de latinhas de alumínio agora inclui atividade que atende pelo nome pomposo de “logística reversa”.

Trata-se da coleta e posterior desmontagem dos componentes eletrônicos, de modo a revendê-los separadamente. Assim o e-lixo, que agregado atinge o preço módico de R$ 0,25 o quilo, desmontado em suas partes constitutivas atinge valores 30 vezes maiores.

Isso acontece porque, além das substâncias tóxicas e dos metais pesados (um tubo de TV, daqueles antigos, pode conter até 4 kg de chumbo!), o lixo eletrônico constitui-se em rica fonte de metais nobres, como ouro, prata e paládio. Placas de circuito impresso, como as encontradas nos processadores e nas memórias, têm contatos de ouro -que pode ser recuperado. Trata-se de verdadeira atividade de mineração no lixo.

Depois de separadas, as plaquinhas são enviadas à Bélgica, onde a empresa Umicore detém a tecnologia de extração dos metais nobres da resina que os envolve.

cooper (2)Renilda Maria Diniz, paraibana, uma das cooperativadas da Coopernova, é tão hábil na desmontagem de uma CPU (ela faz isso em três minutos!) que recebeu o apelido de “Placa-Mãe”.

O treinamento e acompanhamento do trabalho dos recicladores é feito pelo Laboratório de Sustentabilidade da Escola Politécnica da USP, o Lassu, que tem a coordenação da engenheira e professora Tereza Cristina Carvalho.

A universidade percebeu o potencial da sucata eletrônica em 2008, quando realizou uma coleta de e-lixo entre seus 17 mil funcionários -recolheram-se, de uma só vez, cinco toneladas de resíduos.

“Logo vimos que o descarte podia ser muito valioso. E não só pela desmontagem. Um homem, por exemplo, jogou seu computador no lixo achando que estava quebrado. Quando fomos ver, era apenas um vírus.”

A universidade tem um setor de remanufatura, que remonta computadores com peças úteis tiradas da sucata. As máquinas são doadas a projetos sociais, tribos indígenas, entidades beneficentes.

Depois de ensinar catadores de latinhas a desmontar computadores, agora a USP se prepara para introduzi-los na arte da remanufatura.

Segundo a professora Tereza, em que pese o fato de serem pessoas com baixa escolaridade, “é impressionante a velocidade com que apreendem as técnicas, mesmo as mais desafiadoras”.

A presidente da Coopernova, Marli, considera que a lida com os computadores aumentou a autoestima dos catadores, além de aumentar também os rendimentos deles (15% de incremento).

“A tecnologia está ocupando todos os territórios da vida, mas vem junto com muitos problemas ambientais. É uma alegria que a gente possa ajudar a resolver isso”, diz.

Do Uol – Foto: Marlene Bergamo – Folhapress