Coluna espírita de Lucio Cândido Rosa: Transplante e doação de órgãos

Se você estivesse à beira da morte, se sentiria pronto para um processo de transplante de órgãos? Se sim, quais situações lhe provocaria mais receio?
O medo poderá vir a ser o maior responsável por suas dúvidas, acompanhado de desinformação.  Para nosso melhor entendimento, o transplante de órgãos, nada mais é do que uma das especialidades médicas, onde um órgão em perfeitas condições será transplantado no corpo de outra pessoa. Há registros muito antigos das práticas de transplante.

Na Índia, há mais de 2.000 anos, praticavam-se transplantes autógenos, isto é, com partes do corpo do próprio indivíduo.
Em Alexandria, no Egito, as lesões da face e outras partes do corpo eram corrigidas com transplantes de pele.
Essa questão, começou a ganhar importância nos tempos atuais, com o primeiro transplante de coração realizado pelo Dr. Cristian Barnad, na cidade do Cabo, na África do Sul, em outubro de 1967.

Surgiu daí a discussão dos aspectos: científico, ético e moral, envolvendo duas questões a serem enfrentadas:
1- Rejeição do organismo receptor em relação ao órgão transplantado;
2- Exigências de novas técnicas e drogas ante rejeição.
Somam-se a isso, os medos dos envolvidos e familiares, além de preconceitos de raça, cor, sexo e religião.
Hoje, porém, as preocupações da sociedade localizam-se nos aspectos éticos ao diagnóstico de morte.
É a morte encefálica que define o quadro irreversível de uma enfermidade, levando em pouco tempo à falência múltipla de órgãos do indivíduo.

Nesse caso, não há nenhuma esperança de retorno à vida.
E, a possibilidade de erro de diagnóstico é remotíssima, em face do progresso da ciência médica, que tem por meta, aplicar todos os meios ao seu alcance para dilatar a vida. Se analisarmos bem, verificaremos que há condições que simulam transplante de órgãos ou tecidos:

1- Gravidez – células estranhas ao organismo materno, transplantadas para o útero;
2- Ingestão de alimentos: são órgãos vegetais ou animais sendo transplantados para o estômago e absorvidos pela circulação sanguínea;
3- Transfusão de sangue;
4- Passe magnético. Transplante de energias vitais do médium ou da espiritualidade para o paciente ou receptor.
A ciência busca continuamente a melhoria da vida do indivíduo na Terra. E, os transplantes de órgãos, são um exemplo disso.

A Doutrina dos Espíritos, nos traz informações instrutivas sobre esse assunto, através de mensagens. Kardec nos alerta em A Gênesis, que “as descobertas da ciência glorificam Deus, em lugar de O rebaixar; elas não destroem senão o que os homens edificam sobre as ideias falsas que eles fizeram de Deus”.
Muitos familiares são contra a doação de órgãos porque têm medo de estar desrespeitando o corpo do ente que partiu, achando que ele poderá chegar à espiritualidade cego, se doar suas córneas.
Na verdade, a doação de órgãos é uma verdadeira bênção, porque concede a outra pessoa a oportunidade de continuar vivendo. Assim, é natural que ao morrer, venhamos a doar nossos órgãos a companheiros necessitados deles, para que possam continuar vivendo. Não há para o Espírito nenhum reflexo traumatizante.

Podemos entender que, a rejeição do órgão transplantado, aconteça pelas consequências da Lei de Causa e Efeito, onde o ser humano necessita resgatar de outras vidas, o mau uso do órgão ora rejeitado.
Para nós Espíritas, um corpo espiritual, na maioria das vezes, chegará em perfeitas condições na Espiritualidade independente do corpo físico estar lesionado.

Um exemplo para nós, é quando um órgão amputado pode nos dar a sensação de dor, embora ele não esteja lá.
Por tudo isso, compreendemos que não há necessidade de ter medo de doar nossos órgãos e os de alguém da família, o que contribuirá para que outras pessoas continuem vivendo.
Muitos consideram uma profanação o aproveitamento de órgãos do defunto, dominados por velhos conceitos.
Além de constituir um exercício de coragem, rompendo com arraigados preconceitos, a doação de órgãos é um abençoado ato de caridade.

Imaginemos nossa alegria na espiritualidade, ao recebermos a notícia de que nossa modesta dádiva – pequena parte de uma veste em desuso – proporcionou a alguém o mais precioso de todos os tesouros: o dom de dar continuidade a sua vida sem maiores sacrifícios.

E, não tenhamos dúvida, de que haverá um cuidado mais amplo dos benfeitores espirituais, evitando que nossa generosidade implique em qualquer constrangimento para nós, proporcionando-nos ainda, condições para que mais facilmente superemos os problemas de adaptação do além-túmulo.
Muita paz!

* Lucio Cândido Rosa escreve quinzenalmente sobre espiritismo e espiritualidade no Jornal Cotia Agora. Quer enviar sugestão de algum tema para que ele aborde? Envie para o email [email protected]