Coluna de Lucio Cândido Rosa: O verdadeiro sentido da Páscoa

A palavra Páscoa, vem do hebraico “pessach” que significa “passar por cima”, ou “passar por alto”, e celebra a libertação dos judeus da escravidão do Egito.

Para analisarmos o sentido da Páscoa, temos que considerar o seguinte: – O calendário antigo não era idêntico ao atual.
Era baseado nas sensações do tempo, isto é, as estações do ano ou observando as fases da lua. Nosso calendário foi implantado em 1581 d.C., por determinação do Papa Gregório XIII.

A Páscoa cristã tem referência na tradição hebraica, que lembra a fuga dos judeus na primavera, por ser uma estação amena, livre de muito calor, e na lua cheia, na época em que ela fica mais tempo a iluminar a Terra. Tudo isso foi planejado para que o povo sofresse menos na fuga.

Com o advento do cristianismo, a igreja cristã, no Concilio de Nicéia em 325 d.C., estabeleceu um período circunscrito para a celebração da Páscoa. Os judeus e as primeiras comunidade cristãs, não adotavam a mesma data.
A Páscoa, era comemorada na primeira lua cheia da primavera no hemisfério norte, e no outono no hemisfério sul.
Como Jesus foi crucificado e “morreu” próximo à data da Páscoa, da passagem do anjo e da morte e da fuga dos judeus, fatos ocorridos na mesma semana (Semana Santa), os acontecimentos foram incorporados, uns aos outros.

Para os judeus, essa data representa a libertação do seu povo escravizado pelos egípcios, enquanto para os católicos, ela representa a “Ressurreição de Jesus”, após sua morte na cruz.

O mundo materialista, levou-nos a entender a Páscoa, como uma data festiva ligada a coelhos e ovos de chocolate.
Como entender isso?
Entre as civilizações mais antigas, ligadas ao politeísmo, era costume cultuar a deusa da fertilidade e do amor, na entrada da primavera. Ela gostava muito dos animais, e em especial, a lebre. Sua figura é apresentada com uma lebre e, na mão, um ovo, que representa a fertilidade, a reprodução e a preservação da espécie. Ostera era seu nome e dela vêm os símbolos tradicionais da festa pagã.

E o cordeiro?
Próximo à celebração da Pascoa ele ficava uma semana com a família, dentro da casa, provocando um sentimento de afeto por ele, parecendo ser até, um membro da família.
Mas, ao entardecer da sexta-feira, toda a família reunia-se e o animal era sacrificado. E tinha que ser assim, pois alimentar-se com o cordeiro da Páscoa, tinha que ser uma experiência de dor da perda de alguém amado.
Com a vinda de Jesus foi a mesma coisa. Conviveu com os discípulos com toda intensidade, e deixa-os amargurados com a sua morte.
Todos esses eventos misturaram-se e aparecem na cultura atual. Deixemos de lado o apelo comercial para a data e, procuremos seu verdadeiro sentido, analisando alguns pontos que merecem ser lembrados.

Ela é uma festa móvel para a igreja e a sociedade, e tem que ser no domingo. (Primeiro domingo após a lua cheia da primavera – hemisfério norte e do outono – hemisfério sul).
A Páscoa marca a “Ressurreição do Cristo e dá início ao ano litúrgico da igreja cristã. A partir dela, retroagindo temos a Semana Santa, Domingo de Ramos, Quaresma, carnaval….

E, cinquenta dias após, vem Corpus Christi e seguindo, o calendário próprio da igreja. Para o Espiritismo, a “Ressurreição” do Cristo vem comprovar a existência da alma após a morte.
Todos nós ressurgimos realmente no mundo espiritual, porque lá, não necessitamos do corpo físico.
Jesus apareceu a seus discípulos após a morte. E, manifestando-se em espírito comprovou o seu amor, fortalecendo a vontade deles na divulgação do Evangelho, provando assim que a morte não existe, que a vida continua além-túmulo, e que de lá, o Cristo prossegue auxiliando toda humanidade.

De acordo com a visão espírita, no que diz respeito à libertação conquistada pelo povo Judeu, podemos interpretá-la sob um ponto de vista abrangente, em ralação à renovação de ideias e de atitudes, possibilitando o surgimento de um novo ser humano através da Reforma Intima.

Renovação moral é, no Espiritismo, o ato pelo qual a criatura humana, ao tomar consciência de sua realidade espiritual interior e de suas consequências, adota a iniciativa de modificá-la sempre para melhor, para que suas atitudes passem a ter um efeito virtuoso de tal melhora.

Jesus veio libertar o homem da escravidão da matéria, da escravidão dos sentidos. Sua mensagem é libertadora porque vem trazer um amor incondicional, porque é um amor independente de.
Portanto, é um amor que liberta.
Ele recomenda: – Reúnam-se e celebrem a Páscoa, para celebrar o amor, para celebrar a minha dedicação, a imortalidade da alma, a vida espiritual.

Mas, infelizmente os séculos se passaram e nós transformamos a Páscoa em coelhos e ovinhos de chocolate, apagando completamente a dimensão espiritual e a experiência religiosa que ela nos propõe, que é uma experiência de Deus, uma experiência de solidão de amor e de sentir-se amado, não importando as circunstâncias.

Vale a pena comemorar a Páscoa buscando a conexão com esse Irmão Divino, sintonizando a presença dele em nossos corações, não apenas por ocasião desta data ou do natal, mas em todos os dias de nossa existência aqui na Terra.

Ele estará sempre atento ao nosso chamado guiando nossos passos. Então aproveitemos o momento para vivenciar esse sentimento de religiosidade, buscando todos os preceitos éticos, religiosos de caráter divino.

Muita paz!

* Lucio Cândido Rosa escreve quinzenalmente sobre espiritismo e espiritualidade no Jornal Cotia Agora. Quer enviar sugestão de algum tema para que ele aborde? Envie para o email [email protected]