Coluna espírita de Lucio Cândido Rosa: Perdi um filho. E agora?

No roteiro da morte, seria natural que morressem nossos avós, tios e pais. Futuramente, morreríamos nós, e depois os nossos filhos.

Porém, nem sempre na vida tem sido assim, segundo os desígnios de Deus, ou as escolhas feitas por nós, antes de reencarnarmos, estabelecendo um novo roteiro em nossa trajetória de vida, que mesmo estando preparados, podem vir a nos causar grandes desequilíbrios.

“Perder” um pai, uma mãe, ou um parente próximo já é muito difícil. Agora, dá para imaginar, perder um filho?
Sabemos que é uma situação inimaginável.
No momento em que alguém estiver passando por essa amargurada perda, entendamos que, frases tidas como chavões, tais como:
– Olha, Deus sabe o que faz.
– Ele está bem agora.
– Ele está melhor do que nós.
– Como foi que tudo aconteceu? E outras, não ajudarão em nada.

São frases que de imediato, não trazem conforto algum, porque, é uma dor muito grande e só vai piorar mais a situação.
Mas, o que fazer então num momento desse? Simplesmente dar um abraço sincero, ou uma palavra de consolo, cheia de amor e carinho, que venha do fundo do coração.
Poderemos dizer: – Estou aqui. Se precisar de um ombro amigo para desabafar… E, se for preciso chorarmos juntos.
Se for um espírita que estiver passando por esse processo de perda, jamais deveremos falar: – Olha, você é espírita e tem que ser forte, porque sabe que a vida continua, e que ele está bem. Ledo engano, pois frases como citamos acima, no momento da dor, não vai lhe trazer consolo algum, pois é espírita, mas está passando por uma experiência humana.

E, outras frases que realmente não consolam em nada, são:
– Deus quis assim…
– Ele cumpriu sua missão.
Nestes casos, é melhor não falar nada.
Dizer para a pessoa que não deve chorar, porque vai perturbar o filho na espiritualidade, é desestruturá-la mais ainda.
Na realidade, é que nesse momento, essa dor precisa ser expurgada, jogada fora de qualquer jeito, não importando se é com palavras ou lágrimas.

Em verdade, é uma dor que precisa ser trabalhada, e cada um tem o seu tempo para digerir e aceitar a situação. Vai lembrar-se sempre do ocorrido e nunca vai se conformar totalmente.

Lucio fará palestra sobre o tema nesta quarta pelo Facebook

Há quatro fatores atenuantes que podemos citar:
1 – Crer na imortalidade da alma. Todas as religiões pregam que a morte física não é o fim de tudo. Que o espírito sobrevive à morte, e que um dia poderemos nos encontrar novamente, depois ter cumprindo o nosso tempo programado aqui na Terra, sem querer adiantar a nossa ida.
2 – Não se desesperar. Buscar ajuda, quando for necessário, evitando cair em depressão, que muitas vezes, quando profunda, nos leva à morte também. Nesse sentido, a religião e profissionais da saúde poderão auxiliar.
3 – Retomar sua vida, seu trabalho. Não estamos sozinhos. Temos uma família e demais familiares, que nos amparam se necessário.
Temos um marido ou uma esposa, outros filhos, que muitas vezes relegamos, e que poderão apresentar, mais tarde, sérios problemas de rejeição.
4 – A culpa. É um sentimento muito comum.
Se aquele que desencarnou ainda era criança, desesperamo-nos porque deveríamos estar mais atentos, menos negligentes. E isso acontece mesmo depois de esgotados todos os recursos.

A criança, muitas vezes, não pode ou não consegue expressar-se. Achamos que deveríamos ter adivinhado o que ocorria.
Se são adolescentes, jovens ou adultos, não importa. Sempre no fundo, no fundo de nossos corações, guardamos a culpa. Poderíamos ter feito mais, orientado mais, cuidado mais…. Não deveríamos ter dado a chave do carro…. Não deveríamos ter-lhe dado aquela moto fatídica…

Se a morte for rápida e não tivermos tempo para fazer alguma coisa, transferimos a nós a culpa do que aconteceu. Desejaríamos ter impedido esse desenlace.
Mas, não podemos esquecer que há dois pontos relevantes na vida humana: um é nascer e outro é morrer.
Há todo amparo espiritual para nascer, viver e morrer. Isso acontece o tempo todo. Existe uma força por trás de tudo isso, que rege o Universo.

Qual a justificativa para essa perda? Por que meu filho? Por que Deus fez isso comigo?
Experiências deveriam ser trabalhadas porque ele e seus pais necessitavam. Emoções precisavam ser revistas. Muitos vêm para unir os casais e logo se vão. Outros vêm para reconstruir seu corpo físico que foi violentado por acidente na encarnação passada. Vêm para reconciliar-se. Vêm por N motivos.

Entretanto, todos têm como finalidade a evolução moral, espiritual e até mesmo física, formando novas raças, como no Mundo de Regeneração, que ora adentramos.
A dor é muito grande. Até os Espíritos compreendem o vácuo que fica em nossas vidas, assim como quando viemos, deixamos lá um vazio. Reforçando o fato de que, ser espírita não é ser um “Super Herói”, e sofrermos do mesmo jeito, pois pelos nossos pensamentos, a ordem natural das coisas, seriamos nós os primeiros a encarar a morte.

Maria, mãe de Jesus, quando viu seu filho pregado na cruz, seu maior desejo era tirá-lo de lá.
Porém, nas profundezas de sua alma entendeu os desígnios de Deus dizendo: “Senhor, que se faça a tua vontade e não a minha”.
E, se estivermos capacitados para ter essa força, sigamos o exemplo de Maria.
Muita paz a todos!

* Lucio Cândido Rosa escreve quinzenalmente sobre espiritismo e espiritualidade no Jornal Cotia Agora. Quer enviar sugestão de algum tema para que ele aborde? Envie para o email [email protected]