Alcides, exemplo de amor e dedicação ao povo de Cotia

Por Beto Kodiak

No dia 9 de junho, um grande cidadão cotiano fez aniversário. Resolvi resgatar uma entrevista que fiz com ele em 2009 (atualizada) para o Cotia Todo Dia e homenagear uma grande pessoa querida em nossa cidade, agora no Cotia Agora.

Alcides Vaz Coelho bem que poderia ser conhecido como Doutor Alcides. E não é exagero. Apesar de não ser formado em medicina, ele já “salvou” muitas vidas. A história de Alcides começa em 1964, na ainda pequena e pouco povoada Caucaia do Alto, aos 14 anos.

O quarto filho de uma família de nove irmãos trabalhava com o pai na lavoura, plantando tomates, mas em um determinado momento em que o negócio não ia bem, resolveu procurar emprego.

Quem deu a primeira oportunidade foi o Sr. Josué Vieira França, dono da única farmácia no distrito. O adolescente Alcides começaria ali um longo aprendizado no setor farmacêutico, que anos depois lhe traria o reconhecimento pelos clientes e amigos.

O início foi difícil para quem até então, plantava tomates, mas com os ensinamentos do Senhor Josué, que tinha muita paciência em ensinar os “macetes” de uma farmácia, Alcides foi aprendendo o ofício de farmacêutico.

Vinha toda semana para Cotia, na farmácia do Dr. Waldemar Albano, pegar remédios que estavam em falta no estabelecimento de seu patrão. Em algumas dessas vindas foi convidado por Dr. Waldemar a trabalhar na Drogaria Santa Maria, que ficava onde hoje é o prédio do Bradesco.

Era uma nova oportunidade de aprendizado, pois trabalharia com o melhor médico da cidade e acabou aceitando o convite, vindo trabalhar no centro. Nessa época ele estudava o ginásio em Cotia e já estava habituado com os ares da cidade.

Veio para trabalhar e morar com Dr. Waldemar e sua esposa, Dona Afife, no casarão que servia de moradia, consultório e farmácia. Em 1980, o prédio seria vendido ao Bradesco e a farmácia mudou-se para um prédio em frente, de propriedade da família Fecchio, onde a farmácia se mantém até hoje, mas administrada por uma rede. Alcides só sairia da casa dos Albanos quando se casou em 1981.

Eles foram como pais para mim. Deram-me essa oportunidade e sou eternamente grato a eles. Aprendi muito com Dr. Waldemar, pois quando ele receitava algum medicamento para um paciente, ele sempre explicava como o remédio faria efeito e quais eram as propriedades e indicações.”

Alcides conta que aprendeu a receitar remédios e fazer manipulação de xaropes, anti gripais, pomada beladona, pomada de recris para berne, entre outros.

Na época, pela falta de médicos e hospitais na cidade, o farmacêutico exercia a função de médico e auxiliar de enfermagem, porque as pessoas passavam mal e recorriam à farmácia, só que em alguns casos não era possível resolver o problema da pessoa. Lembro-me de um rapaz que veio doente nos procurar, mas o Doutor disse que o caso dele era grave e sugeriu que fosse levado imediatamente para São Paulo”.

Trabalhar em farmácia era um emprego com estabilidade. Se você aprendesse o serviço direito, ficava a vida inteira no emprego. Era pura confiança do patrão com o empregado”, relata Alcides.

Ele não se formou em farmácia, mas na época existia o “farmacêutico provisionado” que era uma função reconhecida pela lei federal 3820. Era um título para quem não tinha faculdade, mas que exercia a função. Alcides exerceu a função de Prático em Farmácia e gerente por muitos anos.

Após a morte dos “pais adotivos”, a farmácia passou a ser dirigida pelo filho do casal, Waldemar Albano Junior, que para Alcides, é um verdadeiro irmão.

É grande o número de pessoas que foram clientes da farmácia. Alguns moradores antigos não compravam em hipótese alguma em outras farmácias, principalmente em redes. O atendimento sempre foi mais humano quando se conhecia o farmacêutico. Nas redes de farmácias, é algo meio robótico, padronizado. E essa ainda é a razão das pequenas farmácias sobreviverem pelo Brasil, diante do aumento considerável das grandes redes”, disse Alcides na época da entrevista.

Casos Curiosos

Alcides conta duas passagens de sua vida na farmácia. A primeira história é de um rapaz que tinha um grave problema de saúde e ele tinha que ir à casa do paciente, aplicar injeções, dia sim, dia não. Em um determinado dia, Alcides entrou na casa e se deparou com um caixão no meio da sala e algumas pessoas em volta. Disfarçadamente, foi conferir quem era o “defunto” e o susto foi grande ao perceber que era o paciente em que ele teria que aplicar uma injeção. O ainda jovem Alcides, de vinte e poucos anos, disfarçou e saiu de fininho da casa, assustado.

Outro caso curioso foi o de uma mãe que veio com a receita médica comprar uma vitamina para o filho de dois meses. Na receita, o médico colocou o nome do medicamento Gardenal. Alcides, com sua experiência, questionou a mulher sobre o problema da criança. A mãe disse que o filho estava precisando tomar essas vitaminas. Ao contar para ela que o médico havia confundido o nome da vitamina Gaduol com Gardenal, e explicar que o remédio receitado era para tratamento de epilepsia, a mulher tomou um susto.

Com calma, recomendou que a mulher voltasse ao médico e explicasse o erro: “Se a criança por engano tomasse esse remédio, fico imaginando o mal que poderia ter causado a ela”, conta Alcides.

Ainda nos dias que trabalhei, as pessoas ficavam em dúvida sobre uma receita médica e perguntavam para mim sobre o remédio, se era bom, se ia resolver o problema.”

Cotia Antiga

Tenho saudades da Cotia dos anos 60 e 70. Da época dos parques de diversão que visitavam a cidade. Dos carnavais de rua e do antigo ginásio de esportes, o “suvacão. Lembro-me também do cinema do Jubran. Eu e alguns amigos cabulávamos aulas e íamos correndo assistir aos filmes que eram exibidos. Bons tempos”, suspira com ar de saudades.

alcides e lourdesHoje

Alcides se aposentou na Drogaria Santa Maria depois de exatos 48 anos de trabalho. Com essa profissão, conseguiu formar os dois filhos, Thiago e Lucas, que são formados em farmácia e exercem a profissão.

Alcides é casado há 35 anos com Dona Maria de Lourdes (foto ao lado) e tem mais uma filha, Raquel e também é avô.

Em 2009, quando entrevistei Alcides ele disse: “Quero descansar e curtir minha família”, hoje com a certeza do dever cumprido nesses mais de quarenta anos de amor à profissão e de prestação de serviços ao povo cotiano, ele descansa em sua casa na região central de Cotia.

Imagens publicadas em 2009, contando um pouco da história de Alcides na farmácia:

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Alcides e o filho Lucas ainda em 2009.
Alcides e o filho Lucas ainda em 2009.

 

 

 

 

Um comentário em “Alcides, exemplo de amor e dedicação ao povo de Cotia

  • 09/06/2015 em 23:37
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    Muito bom ver essa reportagem com o Alcides, há muito tempo não o via!! Saudades dos bons tempos!!

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