Coluna de Adriana Biem: Histórias da Vida Real

Essa semana a minha coluna vai ser um pouco diferente. Vou contar algo que aconteceu comigo e com o meu marido no final de semana que vai servir como um desabafo e também uma reflexão.

Domingo de Páscoa, estávamos indo almoçar na casa da minha mãe e nos deparamos com uma das cenas mais horríveis que eu já vi. Uma cachorra literalmente se arrastando numa estradinha aqui perto de casa. Ela fazia um esforço surreal para se locomover com as duas patas da frente enquanto ia arrastando as traseiras. Paramos o carro desesperados e também com um pouco de medo, pois a cachorra era uma pitbull e não sabíamos como reagiria com estranhos. Eu nunca vou me esquecer do olhar dela pra gente, era pedido de socorro!! Parece que quando paramos o carro ela percebeu, parou também e ficou nos esperando, olhou pra gente e viu que teria ajuda. Colocamos nossa resgatada dentro do carro e fomos embora. Ela estava com pulgas que pareciam infinitas, diversos machucados pelo corpo, bernes, extremamente assustada e não conseguia ficar em pé.

Fizemos o tratamento intensivo que podíamos no momento. Banho, spray antipulgas, remédio para dor, unguento nos machucados, além de dar ração e água. Depois da consulta no veterinário adicionamos um anti-inflamatório e um outro remédio oral contra pulgas e carrapatos. No dia seguinte ela já estava bem mais forte, andando, embora ainda meio manca, e a cada dia ela está melhorando e nós nos apegando muito a ela, pois é um dos cachorros mais dóceis e carinhosos que já vi.

Em tão pouco tempo, faz festa quando chegamos, bate a patinha na nossa mão pedindo carinho, fica querendo lamber nosso rosto a todo momento. Infelizmente ela não se deu bem com a nossa “primogênita”, a Cabala, que é uma vira-lata que adotamos há 4 anos, logo não poderemos ficar com ela. Mas enquanto não acharmos alguém realmente capaz de cuidar dela, ela fica aqui, sem problemas, vamos dando nossos jeitos e seguimos.

Porque dentro das situações que realmente me indignam, está a violência contra os animais. Eu não posso julgar o que aconteceu com ela até aquele momento que a resgatamos, nunca saberemos, mas mesmo que ela tivesse um dono, ele não cuidava exatamente bem dela, o que dá para perceber por conta dos machucados antigos e das pulgas. Depois disso, provavelmente alguém a atropelou e fugiu deixando para trás um ser vivo que não poderia fazer nada para se ajudar ou se defender naquele momento. Alguém que vai conviver com uma cena que eu jamais conseguiria. Eu posso ter o trabalho que for, o gasto financeiro que for, mas nunca me arrependerei de fazer o que fiz e agora ela só sai de casa quando eu tiver certeza que alguém vai cuidar muito bem da pitbull mais doce que já vi.

Sei que eu fiz muito pouco perto do que muita gente faz pelos animais, mas o carinho dela fazendo festa para mim de manhã, o sentimento de gratidão que isso dá, é indescritível. Sei que ela será grata a nós para sempre, mas acima de tudo, eu serei grata a essa oportunidade de fazer o bem que o universo me deu, serei grata de ter conhecido um serzinho tão fofo que carinhosamente estamos chamando de “Coelha”.

Foi impossível depois disso não refletir sobre o significado da Páscoa na nossa cultura que é principalmente o renascimento. E o que deve renascer? Talvez os velhos conceitos e histórias sobre a bondade e ajuda ao próximo. Talvez eles devam deixar um pouco de serem somente conceitos. Talvez devêssemos repensar o significado de questões que carregamos há mais de 2000 anos e nem sequer sabemos os porquês. Às vezes sinto que é tudo tão “enfiado” dentro da gente que o real significado das coisas se perde com o tempo, se perde com o egoísmo, se perde com o orgulho.

Pra muita gente ainda pode parecer pequeno o que fizemos, mas para nós foi grande, muito grande e inesquecível. Pois além do que fizemos para ela, além do que fizemos para nós mesmos, ainda pudemos ver quantas pessoas que nem conhecíamos que nos ajudaram, que se comoveram e assim começaram uma verdadeira corrente do bem.

Eu poderia 1 milhão de vezes aqui ter falado em como o ser humano é cruel em fazer esse tipo de coisa com os animais e não estaria mentindo, mas eu ainda prefiro acreditar que tem mais gente boa do que má, e prefiro acreditar que são essas que sempre vão estar ao meu redor sempre.

*Adriana Biem é psicóloga – Atende em dois locais: Granja Viana (Rua Frei Caneca, 30 – sala 03 e Alphaville – Calçada das Hortênsias, 138 – Telefone: 9-9495-2141 – adrianabiempsicologa.com.br – Email: [email protected]