Câncer de intestino: entenda a doença e saiba como se prevenir

Por Dr. Samuel Okazaki (Clínico e Cirurgião do Aparelho digestivo)*

Setembro é o mês da prevenção do câncer de intestino. A doença que foi responsável pela precoce morte do ator Chadwick Boseman, famoso pelo seu papel no filme Pantera Negra, que mobilizou fãs no mundo inteiro, requer atenção e cuidados, pois a patologia é mais frequente do que a maioria das pessoas imagina e porque costuma se desenvolver de forma silenciosa. Além disto, a detecção e diagnóstico precoce aumenta muito as chances de cura.

O câncer de intestino abrange os tumores que se localizam no intestino grosso – chamado tecnicamente de cólon – no reto e no ânus. Por isso também é conhecido como câncer de cólon e reto ou colorretal.

Segundo dados do INCA, esse tipo de câncer é o segundo mais frequente entre homens e mulheres, e é consequência de ‘interações’ entre fatores genéticos e ambientais. Sua prevenção está principalmente na mudança de hábitos, alimentação saudável, e também na realização de exames preventivos periódicos.

Manifestação e sintomas

Uma grande porcentagem desse câncer se inicia como um pólipo benigno dentro do intestino. Quando o diagnóstico destes pólipos é realizado precocemente, pode-se impedir a evolução para um quadro mais preocupante. O problema é que, geralmente, essa lesão se desenvolve de forma assintomática sendo apenas descoberto, muitas vezes, quando já se transformou em um tumor maligno de tamanho considerável.

Os sintomas mais comuns do câncer colorretal são sangue nas fezes, alteração do hábito intestinal (diarreia e prisão de ventre alternados), dor abdominal, fraqueza e anemia, perda de peso sem causa aparente e alteração na forma das fezes. Tais sintomas podem estar ou não presentes, dependendo da localização do tumor no intestino, e é muito importante dizer que esses sintomas também são comuns em outras patologias gastrointestinais e por isso devem ser sempre avaliadas por um médico especialista.

Causas e fatores de risco

A idade avançada aumenta os riscos de câncer de intestino, por isso a partir dos 40 anos já é preciso redobrar a atenção. Sobrepeso, alimentação não saudável (pobre em frutas, vegetais e fibras e com excesso de carne vermelha e alimentos ultraprocessados), tabagismo e consumo de álcool também contribuem para o aumento do risco desta patologia.

A incidência de câncer de intestino também aumenta caso haja familiares próximos que tenham tido a doença e caso o próprio paciente tenha o diagnóstico de alguma doença inflamatória intestinal como a Retocolite ulcerativa crônica e a doença de Crohn.

Diagnóstico e tratamento

Qualquer alteração do hábito intestinal abrupta e persistente a partir dos 40 anos, além do aparecimento de algum dos sintomas comuns do câncer colorretal, deve ser considerado como alerta. Por isso, é importante procurar um médico especialista que saiba distinguir os sintomas de outras doenças parecidas, como hemorroidas, e ofereça a investigação adequada.

O diagnóstico é feito através do exame que se chama colonoscopia na qual é realizada a retirada de um pequeno fragmento (biópsia) do pólipo/lesão suspeito.

Quando diagnosticado é, na maioria dos casos, uma doença tratável e frequentemente curável. O tratamento inicial é a cirurgia. A cirurgia pode ser feita de forma convencional (aberta), laparoscópica e também robótica. Nela é retirado o segmento do intestino afetado além de gânglios linfáticos próximos. A quimioterapia e a radioterapia também podem ser utilizadas para tratamento e também na prevenção de recidiva do tumor.

Prevenção

Para evitar o câncer de intestino, além de procurar um especialista ao notar qualquer sintoma suspeito, é muito importante se manter no peso corporal adequado, praticar atividades físicas, evitar o consumo de bebida alcoólica, não fumar e não se expor ao tabagismo. Também é fundamental a realização periódica de exames de check-up preventivos, no caso, a colonoscopia. Ela deve ser realizada a partir dos 50 anos mesmo em pessoas assintomáticas e a partir dos 40 anos caso haja algum fator de risco presente.

Uma alimentação saudável e balanceada é um importantíssimo aliado na prevenção do câncer colorretal.

Carnes em excesso devem ser evitadas, principalmente as mais gordurosas e embutidos como presunto e salame. Até mesmo aqueles que são vendidos como opções “saudáveis”, como peito de peru, são ricos em substâncias conservantes como nitrito e nitrato, altamente cancerígenas.

Corantes também devem ser dispensados do cardápio sempre que possível. E não pense que apenas estão presentes em doces ultra coloridos como balas e pirulitos. Grande parte dos produtos ultraprocessados os contém, inclusive os populares tabletes e sachês de temperos prontos.

Portanto, dê preferência para comer em casa sempre que puder, com pratos saborizados com ervas e temperos naturais (a lista é infinita: cebola, alho, orégano, manjericão, páprica, cúrcuma…) e ricos em grãos, frutas e legumes.

Na dúvida, aposte mais nas feiras e menos nos supermercados. Dessa maneira, não só o risco de câncer de intestino é drasticamente reduzido, como de muitas outras enfermidades.

*O Dr. Samuel Okazaki ingressou no curso de medicina da Escola Paulista de Medicina – UNIFESP em 1999. Desde o início esteve engajado com atividades ligadas a cirurgia geral e do aparelho digestivo. Fez residência médica em Cirurgia Geral e Cirurgia do Aparelho Digestivo na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP da qual ainda é médico assistente da disciplina de Gastrocirurgia. É especializado também em cirurgia minimamente invasiva – Laparoscopia e em cirurgia Robótica através da Intuitive Surgical – da Vinci Surgical System. Atualmente, faz parte do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Vila Nova Star, Hospital São Luiz entre outros hospitais renomados, atuando não só na parte assistencial, mas também em grupos científicos de tais instituições. É também 1o tenente médico do Exército Brasileiro atuando como cirurgião geral do aparelho digestivo no Hospital Militar de Área de São Paulo.